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Aracaju (SE), 09 de setembro de 2025
POR: Daiana Barasa
Fonte: Agência de Notícias Naiá
Em: 08/09/2025 às 13:26
Pub.: 08 de setembro de 2025

Da burocracia à agilidade: modelo de governança que prepara negócios para cenários imprevisíveis

Da burocracia à agilidade: modelo de governança que prepara negócios para cenários imprevisíveis - Foto: Freepik

Em muitos negócios, principalmente familiares e de capital fechado, a governança ainda é tratada como sinônimo de controle e reporte.

Enquanto isso, o ambiente externo acelera: tecnologia, regulações, comportamento de consumo e competição mudam em ciclos cada vez mais curtos.

O resultado, não raro, é paralisia organizacional: decisões lentas, apego a rotinas, dificuldade de inovar e incapacidade de reorientar a estratégia a tempo.

Em suma, este contexto demanda uma reação pragmática: combinar conselho consultivo atuante com governança adaptativa, uma abordagem que mantém os princípios da governança corporativa, mas adiciona flexibilidade, aprendizado contínuo e velocidade para decidir e executar.

Com ampla experiência no ambiente corporativo, atuando como Advisor à frente da MORCONE, tenho auxiliado e orientado empresas, especialmente empresas familiares brasileiras a se estruturarem para chegar aos 100 anos.

Neste artigo, Carlos Moreira fala sobre a importante parceria do conselho consultivo e da governança adaptativa e como as empresas, principalmente familiares, podem se beneficiar disso.

O que é governança adaptativa e por que ela importa?

A governança adaptativa é um arranjo de governança que privilegia agilidade, feedbacks frequentes e ajustes deliberados de rota, sem abrir mão de transparência e prestação de contas.

Em vez de estruturas rígidas, cria-se uma cadência que testa hipóteses, monitora sinais e reconfigura recursos conforme o contexto. Em linguagem simples: decidir bem, decidir rápido e aprender sempre.

Para além do setor privado, a importância dessa abordagem já é reconhecida internacionalmente.

A OCDE (sigla em português Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), por exemplo, vem defendendo mecanismos de governança flexíveis e evolutivos para lidar com missões complexas e ambientes incertos, princípios perfeitamente aplicáveis às empresas que enfrentam disrupções constantes

No Brasil, discussões recentes sobre o tema no meio corporativo reforçam que governança adaptativa significa incorporar resiliência dinâmica ao sistema de decisões, em vez de acumular camadas burocráticas.

Conselho consultivo: o catalisador da adaptação

O conselho consultivo é o fórum mais acessível e eficaz para acelerar essa transição em organizações fechadas.

O IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa), em artigo publicado em 2024, reforça que o conselho consultivo deve acompanhar desempenho, antecipar riscos e debater temas estratégicos, oferecendo orientação estratégica aos sócios e administradores para fortalecer a governança corporativa

Em termos práticos, isso significa colocar visão externa, independência e diversidade de perspectivas a serviço de decisões melhores e mais tempestivas.

Onde o conselho consultivo faz diferença, na prática:

  • Velocidade e qualidade de decisão: empresas que decidem mais rápido tendem a decidir melhor e a apresentar desempenho acima da média. O ponto é reduzir camadas, definir claramente “quem decide o quê” e trazer os dados certos para a discussão;

  • Leitura do contexto e do risco: um conselho consultivo maduro atua como radar estratégico, conectando sinais de mercado, tecnologia e regulação aos impactos no resultado da empresa e na sua liquidez, antes que problemas se concretizem;

  • Planejamento de sucessão e profissionalização: conselhos trazem método e cadência a temas sensíveis, evitando improvisos que paralisam a companhia quando a mudança de liderança é inevitável.

Sinais de paralisia em ambientes voláteis

Empresas não “paralisam” de um dia para o outro; elas perdem tração aos poucos. Entre os sinais mais comuns:

  1. Decisões que “não saem do papel”: reuniões que se repetem sem decisões claras, comitês que não têm mandato explícito e pouca disciplina no acompanhamento (follow-up);

  2. Apego a rotinas: indicadores que medem mais o passado do que o futuro; metas estáticas para contextos dinâmicos;

  3. Dificuldade de inovar: recursos investidos em várias iniciativas sem conexão entre si, sem definição de prioridades e sem critérios claros para interromper projetos que não trazem resultados.

Para romper esse ciclo, é crucial ajustar a governança. E é aqui que o conselho consultivo ganha protagonismo: ele induz foco, priorização e accountability, criando um “circuito fechado” de decisão–execução–aprendizado.

Governança adaptativa e sucessão: preparando líderes para cenários imprevisíveis

Um conselho consultivo bem estruturado ajuda a formar sucessores com base em critérios objetivos e exposição real a decisões estratégicas. Além disso, o órgão:

  • Estabelece critérios de prontidão (competências críticas por contexto);

  • Cria trilhas de desenvolvimento conectadas ao plano estratégico;

  • Patrocina avaliações 360º e feedbacks estruturados;

  • Orquestra a transição com marcos, ritos e salvaguardas de continuidade.

Assim, a empresa deixa de ser refém de modelos ultrapassados e ganha resiliência sucessória, com menor risco de rupturas.

Benefícios de uma governança adaptativa orientada por conselho consultivo

1) Mais resiliência

Em ambientes incertos, resiliência não é “resistir”, é reconfigurar rapidamente, mantendo princípios e propósito. A combinação conselho consultivo + governança adaptativa cria “músculo organizacional” para absorver choques e responder com disciplina.

Apesar de achar que o termo resiliência ainda se encaixa ao cenário empresarial, também gosto de frisar o “comportamento antifrágil” como fundamental no cenário corporativo.

2) Antecipação de riscos

Ao aproximar estratégia, execução e apetite de risco, o conselho consultivo induz controles pragmáticos: menos decreto, mais prática.

O próprio IBGC detalha a jornada evolutiva dos conselhos, do estágio inicial ao maduro, com foco crescente em estratégia, riscos e desempenho.

3) Capacidade de redirecionar sem perder a essência

Governança corporativa eficaz não engessa; ela preserva o que importa (valores, integridade, visão) e muda o que precisa (prioridades, alocação de recursos, portfólio).

Como começar — passos práticos sob medida

  1. Defina o “porquê” do conselho consultivopor meio de objetivos e questões prioritárias (crescimento, capital, sucessão, eficiência, inovação). O guia mais recente do IBGC (já mencionado neste texto) oferece um roadmap de implementação, com estágios de maturidade e papéis claros.

  2. Desenhe governança adaptativa “leve, porém suficiente”, estabelecendo cadência (reuniões mensais ou bimestrais), critérios de decisão (“quem decide o quê”), OKRs ou metas trimestrais e um ciclo de aprendizado.

  3. Componha o conselho por “lacunas estratégicas”e, para isso,busque conselheiros com experiência complementar (setor, finanças, tecnologia, gente & cultura, M & A), independentes e com responsabilidade direta pelos resultados.

  4. Integre sucessão desde o dia 1, conectando o plano de sucessão à agenda do conselho: critérios de elegibilidade, trilhas de desenvolvimento, governança para transição e comunicação.

  5. Estabeleça indicadores de aprendizagem e velocidade e, para este fim, além de KPIs tradicionais, monitore tempo de decisão, percentual de iniciativas encerradas por aprendizado e ciclo de realocação de recursos.

Para quem é este movimento?

Embora válido para empresas de qualquer porte, o arranjo conselho consultivo + governança adaptativa é útil, principalmente nos casos de PMEs (pequenas e médias empresas) familiares que já sentiram os limites do modelo de gestão centralizado.

Gosto de defender que a governança corporativa é um meio para a longevidade empresarial e não um fim burocrático.

Conselhos consultivos não são “conselheiros de crise”

A verdadeira força da governança está na capacidade de adaptação com princípios.

Conselhos consultivos atuantes não aparecem apenas “na crise”; são cocriadores de futuro: estabelecem o ritmo, pressionam por prioridades claras, cobram evidências e criam as condições para decidir rápido e bem, sem improvisar a governança.

Em um ambiente de mudanças contínuas, ficar parado também é uma decisão e, quase sempre, a pior delas.

Se a sua empresa reconhece sinais de paralisia, o momento de agir é agora: estruture um conselho consultivo, adote governança adaptativa e recupere a capacidade de competir.

Carlos Moreira - Há mais de 37 anos atuando em diversas empresas nacionais e multinacionais como Manager, CEO (Diretor Presidente), CFO (Diretor Financeiro e Controladoria), CCO (Diretor Comercial e de Marketing). e Conselheiro Administrativo.


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