Instituições discutem novas oportunidades para pessoas em situação de rua e migrantes
Em Abril, população vulnerável participou de cursos e teve a chance de empreender durante a Vila da Páscoa

“Só tenho a agradecer por essa oportunidade de aprender a fazer tantas coisas maravilhosas”. Com sorriso no rosto e um olhar de esperança, o depoimento é de gratidão e, principalmente, de alegria. Cristiane não imaginava aprender a fazer doces e salgados. A vida nas ruas é difícil e incerta.
Foi através do Projeto Caminhos para a Dignidade que ela e outras pessoas em situação de rua, além de migrantes tiveram a oportunidade de fazer um curso de capacitação na produção de alimentos. As ações são desenvolvidas pelo Ministério Público do Trabalho em Sergipe (MPT-SE), em parceria com o Instituto Social Ágatha, Cáritas Arquidiocesana, Pastoral do Povo da Rua, Projeto Banho para Todos, Associação Bom Pastor e Secretaria de Estado do Trabalho, Emprego e Empreendedorismo (Seteem).
Tudo começou após o diálogo entre os representantes de cada instituição e, depois, encontros realizados com as pessoas em situação de rua e migrantes, na sede do MPT-SE, em outubro do ano passado. A partir das demandas apresentadas, um projeto para assegurar os direitos fundamentais desses dois grupos foi iniciado. Primeiro, foi feito um levantamento para avaliar quais pessoas precisavam de atendimento de saúde, as que já estavam aptas para o mercado de trabalho e as que precisavam de capacitação. “Por meio do projeto, começamos a inserir algumas pessoas em situação de rua e migrantes no mercado de trabalho e alguns já têm vínculo de emprego formalizado, com carteira assinada. Outros integrantes do grupo foram encaminhados ao curso de produção de alimentos”, explicou o procurador.
A coordenadora do Projeto Banho para Todos, Evânia Andrade, acompanhou de perto a realização do curso. “Foi um período bem proveitoso porque, apesar dos desafios que as pessoas em situação de vulnerabilidade enfrentam, todos tiveram muita força de vontade e se dedicaram bastante. Hoje, já consigo vê-los preparados para ter uma fonte de renda. Espero que essa turma seja a primeira de muitas”, disse a coordenadora.
Durante o curso, ministrado pelo professor Célio Batista Fontes, os participantes aprenderam a fazer salgados, bolos e doces diversos, como ovos de chocolate que foram comercializados durante a Vila da Páscoa, promovida pelo Governo do Estado na Orla da Atalaia em Abril. O espaço para a venda dos alimentos ocorreu no estande da Economia Solidária, através da Seteem. “A participação de migrantes e pessoas em situação de rua na Vila da Páscoa representa um avanço significativo na consolidação de políticas públicas inclusivas em nosso estado. Temos atuado para assegurar que ações de cidadania e promoção da dignidade humana contemplem, de fato, os segmentos mais vulneráveis da sociedade. Essa iniciativa só foi possível graças à atuação sensível, comprometida e estratégica do MPT-SE, que tem sido um parceiro fundamental na construção de políticas que aliam proteção social, inclusão produtiva e respeito aos direitos humanos”, avalia o secretário de Estado do Trabalho, Emprego e Empreendedorismo, Jorge Teles.
A presidente do Instituto Social Ágatha, Talita Verônica, acredita que a experiência na Vila da Páscoa foi fundamental para consolidar o aprendizado da sala de aula. “Eles tiveram a oportunidade de ver de perto o relacionamento com o cliente durante as vendas, perceber como funciona o dia a dia na cozinha de um empreendedor. Vimos, nos olhos de cada um, uma nova perspectiva para o futuro, para que eles voltem a ser protagonistas da própria história”, enfatizou.
De acordo com o vice-presidente da Cáritas Arquidiocesana, Paulo Evangelista Neto, o início do projeto foi um grande marco de esperança e transformação. “Desde o começo, sabíamos que não se tratava apenas de ensinar técnicas de confeitaria. O objetivo era criar oportunidades reais de inclusão, autonomia e dignidade para pessoas historicamente marginalizadas. Cada parceiro trouxe sua experiência e sensibilidade, tornando o processo verdadeiramente coletivo e enriquecedor”, afirmou.
Os resultados dessa primeira etapa foram avaliados pelos representantes das instituições em reunião na sede do MPT-SE, na capital. Com a aproximação do mês de Junho, as capacitações vão continuar. Agora, o foco é a produção dos quitutes juninos. “Essa será uma nova oportunidade nesse projeto que tem o objetivo de tirar essa população da situação de vulnerabilidade e dar às pessoas uma condição de verdadeira cidadania”, pontuou o procurador Adroaldo Bispo.