Aracaju (SE), 02 de novembro de 2024
POR: Fátima Almeida airam22_fafa@hotmail.com
Fonte: Fátima Almeida
Pub.: 25 de outubro de 2015

O ARMAZÉM DE PAPAI – O Segundo Vértice do Triângulo Comercial de Ventura :: Por Fátima Almeida

Fátima Almeida  airam22_fafa@hotmail.com

O ARMAZM DE PAPAI ? O Segundo Vrtice do Tringulo Comercial de Ventura  ::  Por Ftima Almeida - Foto: imagem google/formatao by/Fafah

O ARMAZM DE PAPAI ? O Segundo Vrtice do Tringulo Comercial de Ventura :: Por Ftima Almeida - Foto: imagem google/formatao by/Fafah

Para algumas pessoas, a ida ao Supermercado tornou-se um programa familiar, especialmente se esse estabelecimento estiver localizado em um Shopping Center. A variedade de produtos e ofertas, concentrada em um só lugar, facilita o trabalho de quem tem pouco tempo para as compras. É tudo muito moderno, atraente, bem diferente do que já foi um dia, especialmente em certo lugarzinho no meio do nada.

Como já comentei anteriormente, o Ventura da minha infância contava com apenas três estabelecimentos comerciais dispostos em um triângulo. Na casa grande a venda de vovô, que também funcionava como farmácia, em frente, o nosso armazém de secos e molhados e fechando o triângulo, no térreo do sobrado, meu tio comercializava alimentos e grãos.

Como esquecer? As lembranças continuam bem vivas. Mamãe atendendo na parte destinada a tecidos e armarinho e papai se desdobrando com o restante.

Nessa época não existiam embalagens plásticas. O feijão, o arroz, o café em grãos e a farinha, no início, eram comercializados por litro, assim como o sal grosso. Sal refinado, só apareceu algum tempo depois, e era pesado e embrulhado em papel pardo, assim como o açúcar cristal. Quando precisávamos de açúcar refinado, processávamos em casa.

Por lá não se conhecia caixa registradora e a balança era de prato duplo. De um lado eram colocados os pesos desejados e do outro, os produtos a serem pesados. Quando o Fiel da Balança atingia a marca central divisória, o processo estava concluído. O ponteiro que indicava o ponto de equilíbrio virou sinônimo de confiabilidade e mediação sensata. Os pratos da nossa balança eram de cobre e papai os limpava sempre com vinagre e sal, assim como os pesos.

Embaixo do balcão havia duas caixas de madeira. Uma era revestida com cimento onde era armazenado o sal grosso – nossa geladeira. Para conseguirmos um bom refresco gelado mergulhávamos a garrafa no sal. Depois de algum tempo estava prontinho, na temperatura ideal.

A variedade de bebidas “exóticas” era grande: gengibre, cascas de limão, jenipapo, jurubeba e uma infinidade de “cascas-de-frutas” “cascas-de-pau” e “raízes.” Vez por outra, alguém chegava ao balcão e pedia uma dose de milome, ou de outras tantas infusões que eram oferecidas. Metade eles derramavam. “Essa é pro santo”, afirmavam. Segundo a crendice popular ou o primeiro gole era do santo ou a bebida faria mal.

As prateleiras do lado oposto eram reservadas aos tecidos e artigos de armarinho. Lá se encontrava de tudo. Do tecido para o enxoval do bebê até a mortalha e os apetrechos que enfeitavam a urna mortuária, o popular caixão-de-defunto. Essa era a parte que eu menos gostava. Eram tecidos pretos e roxos. Lumière era o preferido para as mortalhas que eram democraticamente usadas por todos. Não esqueço os adereços. Eram enfeites de papelão revestidos com papel laminado nos formatos de estrela, palma, anjo, crucifixo e as tiras para serem coladas ao longo do caixão e quanto mais posses o “viajante” tinha, mais enfeitado era. O forro externo variava de acordo com o sexo e idade do interessado. Para homens era preto e os adereços eram mais simples. Para as mulheres “não virgens”, o roxo era ideal e o branco se reservava às crianças e às “puras”. Eu tinha horror. Por isso, esse material ficava de certa forma, oculto. Continuo abominando esses funerais sinistros. Por isso já recomendei que o meu deverá ser sem velas, sem coroas, sem choro e com muita música alegre, como um bom solo de guitarra, para animar mesmo,(rsrs) enquanto acontece a cremação.

No centro e na mais alta das prateleiras, um quadro com imagem da Imaculada Conceição, tendo a seus pés um vaso de flores e um castiçal onde papai acendia uma velinha todos os dias e rezava ao abrir e fechar “a venda”.

À noite, transformava-se num ponto de encontro, onde todos traziam as notícias que ouviram no rádio ou via “disse-me-disse”. Discutiam política, e contavam “causos”, onde destacavam claro, suas habilidades, força, inteligência e valentia.  Pra que televisão? Ouvíamos de camarote, no sofá da sala ao lado, com direito a muitas risadas. Tinha outra particularidade, nessas ocasiões, por nenhum motivo, razão ou circunstância, alguma mulher da casa cruzava a soleira da porta interna que levava ao armazém. Eram ordens de papai e ninguém ousava desobedecer, apesar de não entender porque na sua ausência, éramos nós que atendíamos no balcão. Coisas de Seu Lydio!

Papai era o meu ídolo! Cuidava de tudo com esmero e dedicação. Gostava das coisas sempre corretas. Tinha o maior cuidado em registrar o movimento do seu pequeno comércio, não dispensando fechamento de caixa diário e balancetes mensais.

O armazém funcionava até a noite durante a semana e aos domingos, até o meio dia e as únicas coisas que nos levavam a interromper o expediente eram a saída para algum passeio ou a chegada de forasteiros ao lugarejo. Mas essa é uma outra história.

 

Fátima Almeida  airam22_fafa@hotmail.com 09/10/2015

Confira AQUI alguns artigos de autoria de Fátima Almeida, publicados no ClickSergipe

 


Notas:

Milome = CIPÓ MIL HOMENS (Aristolochia esperanzae)

A planta foi batizada pelo sanitarista Carlos Chagas, que usou o tal cipó para tratar milhares de operários das ferrovias contaminados por um tipo de malária.

JURUBEBA VERDADEIRA  (Solanum paniculatum)

Parte utilizada: raízes, folhas, flores, frutos.

Fonte: Google


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