Pediatria: falta de atendimento na rede básica afeta Rede Estadual de Saúde
Adenilde Santos, dona de casa (Foto: Ascom/SES)
Este é o relato de uma mãe que, no momento do desespero viu como única alternativa levar a filha para o hospital, mesmo se tratando de um caso sem gravidade. De janeiro até maio deste ano, o Hospital Regional de Nossa Senhora do Socorro atendeu aproximadamente 6400 crianças. Em média 30% dos atendimentos foram casos de menor gravidade e que poderiam ser resolvidos numa unidade básica de saúde. Para a superintendente do hospital, Auxiliadora Varjão, esta é uma prática que prejudica a assistência aos pacientes. “Em hipótese alguma a culpa disso é das mães. Acontece que a rede básica, de competência dos municípios, não funciona a contento, e lota as nossas unidades”, enfatizou a superintendente.
A moradora do Conjunto Marcos Freire, Adriana Silva, é mãe de um menino de cinco anos. Há dois dias ela busca atendimento para o filho que sentia dores no corpo e febre. Sem atendimento nos postos de saúde, ela viu no hospital regional a única saída para a melhora da criança. “Sei que o mais aconselhável é levar meu filho para a Unidade Básica de Saúde. E eu fiz isso. Mas quando cheguei lá, ele não foi atendido por um especialista. O jeito foi vir pra cá. Apesar do caso do meu filho ser mais leve e simples, fui bem atendida. Os profissionais aqui são muito competentes. Triste é saber que as outras mães que estão aqui também estão passando pela mesma situação que eu. Por isso que a pediatria está assim lotada”, disse Adriana Silva.
De acordo com Mariela Assis, diretora técnica do Hospital de Nossa Senhora do Socorro, o principal motivo da pediatria do hospital continuar cheia é a falta de assistência na rede básica. “Quando a unidade dos bairros não atende como deveria, a população se vê desassistida e procura o hospital, um local que ela sabe que está sempre de portas abertas. Apesar de criarmos campanhas para mostrar como funciona a regulação do atendimento, na maioria das vezes o atendimento não acontece como deveria por falta dessa assistência do lado de lá. Acho que a rede básica deve somar forças para proporcionar um atendimento digno para a população. Quando o atendimento não é feito no posto de saúde, o pai ou a mãe não quer procurar outro posto quando o hospital está mais próximo da casa dele”, disse a diretora técnica.
Pediatria do Huse atendeu quase 13 mil crianças este ano (Foto: Ascom/SES)
Somente nos cinco primeiros meses deste ano o Huse registrou mais de 12. 700 atendimentos a crianças. De acordo com a gerente do Pronto Socorro Infantil do Huse, Karyne Lima de Araújo, a cada 10 pacientes, oito são de casos que poderiam ser atendidos nas Unidades Básicas de Saúde. “São poucas as crianças que precisam deste atendimento aqui. Se a rede básica funcionasse a contento, nós poderíamos ter uma diminuição desses pacientes aqui e dar uma assistência melhor aos que, de fato, são casos de pronto socorro. O que precisa acontecer é um fortalecimento da rede básica de saúde para que as crianças que estão gripadas, com febre ou casos clínicos mais simples sejam atendidas”, disse Karyne Lima.
De fevereiro a maio deste ano, o número de atendimentos na pediatria do Huse aumentou mais de 81%. Karyne Lima de Araújo acredita que a chegada do inverno contribuiu para este crescimento, mas afirma que o principal motivo foram as paralisações nas unidades básicas de saúde. “Desde março que a população de Aracaju vem sofrendo com as paralisações na rede básica. Por diversas vezes vimos unidades fechadas ou profissionais parados. Tudo isso reflete aqui no Huse. As mães acabam trazendo as crianças pra cá devido a não resolutividade na rede básica, até porque elas sabem que nós somos porta aberta e não negamos atendimento. A solução é melhorar a assistência na rede básica”, enfatizou a gerente.