Aracaju (SE), 05 de fevereiro de 2025
POR: José Lima Santana
Fonte: José Lima Santana
Em: 31/01/2025
Pub.: 31 de janeiro de 2025

O Celerado :: Por José Lima Santana

José Lima Santana*

José Lima Santana (Imagem: Arquivo Pessoal/José Lima Santana)

Ainda mais do que no civil law, no common law o presidente da República pode muito. Entretanto, não pode tudo. Donald Trump, esse celerado que caiu no gosto dos supremacistas e de outros grupos ditos de direita, chegou, desta vez, ainda mais celerado do que no mandato anterior.  

Impulsionado por uma vitória acachapante (antes, em 2016, ele ganhou no voto dos colégios eleitorais, mas perdeu nos votos nominais para Hilary Clinton), ganhando na maioria dos estados, nos votos colegiais e nominais, e contando com maioria nas duas casas legislativas, tomou posse da cadeira que os democratas não souberam manter. Ele voltou com uma arrogância estupenda, levantando o queixo, mais do que nunca, à moda de Benito Mussolini, enquanto o fiel escudeiro desta vez, ou seja, o sul-africano Elon Musk, que também tem cidadanias canadense e norte-americana, logo, quer se queira ou não, um estrangeiro, fez um gesto tipicamente nazista, no dia da posse do celerado. Porém, sendo um estrangeiro branco, multimilionário, não tem problema. Algo não vai bem na terra do Tio Sam. E poderia piorar muito mais. Ou poderá? 

Parece que, por ora, os eleitores do celerado e os seus admiradores ao redor do mundo, que não são poucos, pois os direitistas, que, em tese, merecem todo o respeito, como também merecem os centristas e os esquerdistas (se é que, deveras, na prática, ainda se pode fazer tal divisão política ou dos políticos) estão em êxtase. O problema em muitos desses direitistas é que ressurgiram com uma gana estupenda, com uma virulência que remonta aos tempos dos governos ditatoriais, como no caso do fascismo de Mussolini, de Franco, de Salazar, ou do nazismo de Hitler, ou, ainda, do comunismo, inicialmente posto por Lênin e terrivelmente afiado por Stalin e outros, inclusive noutras plagas. 

Alguém disse que o mundo estava precisando de agitação. O mundo estava precisando de agitação, mesmo depois da guerra entre a Rússia, do não menos celerado Putin, e a Ucrânia, por mil e uma causas? Mesmo depois do tenebroso embate de Israel contra os palestinos do Hamas e após o inconcebível massacre destes contra cidadãos israelenses, numa afrontosa ação que Israel de Bibi, outro celerado, não pôde prever, falhando, assim, de forma inaceitável em seu aparato de segurança? Mesmo contra tantos desacertos que o mundo está vivendo no desmantelamento do meio-ambiente? Mesmo com tantos milhões de pessoas morrendo de fome? Mesmo com tantas discriminações, de vários tipos e origens, contra grupos vulneráveis, explorados e marginalizados, numa sociedade líquida, como o disse Bauman? E tantas outras agitações que fazem o mundo tremer?

Ainda assim, precisávamos da agitação desse celerado loiro, de tintura cara a tingir os cabelos já de há muito brancos? Puxa vida! Para não citar expressão mais forte.

Muito bem. Ou, quiçá, muito mal. O celerado não deve poder tudo. A lição da Bispa anglicana Mariann Edgar Budde foi extraordinária. Ela mostrou ao “Topete Tingido” que ele não deve poder tudo. E o “Tingido” já está na mira de juízes, que deverão impedir algumas das suas diatribes. Ao menos, é o que se espera. A Suprema Corte conservadora haverá de ser acionada, pois parte das diatribes que o “Topete Tingido” anunciou, por enquanto, ferem a Constituição tão discutida e tão bem elaborada pelos pais da Federação lá deles. 

O celerado de cabelos tingidos não saberia dizer qual foi a contribuição de James Madison, Alexander Hamilton e John Jay para o surgimento do Federalismo? Por certo, ele jamais pensou em ler os “Artigos Federalistas”. Muito menos, a maioria dos seus apoiadores, de lá ou de qualquer outro lugar. E se algum destes leu, não entendeu nada, pois dá guarida ao mais celerado que já pisou na Casa Branca. Se é que, antes dele, outros podem ser apontados nessa condição. 

O mundo inteiro, ou parte considerável dele, deverá articular reações contra o celerado. Reações na política externa, reações econômicas com a formação de novos blocos comerciais etc. Muita situação estará por vir. Ele não deverá agir ao seu bel prazer, dentro ou fora do seu país. Toda vez que um celerado quis dar as cartas sozinho, outros jogadores, ameaçados, reagiram. É o que a história nos ensina. Uma situação é certa: em duas semanas de muitas bravatas, já houve alguns recuos. Pequenos, mas houve.

*Padre (Paróquia Santa Dulce dos Pobres – Aruana - Aracaju), advogado, professor da UFS, membro da ASL, da ASLJ, da ASE, da ADL, da ABLAC e do IHGSE.
 


Tenha o Click Sergipe na palma da sua mão! Clique AQUI e confira as últimas notícias publicadas.

WhatsApp

Entre e receba as notícias do dia

Entrar no Canal

Matérias em destaque

Click Sergipe - O mundo num só Click

Apresentação