Aos 60 anos, estou prestes a cometer suicídio :: Por José Lima Santana
José Lima Santana(*) jlsantana@bol.com.br
Dói-me dizer tudo isso. E eu sei que dói para alguns amigos terem que ler isso. Ninguém merece ler um desabafo desses. Por favor, não me escrevam. Não me telefonem. Não me mandem e-mails. Não me mandem mensagens pelo facebook. A não ser as usuais. Muito menos pelo whatsapp. Eu detesto muitas das mensagens sem pé nem cabeça que vêm pelo zap-zap. São tantas besteiras...! Deixem-me em paz, por favor! Eu lhes agradeço. Quero ficar só com o meu infortúnio. Com o mal terrível que me aflige. Todavia, serei eternamente grato (ih, já estou falando na Eternidade!) aos que se preocuparem comigo. Obrigado! Obrigado! Obrigado!
Estou acabado, amigos leitores. Aos 60 anos, eis que eu pifei de uma vez. E, o que é pior, eu estou mais para baixo do que cabeça de morcego, na dormida. Mais por baixo do que a Seleção Brasileira, que se lascou na Copa do Mundo e na Copa América. Nesta, mais uma vez, nem pênaltis os mocorongos souberam cobrar. Estão iguais a mim, ou piores. Aliás, eles estão bem piores do que eu: na semana da degola, quase todos estavam com virose. Pois é... A culpa pelo último fracasso foi uma virose geral. De qualquer forma, estou mais para baixo do que Felipão e Dunga, juntos. Cheguei ao fundo do poço. Do poço mais profundo do mundo. Mais fundo do que um poço de petróleo nas águas profundas do pré-sal. Estou de fogo morto. Lembram-se do romance “Fogo Morto” de José Lins do Rego? Caiu no meu vestibular, em 1977. Lembro-me dos personagens principais: Mestre José Amaro, Sinhá, sua esposa, e Marta, a filha; Capitão Vitorino Carneiro da Cunha e sua mulher, Dona Adriana; Capitão Tomás Cabral de Melo; Coronel Lula de Holanda Chacon, a esposa, Dona Amélia, e a filha Neném; Coronel José Paulino; Capitão Antônio Silvino; Tenente Maurício; o negro Floripes.
Mal e mal, eu só estaria prestando para levantar aleive. Nada mais. Mas não sou de levantar aleive não. Não presto nem para isso! É o fim. Tornei-me imprestável. Preciso de um tratamento psicológico. Urgente! Será que dará tempo? Preciso recorrer a um sem-número de drogas farmacêuticas para recuperar a autoestima. Sinto-me, sim, completamente liquidado. Porém, o pior mesmo é que tem gente que eu não conheço e que sabe dessa minha situação periclitante. Gente que nem me conhece, mas que se dá ao desfrute de meter-se na minha vida. Ou melhor, no meu caco de vida. Como isso é possível? Vamos lá. Ao menos, ainda me resta um pouquinho de ânimo para detalhar o que vem me acontecendo.
Nos últimos meses, eu tenho recebido recorrentemente vários e-mails com ofertas para a cura do mal maior que estaria me afligindo, na visão de quem os manda. Na visão deles, bem entendido! Um desses e-mails diz: “FAÇA BONITO NA CAMA!”. Outro diz: “NÃO NEGUE FOGO!”. E outro mais: “COMO SE TORNAR UM LEÃO NA CAMA!”. Tem mais: “VOLTE A SER O QUE ERA!”. Outro mais: “PÍLULA DO SEXO: EFITO PROLONGADO E INSTÂNTANEO! PASSO A PASSO PARA ATINGIR O CLÍMAX!”. Mais outro: “SINTA-SE CONFIANTE, CONHEÇA O ESTIMULANTE NATURAL QUE VAI DEIXAR SUA VIDA SEXUAL MUITO MAIS INTENSA!”. E também: “MAIS ENERGIA E LIBIDO NA CAMA!”. Vejam este: “KIT (omito o nome do fabuloso Kit)... É A MELHOR SOLUÇÃO PARA PROBLEMAS COMO IMPOTÊNCIA, DISFUNÇÃO ERÉTIL, FRIGIDEZ OU FALTA DE APETITE. GRAÇAS A SUA ESTIMULAÇÃO NEUROSSEXUAL, ELE AUMENTA DRASTICAMENTE A LIBIDO E INCREMENTA A EXCITAÇÃO SEXUAL, AS SENSAÇÕES E AS RESPOSTAS”. Vamos em frente: “NÃO DEIXE SUA COMPANHEIRA NA SOFRÊNCIA!”. E tem mais, muitos mais. É o fim da picada. Pelo visto, eu sou o sujeito mais infeliz do mundo. Não valho uma casca de siri podre. Nem um bago de jaca mole do tipo gosmenta. Nem uma titaca de mel de furo. Nem um dedal do vinho de jenipapo que “seu” Júlio Costa fabricava no Maruim. Nem um fiapo da cocada-puxa de Perolina de Isídio, ambos de saudosa memória, nas Dores. Nem uma raspa de tacho das deliciosas canjicas que minha avó Lourdes fazia nos tempos juninos, que eu só comia quentinha, queimando os beiços e a língua, e sem canela. Qualquer hora dessas, eu haverei de enforcar-me numa rama de maxixe. Ou afogar-me num pires com água. Será, num ou noutro caso, um suicídio ameno, se é que existem suicídios amenos. Deveras, não tenho coragem (e seria coragem?) para um suicídio grandioso. Uma rama de maxixe, por exemplo, já estaria de bom tamanho. Para que tanto alarde? Um tiro no peito, para abrir o coração em bandas... Um tiro na cachola, para espalhar miolos como geleia... Eu, hein?
Resta-me um consolo: outros sujeitos por aí também estão recebendo os mesmos e-mails que eu recebo. Portanto, somos muitos. E somos fracos! Ao contrário de outros, que são muitos e são fortes. Precisamos de ajuda. Ao menos, na visão daqueles que nos mandam essas estúpidas mensagens. Porém, como a carne é fraca, se continuarem insistindo, eu sou bem capaz de aceitar a oferta. Afinal: “Água mole em pedra dura, tanto bate até que não faz nenhum furo mesmo”. Melhor seria tomar chá de baba de raposa azeda. Putz!
Ô sofrência! JESUS é mais. Muito mais. Enfim, um bom dia para todos. E até mais ver.
(*) Advogado, professor da UFS, membro da ASL e do IHGSE
Publicado no Jornal da Cidade, edição 12 e 13 de julho de 2015. Publicação neste site autorizada pelo autor.
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