Cliver, o Narrador Adolescente, e Muito Mais :: Por José Lima Santana
José Lima Santana*
Final da Libertadores entre Flamengo e Palmeiras. Lima, capital do Peru. Um adolescente de 15 anos viajou cerca de dezoito horas, para tentar narrar o jogo. Fez entrevistas com torcedores dos dois clubes, mas não pôde entrar no estádio. Seu nome: Cliver Huamán Sanchez. Menor, sem credenciais, sem dinheiro para pagar o ingresso. Barrado. Todavia, não se deixou vencer. Subiu à montanha, para, de longe, fazer o que foi fazer, ou seja, narrar o jogo. Narrou de forma inusitada, de forma magnífica. O mundo viu o vídeo de sua narração. Vibrou com ele. Encantou-se e rendeu-se a ele.
Menino pobre, acostumado a trabalhar duro desde muito pequeno, Cliver disse, em entrevista, que, às vezes, jantava água com açúcar. Afinal, estamos na América Latina, que o sergipano Manoel Bomfim discorreu de forma brilhante em “A América Latina: males de origem”.
A coragem e a determinação do adolescente peruano mostraram a sua dignidade em não desistir, em não se deixar vencer por uma porta batida em seu rosto de vencedor. Sim, vencedor desde o momento em que tomou o ônibus para Lima e, por conta de sua ousadia, acabaria ganhando o respeito do mundo inteiro, que o viu, que o reverenciou.
O vídeo de sua narração é emblemático. Emocionante. A narração do gol de Danilo foi feita no melhor estilo dos grandes narradores esportivos latino-americanos, com voz pungente. A sua voz correu o mundo e o mundo correu para ele.
Desde cedo, começou a brincar de narrar jogos, aproveitando a condição de radialista de seu pai. Com os parcos recursos auferidos, montou o seu canal de transmissões esportivas dos jogos de futebol de sua comunidade, o Pol Deportes. Com poucos equipamentos, subiu a montanha, para conquistar o mundo. Talvez nem ele mesmo esperasse tanto, mas ele mereceu esse tanto e muito mais.
A pobreza não conseguiu retê-lo, não o impediu de lutar, de olhar para além do horizonte que o prendia em sua terra natal. Nada o impediu de realizar o seu sonho. Um jornalista brasileiro, comentando a façanha de Cliver disse que “quem nasce no chão, não sonha para cima; sonha para longe”. Ou seja, vai além do horizonte. Isso mesmo.
A televisão peruana viu a garra daquele adolescente. Dobrou-se a ele. Chamou-o para narrar uma partida da primeira divisão peruana. Vai narrar outros jogos. Que se transforme em um grande profissional da narração esportiva. No dia 2 deste mês, ele já estava fazendo sucesso nas ruas de Madrid. Que Deus o ilumine e o proteja.
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E já que falamos em futebol, como flamenguista eu não estou nem aí para as maledicências dos anti-flamenguistas, notadamente dos “verdes desbotados”, que choram, choram e choram, por terem ficado, duplamente, em segundo lugar, na Libertadores e no Brasileirão. Os que disseram que não ganharam títulos com “asteriscos” (sic), receberam um prêmio da CBF com quatro campeonatos de outros tipos, convertidos, na canetada, em títulos do Brasileirão (como se fossem): 1960, Taça do Brasil; 1967, Taça do Brasil; 1967, Torneio Roberto Gomes Pedrosa; e 1969, Torneio Roberto Gomes Pedrosa. Tudo isso com “asteriscos”. Sim, canetada é “asterisco”.
No Brasileirão deste ano, o Flamengo liderou em 28 rodadas. Vitórias, teve 23; empates, 10; derrotas: 5; melhor ataque, com 78 gols marcados; melhor defesa, com 27 gols sofridos; saldo de gols, 51. Já o seguindo colocado, chamado Palmeiras, teve a seguinte performance: vitórias, 23; empates, 7; derrotas, 8; gols marcados, 66; gols sofridos, 33; saldo de gols, 33. E, ainda por cima, o Flamengo venceu as duas partidas contra o vice-campeão, por 2 x 0, na casa deles, e por 3 x 2, no Maracanã. Tivemos a maior média de púbico e não perdemos em casa para ninguém. Mas, eles continuam chorando.
Ah, ia-me esquecendo: alegam, os derrotados, que somente poderiam ganhar do Malvadão, na final da Libertadores, se pudessem jogar com um jogador a mais...! É muita pobreza de espírito! E muita cantilena.
*Padre (Paróquia Santa Dulce dos Pobres – Aruana - Aracaju), advogado, professor da UFS, membro da ASL, da ASLJ, da ASE, da ADL e do IHGSE.