Doação de leite humano traz benefícios para doadoras e receptoras
Ao lado do berço do filho, internado há três meses na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (Utin) da Maternidade Nossa Senhora de Lourdes (MNSL), a copeira Maria de Lourdes dos Santos, de 36 anos, faz um relato emocionado sobre a frustração que sentiu ao não poder amamentar. “Fiquei triste porque sempre tive vontade de amamentar. Imaginei aquele momento e ele não aconteceu”, lamenta.

Doação de leite humano traz benefícios para doadoras e receptoras (Foto: SES/SE)
O menino nasceu com pouco mais de um quilo e teve algumas complicações de saúde, entre elas, a intolerância a lactose. “Em pouco tempo o meu leite materno precisou ser substituído por um especial. Por isso, passei a doar o meu para os bebês que estavam internados aqui e precisam disso para lutar pela vida. A cada vez que doava, pensava que estava fazendo a diferença na vida daquelas crianças. Era o que podia fazer como mulher e como mãe”, lembra.
A história de Maria de Lourdes se parece com a de centenas de sergipanas. Seja por excesso de leite materno, dificuldade em amamentar ou necessidade dos bebês internados na Utin, recorrer ao processo de doação é muito mais comum do que se pensa. Somente no ano passado foram 2.211 mulheres atendidas segundo dados do Banco de Leite Humano Marly Sarney, referência do Estado,
“A doação é um ato solidário e que beneficia tanto quem recebe quanto quem doa. A receptora sente o alívio em poder alimentar seu bebê com a principal fonte de nutrientes para o recém-nascido. Já a doadora, além de fazer o bem, evita que ocorra um processo inflamatório nas mamas, mastite, muito comum quando há excesso de leite”, enfatiza a gerente do Banco, Hélia Karla Agapito.
Apesar dos benefícios ainda há muita dificuldade em captar novas doadoras, mesmo nas maternidades, onde logicamente há maior concentração de potenciais voluntárias. “São muitos os fatores que contribuem para isso, mas o que importa ressaltar é o nosso baixo estoque. Temos apenas duas doadoras cadastradas, quando o ideal seriam 30, além das que doam na MNSL”, esclarece a gerente.
Trabalho assistencial
Além da captação de leite por meio das doações, o Banco também estimula o aleitamento materno. “Na verdade, 75% da nossa demanda é assistencial, por demanda espontânea ou por encaminhamento médico. Tratamos desde a gestante, orientando os cuidados com o pré-natal, até o pós parto, ajudando e orientando as puérperas”, esclarece.
São casos como o da arquiteta Priscila Fontes, de 33 anos, que está com a filha internada em uma Utin. Ela precisou do suporte do Banco de Leite para desmamar e alimentar o bebê. “Depois que ela recebeu alta, tive um apoio fundamental da equipe sobre como proceder com a amamentação. Isso evitou que eu desistisse, como muitas mães fazem. O trabalho realizado lá foi essencial para mim”, contou.
Assim também aconteceu com a publicitária Tatiana Costa, de 29 anos. Quando teve a filha, hoje com dois meses de vida, ela sentiu dificuldades em amamentar. “A própria pediatra me indicou o Banco de Leite, que me deu um suporte e todas as orientações que eu precisava para alimentar meu bebê da forma correta. Hoje continuo com o acompanhamento e minha filha recebe um atendimento ótimo”, avaliou.
O processo
Para ser doadora, a mulher precisa comparecer ao Banco de Leite Humano com os exames de pré-natal e acompanhada do bebê para avaliação. Será verificado se há leite em excesso ou se o bebê apresenta alguma dificuldade na hora de mamar; somente depois desta avaliação é que o cadastro é efetivado. A doadora recebe um kit com frascos para armazenamento do leite.
“A primeira doação é feita na própria unidade. Depois disso, elas podem tirar e armazenam o leite na residência que o Banco se encarrega de buscar o material”, informa. É importante lembrar que a mulher não pode fazer uso de medicação que prejudica a amamentação nem ingerir bebida alcoólica, bem como seguir todas as orientações da equipe profissional.