Francisco Barreto cumpre previsão do filho de dois anos e é ouro no cavalo com alças
É a primeira medalha individual do atleta, que já subiu três vezes ao pódio por equipes em Jogos Pan-Americanos. Nas argolas, Zanetti falha e fica com a prata.
Barreto durante a prova do cavalo com alças: série segura (Foto: Ricardo Bufolin/ CBG)
As três medalhas por equipes que conquistou em Guadalajara 2011, Toronto 2015 e Lima 2019 não tinham satisfeito o sonho de Francisco Barreto de subir a um pódio individual em Jogos Pan-Americanos. Classificado para as finais do cavalo com alças e da barra fixa, o ginasta ouviu um aviso do filho, também chamado Francisco, de dois anos e meio. "O papai vai ganhar duas medalhas", disse o pequeno. Ao menos uma ele já acertou.
Somando 13.533 no cavalo com alças nesta terça-feira (30), nota ainda inferior aos 13.950 que o deixaram em quinto lugar na classificatória do último domingo (29), Chico Barreto conquistou a primeira medalha de ouro do Brasil no aparelho. Antes dele, Mosiah Rodrigues tinha faturado o bronze na edição de Santo Domingo, em 2003. Além de fazer história para a modalidade no país, o desejo do ginasta é ser uma referência para o filho.
"A gente sabe que o cavalo é complicado, qualquer detalhe pode escorregar a mão e ter a queda, mas venho treinando muito. É um aparelho que eu treino todos os dias e a série que apresentei é segura"
Francisco Barreto, ouro no cavalo com alças
"Quando ele nasceu, eu senti vontade de dar mais orgulho, não só para o Brasil, mas dele ter um pai que foi campeão. É um pouco de pressão. Ontem ele falou para mim 'o papai vai ganhar duas medalhas'. Eu fico orgulhoso de poder contar com essa energia", contou Chico, ainda emocionado com a conquista e depois de conversar com a esposa, Carolina, e com o pequeno Francisco por telefone. "Minha esposa estava chorando como uma boba e ele, sem entender, começou a ficar bravo com ela. Ele estava torcendo muito e gritando 'Força, papai'", completou.
Campeão no aparelho também nos Jogos Sul-Americanos de Cochabamba, no ano passado, Chico encontrou rivais conhecidos em Lima e sabia que tinha chances. "A gente sabe que o cavalo é complicado, qualquer detalhe pode escorregar a mão e ter a queda, mas venho treinando muito. É um aparelho que eu treino todos os dias e a série que apresentei é segura. Eu tinha uma mais difícil para realizar, mas os treinadores optaram pela mais segura", comentou, ainda não totalmente satisfeito com o desempenho. "Eu saí da prova sabendo que não tinha feito o melhor. Ficou o gostinho de não ter completado como eu vinha treinando", admitiu.
As falhas no cavalo com alças têm sido um ponto de alerta para a seleção masculina. Na disputa por equipes, foi o aparelho em que os brasileiros somaram a menor nota, de 38.750. Nas barras paralelas e no salto, por exemplo, a somatória foi de 43.150. "É um aparelho que precisamos melhorar. Aqui não é um nível mundial. No primeiro dia tivemos falhas, mas a equipe está ciente de que precisa voltar para casa e treinar mais esse aparelho. Graças a Deus venho tendo resultados em cima dele", afirmou. A prata ficou com o norte-americano Robert Neff (13.466) e o bronze, com o colombiano Carlos Alberto Calvo (13.233).
A três meses de completar 30 anos, Chico acredita que a sequência de medalhas da ginástica artística em Lima é reflexo de uma evolução alcançada nos últimos anos. "A ginástica vem evoluindo na América. A gente sabe que precisa treinar mais para o nível mundial, mas há alguns anos a ginástica brasileira tinha dificuldades para atingir tantos resultados como estamos tendo neste momento", ressaltou.
Além do ouro por equipes no masculino e do bronze no feminino, os ginastas já conquistaram outras cinco medalhas individuais no Pan de Lima: Flávia Saraiva foi bronze no individual geral feminino, enquanto Caio Souza e Arthur Nory estrelaram uma dobradinha inédita no geral masculino. Nesta terça, além do ouro de Francisco Barreto no cavalo, Arthur Zanetti levou a prata nas argolas.
"Um dever foi cumprido, que era o da equipe, mas o dever pessoal não foi. Quando não cumpro o objetivo, não saio satisfeito e nem tenho motivo para ficar. Agora é trabalhar, tem o Mundial que vale vaga olímpica"
Arthur Zanetti, prata nas argolas
Prata amarga
O segundo lugar no pódio, contudo, não agradou o campeão olímpico e mundial das argolas. "Um dever foi cumprido, que era o da equipe, mas o dever pessoal não foi. Quando não cumpro o objetivo, não saio satisfeito e nem tenho motivo para ficar satisfeito. Agora é trabalhar, tem o Mundial que vale vaga olímpica", desabafou Zanetti, que sentiu dor no ombro direito durante a série devido a uma inflamação.
"A primeira parte da série foi muito boa. Foi chegando no final e no Cristo é onde mais sinto dor. Hoje acabei sentindo um pouquinho mais do que na classificatória. Quando fiz o giro, o pé acabou entrando um pouco e consegui consertar, mas faltou um pouco de força. Não consegui voltar o giro e deu uma 'carpada'. Foi ali que cometi o erro da série", explicou, bastante desapontado.
A medalha no Peru é a sexta que Zanetti conquista em edições dos Jogos Pan-Americanos. Em Guadalajara 2011, foi ouro por equipes e também prata nas argolas. Já em Toronto, a equipe ficou com a prata, enquanto o brasileiro foi o campeão do aparelho. Desta vez, Zanetti repete os resultados de 2011.
"Ele já passou por um Mundial em que nem pegou final. Um Mundial depois, foi ouro. Atleta já está acostumado a perder e a ganhar. Esta é a primeira vez que vejo o Arthur falhar em um giro. Isso vai passar, todo mundo tem um tropeço na vida", disse o técnico Marcos Goto. "Ele está no pódio há 12 anos. Continua entre os três melhores do mundo e isso não é para qualquer um", acrescentou.
O ouro das argolas ficou com o mexicano Fabian de Luna (14.500), e o bronze, com o argentino Federico Molinari (14.066). Caio Souza também disputou a final das argolas e, apesar de ter somado a mesma nota do medalhista de bronze, terminou em quarto lugar no critério de desempate. O Brasil ainda teve Arthur Nory e Arthur Zanetti na final do solo. Eles terminaram em quarto (13.966) e em sétimo lugar (13.733), respectivamente.
"Hoje fiquei um pouco mais nervosa. É minha primeira final individual em um Pan. A série foi um pouco mais suja, mas estou feliz por ter conseguido fazer nos dois dias a minha série nova"
Lorrane Oliveira, quarta colocada nas barras assimétricas
Feminino
Se o cavalo com alças é o aparelho mais complicado entre os homens, as barras assimétricas costumam dar dor de cabeça para as mulheres. No último sábado (27), foi ali que a equipe brasileira teve a menor nota, somando 40.100 na classificatória. Ainda assim, Lorrane Oliveira e Carolyne Pedro avançaram para a final. Nesta terça-feira, terminaram em quarto e em sétimo lugar, respectivamente.
"Hoje fiquei um pouco mais nervosa. É minha primeira final individual em um Pan. A série foi um pouco mais suja, mas estou feliz por ter conseguido fazer nos dois dias a minha série nova. Agora é chegar melhor no Mundial", afirmou Lorrane, que somou 13.833 pontos.
A atleta trocou de série depois do Campeonato Brasileiro de junho, para ter uma maior nota de dificuldade, e apresentou a nova em Lima pela primeira vez. Nos demais aparelhos, contudo, foi poupada. "Eu estava treinando todos os aparelhos, mas senti um incômodo no pé. Eles optaram por me poupar para o Mundial. Agora é voltar para o Brasil, voltar a treinar tudo e competir os quatro no Mundial", apontou.
Estreante em Jogos Pan-Americanos, Carolyne sentiu o peso da competição, mas comemorou a vaga na final. "É minha primeira vez em Jogos Pan-Americanos e ainda consegui pegar uma final. Fiquei muito nervosa. Minha série foi um pouco mais suja do que na classificatória, mas consegui salvar e fui até o fim", disse a ginasta, que saiu com 12.766. O ouro e a prata ficaram com as norte-americanas Riley Mc Cusker (14.533) e Leanne Wong (14.300), enquanto a canadense Ann Elsabeth Black levou o bronze (14.000).
Nesta quarta-feira (31), último dia da ginástica artística em Lima, o Brasil ainda disputa a final da trave, com Flávia Saraiva, do salto masculino, com Luís Porto, do solo feminino, com Flavinha e Thaís Fidélis, das paralelas, com Nory e Caio Souza, e da barra fixa, com Nory e Chico Barreto.
Investimento
Dos 10 atletas brasileiros da ginástica artística que estão em Lima, nove são contemplados pelo Bolsa Atleta, num investimento de R$ 728,7 mil ao ano. Atualmente, 71 atletas da modalidade são apoiados pelo programa, com um investimento anual de R$ 1,9 milhão.
Programação
31.07
15h – Final por aparelho – trave (feminino)
15h – Final por aparelho – salto (masculino)
16h20 – Final por aparelho – solo (feminino)
16h20 – Final por aparelho – paralelas (masculino)
17h10 – Final por aparelho – barra fixa (masculino)
Jogos Pan-Americanos (Imagem: Divulgação)