Justiça Federal em Sergipe vai realizar audiência pública sobre a revisão do Plano Diretor de Aracaju
Debate será na sexta-feira (25), às 9h, e não substitui consulta prévia a populações tradicionais exigida pela Convenção 169 da OIT.
Imagem aérea da cidade de Aracaju (SE) - Foto: André Moreira | Prefeitura de Aracaju
Uma das principais queixas foi a falta de debate e transparência no processo de elaboração do documento, retomado em 2021, em meio à pandemia de covid-19, o que impossibilitou a participação efetiva da população local. Segundo o relato das entidades, os cidadãos não tiveram acesso à documentação necessária para participar da atualização do Plano Diretor e as contribuições feitas pela população nas consultas públicas não foram efetivamente levadas em consideração.
Além disso, não houve consulta prévia às populações tradicionais de Aracaju, contrariando o previsto na Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT). A audiência da próxima sexta-feira (25) não afasta a necessidade de realizar, em outro momento, a consulta prévia, pública e informada voltada aos povos tradicionais do município.
O Plano Diretor é o instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana, sendo obrigatório para cidades com mais de 20 mil habitantes. O documento deve ser elaborado pelo Executivo local e aprovado por lei municipal, sendo obrigatória a ampla participação da sociedade na construção do projeto, conforme prevê a Constituição Federal e o Estatuto das Cidades.
Documentos entregues ao MPF demonstram que, em razão da pandemia, as poucas audiências públicas ocorreram de forma apressada, com restrição de número de participantes e em poucos bairros. Além disso, apontam que a participação virtual não foi efetiva, tendo em vista o limite de 500 caracteres imposto para as sugestões e a falta de acessibilidade para pessoas com deficiência.
Outra queixa apresentada diz respeito à ausência de mapeamento da fauna e flora locais, assim como a existência de dados desatualizados e mapas contraditórios relacionados às áreas de proteção ambiental. De acordo com as entidades, os dados técnicos que subsidiam a minuta da lei de revisão do Plano Diretor são de 2018 e, portanto, não levam em conta os impactos da covid-19 no município. Além disso, não foram tornados públicos para análise e sugestões.
Povos tradicionais
A ausência de consultas prévias, livres e informadas às comunidades quilombolas Maloca e Catadora de Mangaba, além de outras populações tradicionais de Aracaju – todas protegidas pela Convenção 169 da OIT – também foi outro problema constatado. Segundo a ação do MPF, o Plano Diretor não pode avançar sem consulta prévia a essas comunidades, sob pena de violação à Convenção Internacional que garante a defesa de direitos humanos culturais.
Além de convocar a audiência pública, a Justiça concedeu liminar para impedir o Executivo local de enviar o novo projeto de Plano Diretor à Câmara Municipal, até nova decisão sobre o tema. Também determinou que os documentos relativos ao projeto sejam disponibilizados na Internet para que todas as entidades e a população local possam consultá-los.
Serviço
Audiência Pública sobre a revisão do Plano Diretor de Aracaju
Data: 25 de agosto
Horário: 9 horas
Local: Salão Nobre do Fórum Ministro Geraldo Barreto Sobral, localizado na Avenida Dr. Carlos Rodrigues da Cruz, 1500, Bairro Capucho