Aracaju (SE), 24 de novembro de 2024
POR: José Lima Santana - jlsantana@bol.com.br
Fonte: José Lima Santana
Pub.: 26 de dezembro de 2016

Cabe-me servir. Nada mais. :: Pe. José Lima Santana

José Lima Santana* - jlsantana@bol.com.br

Somente quem é cristão, mas, não somente católico, claro, do tipo que se esforça para trilhar o Caminho, para aceitar e proclamar a Verdade e para viver a abundância da Vida, luzes que nos foram trazidas pelo Verbo que se fez carne na pessoa sagrada de Nosso Senhor Jesus Cristo, pode entender o passo decisivo, firme e definitivo que acabei de dar, ao ser ordenado Padre no último dia 9. E quem não é cristão, ou até mesmo quem não é crente, mas é possuidor de bom senso e sabe respeitar as decisões das pessoas, há de compreender-me muito bem. Aliás, pelas mais de duas mil curtidas no Facebook, antes e depois da ordenação, somando, ainda, mais de uma centena de compartilhamentos e centenas de comentários positivos, nem sempre de católicos, pude aquilatar o quanto a minha decisão foi compreendida e respeitada. E também pela afluência de pessoas à Ordenação, não apenas das duas Paróquias da minha cidade natal, mas também de outras Paróquias, inclusive de autoridades municipais, estaduais e federais dos três Poderes, além, obviamente, dos três Bispos (Dom Lessa, Dom João e Dom Mário), Padres, Religiosas e Seminaristas. 

Quando os anos poderiam pesar-me sobre os ombros, quando a terceira idade chega de mansinho, como um final de tarde tangido por um vento suave, eis que eu respondi a um chamado que ouvi ainda no fim da década de 1970. Naquela época, eram muitas as vozes. Eram muitas as possibilidades. Eu não me deixei confundir. Mas, eram muitos os desafios. A Faculdade de Direito... A morte prematura do meu pai, aos quarenta e cinco anos, em 1979... O arrimo de família no qual eu me constituí após a morte do meu pai... A responsabilidade de ser “dono” de casa, sendo ainda estudante... Minha mãe e minha irmã menor para prover... Todavia, eu não me desviei do Caminho. Não fiz pouco caso da Verdade. Não deixei de lado a grandeza e a plenitude da Vida. Continuei do mesmo modo como comecei em 1976, quando decidi viver, embora fragilmente, a minha vida de cristão, a partir do momento em que fui um dos cofundadores do Grupo de Jovens, Juventude Unida na Fé, da minha Paróquia, seguindo-se, no mesmo ano e até 1982, a minha participação na coordenação do Treinamento de Liderança Cristã – TLC, responsável, à época, pela Pastoral da Juventude na nossa Arquidiocese. Na época, o TLC congregava 41 grupos de jovens, na capital e no interior. 

Entre 1989 e 1980 fui professor de Religião no Colégio Salesiano Nossa Senhora Auxiliadora, em Aracaju. A partir de abril de 1981, a atividade como ministro da Eucaristia. Jesus estava impregnado em mim. A Palavra de Deus revolvia o meu ser. E revolveu por todos esses anos. Muitas vezes, a Cruz pareceu pesada demais para ser carregada. Porém, o exemplo de tantos cristãos que, desde o século I deram até mesmo suas vidas para seguir a Jesus, encorajou-me. E encoraja-me. Os ensinamentos do Mestre sempre me deixaram inquieto. E deixam-me. Como diz a música do Padre Zezinho: “Jesus Cristo me deixou inquieto / Com as palavras que ele proferiu...”. 

Agora, depois que o Arcebispo Dom José Palmeira Lessa, a partir de 2011, fez vir à tona o que Dom Edivaldo Gonçalves do Amaral, que foi nosso Bispo Auxiliar, prenunciou, em 1977, chegou a hora do SIM definitivo: a minha ordenação como Padre. Vida nova. Vida que segue. Vida que se entrega. Dom Edivaldo sempre desejou que eu ingressasse no Seminário. A Irmã Francisca Paes Barreto, de saudosa memória, que trabalhava conosco no TLC, também almejava que isso pudesse acontecer. Parentes e amigos achavam que eu seguiria o ministério sacerdotal. Colegas da Faculdade de Direito e do Tribunal de Contas acreditavam que eu tinha sido seminarista. Ou que seria padre. Eram interessantes tantos prenúncios. 

Agora, a todos eu peço orações, o alimento do espírito. Preciso fortalecer-me cada vez mais para não trair a Palavra de Deus, para aprender sempre a servir, para acolher e saber ouvir, para nunca dizer “não”, quando for preciso e possível dizer “sim”, para compreender a beleza da Tradição Apostólica, para discernir diante do Magistério da Igreja, inclusive da Doutrina Social da Igreja, para louvar o Senhor da Vida, para anunciar a Boa Nova e para ter coragem de denunciar, quando for preciso, para ter a atitude de pôr-me sempre “em saída”. Enfim, para viver com dignidade o meu Sacerdócio, na minha Arquidiocese e obediente à voz do meu Ordinário (o Arcebispo). Cumprindo fielmente os votos proferidos. 

Em 1980, o saudoso Padre Raimundo Cruz presenteou-me com um livro e pôs a seguinte dedicatória: “Ao caro José Lima, meu cooperador desbatinado”. Pois é. Agora, eu sou “batinado”. E estou feliz! 

É evidente que alguns padres formadores do Seminário Maior Nossa Senhora da Conceição não compreenderam a minha presença no Seminário, nem os porquês que levariam à minha ordenação. Do mesmo modo, também alguns Seminaristas, dentre eles, alguns colegas de sala de aula, com os quais eu estudei, e alguns aos quais eu ensinei, uma vez que eu tenho sido de 2012 a 2016, aluno e professor, ao mesmo tempo, do nosso Seminário Maior. Tais incompreensões, que, contudo, eu as respeito, pois todos nós somos livres para pensar e para expor o que pensamos, diferiram, por exemplo, do acolhimento e do encorajamento que eu recebi do Reitor do Seminário, Padre Jânison de Sá, e do Diretor Acadêmico e meu Diretor Espiritual, Padre Genivaldo Garcia, aos quais eu muito devo. A eles, o meu agradecimento, bem como aos padres que foram meus professores. Mesmo não morando no Seminário, uma das causas, aliás, da contrariedade de alguns, sou grato, ainda assim, a todos os outros com os quais eu convivi naquela Casa de Formação (colegas professores, funcionários, seminaristas). 

Lá atrás, entre 1978 e 1979, eu participei do Curso de Extensão em Teologia, na UFS, coordenado pelo Padre Gilson Garcia de Melo, que me deu uma base sólida. Entre 2010 e 2012, eu lecionei no Curso de Teologia para Leigos, na Escola Dei Verbum, no Vicariato São João Evangelista, e, entre 2012 e 2016, tenho ensinado na Escola de Preparação para o Diaconato Permanente e para Leigos, acostada à Escola Santa Maria, da Paróquia do Grageru. 

Entro no Corpo de Presbíteros da Arquidiocese de Aracaju em um momento de transição. Dom Lessa, por força da idade, estará se aposentando no início do ano novo, após um episcopado frutuoso. E Dom João assumirá a titularidade da Arquidiocese. Agradecido, deles, eu tenho recebido apoio e compreensão. A Igreja, no geral, passa por um momento especial, quando nos conduz o Papa Francisco, que tem a mente inaciana e o coração franciscano. Ele tem um jeito extremamente pastoral de ser e de conduzir o seu pontificado. Não agrada a alguns, mas, creio, firmemente, que ele está no caminho certo. A maioria do povo de Deus o apoia. Entusiasticamente. 

Por aqui, um novo Plano Pastoral, para o triênio 2017/2019, está em curso. Novos ventos hão de soprar. Dom João prepara-se com o seu jeito singelo e firme de ser, a fim de enfrentar os desafios que o encargo de Arcebispo lhe exigirá. Que todos se unam em torno dele, para o bem da Igreja. 

Quanto a mim, agora, hei de seguir em frente. Conviver harmoniosamente com o Clero do qual eu faço parte, como o último Padre ordenado sob a Mitra de Dom Lessa. Hei de colaborar com todos os colegas Padres, indistintamente, bem assim com os Religiosos, as Religiosas, outros ministros ordenados e leigos, naquilo que me for solicitado e no que estiver ao meu alcance. Afinal, cabe-me servir. Nada mais. 

*PADRE. ADVOGADO. PROFESSOR DA UFS. MEMBRO DA ASL DA ASLJ E DO IHGSE

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