Jornalista e Pesquisadora sergipana realiza oficinas em casas de axé em alusão ao Abril Verde
Com o intuito de introduzir inquietações preliminares acerca da imagem fotográfica no Candomblé oriundas dos dez anos de pesquisa de campo e da tese de doutorado, a jornalista e pesquisadora sergipana Díjna Torres, realiza nos meses de abril e maio a oficina de Memória e Salvaguarda nas casas de axé em Sergipe, uma ação gratuita realizada com recursos da Lei Complementar Federal nº 195/2022 (Lei Paulo Gustavo) do Ministério da Cultura, por meio do edital n. 07/2023 | Demais linguagens - Ilma Fontes, executado pela Fundação de Cultura e Arte Aperipê de Sergipe |FUNCAP/SE.
De acordo com a pesquisadora, que também é integrante de uma casa de Candomblé no estado, as oficinas têm o objetivo de auxiliar às comunidades de povos tradicionais a construir um espaço de salvaguarda de memória física e digital para os arquivos dos terreiros de Candomblé em Sergipe. “Inicialmente foi pensada para a execução em três casas de axé do estado: Ilê Axé Omin Mafé (Riachuelo), Abassá Axé Ilê Pilão de Oxaguian (São Cristóvão) e Irmandade Santa Bárbara Virgem (Laranjeiras), comunidades estas que fazem parte da minha trajetória acadêmica e pessoal, podendo ser estendido futuramente para outras casas de axé ou de povos tradicionais, no sentido de buscar pensar, através das suas relações e conceitos, modos de preservação da história e memória das casas a partir de mecanismos de salvaguarda seja no meio físico ou no meio digital”, afirmou.
Ela ainda destaca que a ideia de iniciar as oficinas no mês de abril se dá por conta da Lei nº 9.404/2024, de autoria da deputada estadual Linda Brasil (PSOL), que institui o Abril Verde, um mês voltado ao combate ao racismo religioso contra os povos de terreiro, de modo a dar visibilidade à luta das religiões de matriz africana. “Durante décadas e ainda na atualidade, muitos adeptos do Candomblé e de outras religiões afro-brasileiras, ainda adotam certo anonimato como forma de preservar suas raízes ancestrais, e também preservar a integridade física do terreiro e de seus integrantes, uma vez que no Brasil, casos de racismo religioso são cada vez mais frequentes, pois, historicamente, as religiões afro-brasileiras trazem seus cultos e rituais não cristãos o estigma de religiões marcadas pela demonização de seus corpos e de seus processos culturais, por isso a importância da discussão e da preservação desses espaços contra o processo de apagamento, que também é um processo de violência”, pontuou.
Díjna ressalta que, com o uso das redes sociais como forma de divulgação da religião, das casas e da rotina de festividades e eventos que ocorre nos espaços de axé e sem a regulamentação da Internet, há a urgência em catalogar a memória e história de espaços que, segundo ela, fazem parte da construção do país. “Diante destes cenários e a pedido das casas visitadas durante o doutorado, elaborei o projeto e já estou circulando com ele, a exemplo das visitas que já fiz na Irmandade Santa Bárbara Virgem e no Ilê Axé Omin Mafé, neste mês de abril, e na construção de espaços de salvaguarda físicos e digitais dentro dos terreiros, para que as famílias de axé busquem catalogar as imagens e os documentos produzidos como memória nos espaços, como forma de preservar as narrativas e o conhecimento dos locais, além de servir como modelo para que outras casas possam catalogar e preservar também os seus registros e a sua memória”, concluiu.
A oficina de memória e salvaguarda segue no mês de maio para o Abassá Axé Ilê Pilão de Oxaguian, onde a pesquisadora seguirá dialogando sobre os temas e construindo junto aos adeptos, formas de preservar a história da casa.