Aracaju (SE), 02 de novembro de 2024
POR: Fátima Almeida airam22_fafa@hotmail.com
Fonte: Fátima Almeida
Pub.: 27 de setembro de 2015

A escola :: Por Fátima Almeida

Fátima Almeida  airam22_fafa@hotmail.com

A escola - Imagens Google/formatao/byfafah

A escola - Imagens Google/formatao/byfafah

Como é fácil estudar nos dias de hoje! Salas arrumadas, material escolar atraente, livros estimulantes, professores em cada turma, sem contar com as aulas de Lingua Estrangeira, já no início do Ensino Fundamental e tantos atrativos mais.

Em 1960, quando aportei numa escola pela primeira vez tudo era bem diferente.

A escola inteira se resumia a uma sala com carteiras duplas, que se espremiam num espaço tão pequeno, que mal se podia circular entre elas. Alunas de todas as séries disputavam a atenção da única professora. Não recordo se havia o famoso quadro-negro na parede, lembro apenas da pequena lousa. Por ser a menorzinha de todas, ganhei uma carteira individual em um cantinho da sala. Um grande privilégio!

Naquela época só era permitida a matrícula de crianças a partir dos sete anos e eu ainda completaria os seis no mês de agosto seguinte, mas eu havia decidido estudar e quando resolvia fazer alguma coisa, sempre acabava conseguindo. Nesse caso, tinha a meu favor o fato de que eu já estava alfabetizada.

Primeiro dia de aula. Feliz e decidida, segui para a Escola Santa Rita devidamente uniformizada: blusa branca, saia de pregas azul marinho, meias brancas e sapato Vulcabrás preto. Infelizmente nenhum registro fotográfico foi feito, embora na época tivéssemos uma Kapsa Verde da Kodak, que ganhei ao nascer, por isso, fiz questão de fotografar o primeiro dia que meu filho foi à escola. Considero um momento importante!

Fui recebida com carinho pela professora Idalina e com curiosidade pelas demais alunas, que se perguntavam o que aquela pirralha fazia ali.

Hora da lição. Na mesa, a palmatória nos lembrava que errar a leitura ou a tabuada poderia ser “doloroso”, mesmo porque, a lei era seca, um bolo na escola era duplicado em casa. Nunca experimentei a dita cuja. Enfim chegou a minha vez de mostrar o que sabia. Como timidez nessa época era uma palavra que ainda não constava do meu dicionário, apresentei meu ABC Ilustrado e fiz questão de ler inteirinho, até a última página, sem dar ouvidos aos apelos da mestra, que em vão tentava me fazer parar. Ao final da leitura, respirei aliviada. Ufa! Tinha conseguido!

No dia seguinte, para surpresa de todos, apareci com a Cartilha Sarita e então fui “intimada” a ler apenas um texto por vez. Mesmo a contragosto, concordei, mas em poucos dias, já não me bastava ler somente. Queria os famosos e temidos “livros de cor”. Polêmica! Segundo os “especialistas”, nessa idade uma criança não tinha condições de memorizar textos maiores e mais complexos. Mas, eu queria! E não costumava desistir fácil. Meus pais então providenciaram vir de Alagoinhas, a coleção de Olga Pereira Mettig para o primeiro ano primário. Figuras? Só na capa e alguns poucos esboços ilustravam lições que deveríamos “decorar” sem esquecer uma vírgula. Dizem que quem decora esquece, mas até hoje lembro o que aprendi.

A partir do segundo ano, passei a auxiliar a professora, que me confiava as lições do ABC, Cartilha e Tabuada dos demais alunos.  Ali nasceu a Professora em que anos depois me formei e esse desejo de compartilhar conhecimento que cultivo até hoje.

Além de ler, escrever e fazer contas, na escola aprendíamos a bordar. Ponto de Cruz era o grande desafio! Também aprendíamos a declamar poesias e nessa época, Olavo Bilac e Casimiro de Abreu eram os meus preferidos.

Tínhamos aulas de religião e como a única que todos por lá conheciam era a Católica, fazíamos catequese, apresentações do mês de Maria e nos preparávamos para a Primeira Comunhão. Os eventos religiosos eram também organizados pela escola. Como esquecer aquela “coroação” de Nossa Senhora Rainha da Glória? Fui designada para pôr a coroa na imagem no final da missa. Era noite. A igreja iluminada por velas e “candeeiros”. No cume do altar em forma de pirâmide estava eu, uma pequenina de seis anos, trajando um branco vestido de organdi, ajoelhada, segurando a coroa com as duas mãos.  Enquanto ouvia o cântico final, o sono me venceu. Nesse momento ecoou a súplica de uma mãe angustiada: “Maria Santíssima, segura a minha filha!” E Ela atendeu ao pedido. Em meio ao cochilo, quando inclinei para frente, encontrei a cabeça da imagem onde coloquei a coroa e me segurei. Despertei assustada. Papai e mamãe correram para me tirar de lá. Foi a primeira e última vez que coroei a imagem e sei que quem me salvou foi Maria de Nazaré. A igreja vibrou, gritando: milagre!  Milagre? Acho que não. A Mãe de Jesus atendeu aos apelos do coração de outra mãe, a minha. Foi apenas uma questão de fé.

Nos dias de missa, fazíamos jejum para receber a comunhão. Por volta das oito horas saíamos da igreja direto para a casa da professora. Lá nos esperava um lauto café da manhã recheado com bolos de diversos sabores e um delicioso café com leite. Era um momento tão especial, que a minha memória gustativa achou por bem mover para a “biblioteca do cérebro”. Até hoje, sinto aquele sabor!

A outra escola era destinada apenas aos alunos do sexo masculino. Chamava-se Escola São José e a professora Carmita era quem a administrava.

As professoras também residiam com suas famílias no mesmo prédio onde funcionavam as escolas. Apenas uma sala do imóvel era destinada às aulas.

Ao final da quarta série, tínhamos a chance de escolher entre fazer o Exame de Admissão e cursar a quinta série primária. O temido Exame consistia em decorarmos um livro que continha todas as matérias do Curso Primário. No dia da prova, nos reuníamos na Escola São José, cujas instalações eram mais amplas. Os alunos inscritos eram submetidos a um ditado seguido de uma arguição, cujas questões eram escolhidas dentre todos os assuntos do citado livro por cada membro da Banca Examinadora, composta de um Inspetor e alguns professores enviados pela Secretaria de Educação do Estado.

Consegui aprovação. Mudamos para Estância e eu fui matriculada no Colégio Sagrado Coração de Jesus. Depois que mamãe fez a sua grande viagem, a família, já com outra formação, retornou a Ventura e para que eu não interrompesse os estudos, fui morar em Alagoinhas, com meus tios e primas e de onde saí, já com o Certificado do Magistério, concluído no Colégio São Francisco.

As aulas iniciavam em Março, tínhamos férias de inverno da véspera de São João ao início do mês de agosto e no dia 15 de novembro, quem estudasse direitinho e conseguisse alcançar a média estaria dispensado da prova final, ou seja, de férias. O mais curioso de tudo isso é que, com muito menos tempo em sala de aula tínhamos mais conteúdo, mais conhecimento, mais educação talvez porque existisse mais respeito, mas isso é assunto para outro capítulo!

 

Fátima Almeida  airam22_fafa@hotmail.com 01/06/2015

 

Notas:

Livros de cor = Assim eram chamados os livros de História, Geografia, Ciências e Gramática, cujas lições deveriam ser memorizadas.

Decorar é sinônimo de: memorizar, gravar, estudar, fixar.

Biblioteca do cérebro – como também é chamada a memória de longo prazo. Como uma biblioteca tradicional, a informação na memória de longo prazo é classificada, arquivada e indexada de diversas formas.

Lousa - A ardósia ou lousa é um quadrado de madeira que protege a fina placa de xisto retangular de 20 a 30 cm de comprimento por 15 cm de largura. Só depois que os alunos sabiam escrever bem lhes era permitido escrever com tinta e pena de aço.

Fonte: Google


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