Aracaju (SE), 21 de novembro de 2025
POR: José Lima Santana
Fonte: José Lima Santana
Em: 20/11/2025
Pub.: 21 de novembro de 2025

Entre Xenofobia,Racismo e Selvageria :: Por José Lima Santana

José Lima Santana

José Lima Santana - Foto: Arquivo Pessoal

De novo. Mais uma vez. E quantas mais vezes virão? Racismo. É chocante e, ao mesmo tempo, revoltante, ouvir ou saber que atitudes racistas continuam, sob as mais diversas formas, a se repetir pelo país afora. Ninguém é obrigado a gostar de pretos, de pardos, de índios, de amarelos etc. Ou de gente de cor escura, como eu, por definição documental, vez que, em minha certidão de nascimento consta que eu sou de cor “escura”. Foi assim que o escrivão me registrou. Nem preto, nem pardo; sou escuro. Puxa!

No jogo de futebol em Florianópolis (SC), entre o Avaí e o Remo de Belém do Pará, pela Série B, sábado último, dia 15, o racismo, mais uma vez, explodiu. Uma torcedora do clube catarinense, branca e loira, destemperou-se, ou, quem sabe, fez aflorar o que, supostamente, ela realmente é, no dia a dia, cometendo atos xenofóbicos e racistas contra a torcida do Remo. 

A tal torcedora disse, no vídeo que alguém gravou: “Vão embora de jegue. O que é que tem no Pará? O que é que tem no Pará? Seu feio. Vão embora porque o prefeito (ela fez uma pausa, como se buscasse palavras para prosseguir, ao passo que outra mulher, ao seu lado, pronuncia a palavra ‘pobre’) não quer pobre aqui. Gastou o salário do mês para vim (sic), vai ter que voltar a pé. Pobre aqui não fica. Olha a tua cor, olha a tua cor (apontando para a própria pele). Querem comer? Quer comer? Sabe o que come? Ali tem uma comidinha de graça”. Ouve-se outro torcedor gritar: “Vieram montado de jegue de lá pra cá. Vieram montado de jegue”. 

A torcedora foi identificada, mas o Avaí informou que, em respeito à LGPD, não pode divulgar o nome. Porém, as mídias digitais já divulgaram o nome dela, que se pronunciou por sua advogada, alegando que o episódio não reflete os seus valores. Ah, não? É sempre assim. Depois das atitudes racistas, todos dizem a mesma coisa.  

A Polícia está investigando o caso. Foi aberto procedimento pela 40ª Promotoria de Justiça do MP catarinense, para apurar “possível crime de racismo em decorrência de suposta xenofobia”. Vamos ver no que vai dar. 

O clube que, em nota, repudiou a ação de sua torcedora, afirmou estar colaborando com as autoridades, na apuração do caso. Informou ainda que foi aplicada uma suspensão temporária à torcedora racista, havendo a possibilidade de exclusão da mesma do quadro de associados. Então, ela não é apenas torcedora, mas, sim, sócia do clube. 

Quanto ao torcedor do clube catarinense que aparece no vídeo proferindo ofensas contra os paraenses não teria sido identificado, no início. Oxalá o seja. Na súmula do jogo não há registro da solicitação do protocolo antirracista da FIFA, ao longo da partida.

O triste episódio ocorreu cinco dias antes do Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra (20), decretado feriado nacional desde 2023. A data homenageia Zumbi dos Palmares, líder do maior quilombo do período colonial brasileiro, e relembra a luta da população negra contra a escravização e o racismo. Abaixo a xenofobia! Abaixo o racismo! 

Do outro lado do Atlântico, na Alemanha, no dia 13, em discurso proferido no Congresso Alemão do Comércio, o chanceler alemão, Friedrich Merz, enalteceu o seu país e falou mal do Brasil, após viagem a Belém, para a COP 30. Ele disse: “Senhoras e senhores, vivemos em um dos países mais bonitos do mundo. Na semana passada, perguntei a alguns jornalistas que estiveram comigo no Brasil: quem de vocês gostaria de ficar aqui? Ninguém levantou a mão. Todos ficaram felizes por termos retornado à Alemanha, na noite da sexta para o sábado, especialmente daquele lugar onde estávamos”.   

Merz é da ala mais conservadora do seu Partido, o CDU. Assumiu o poder em maio deste ano. O início de seu governo foi marcado por baixa popularidade e tensões internas. Já foi criticado por linguagem considerada brusca e pouco diplomática em termos de política externa e segurança. À revista “Der Spiegel”, ele disse que teve uma “juventude selvagem”. Talvez, a selvageria continue. 

Para amenizar a fala do chanceler, o ministro alemão do Meio Ambiente, Carsten Schneider, disse, no dia 17, que o Brasil é “um país maravilhoso com um povo acolhedor e bom anfitrião”, lamentando não poder ficar mais tempo após a COP. A revista alemã “Stern” destacou em seu site: “O ministro do Meio Ambiente precisa aclamar os ânimos no Brasil após as críticas de Merz”. 

O prefeito da capital paraense, Igor Normando, foi enfático em rebater a desgraçada fala do arrogante e preconceituoso chanceler alemão. 

*Padre (Paróquia Santa Dulce dos Pobres – Aruana - Aracaju), advogado, professor da UFS, membro da ASL, da ASLJ, da ASE, da ADL e do IHGSE.

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