FLUTUANTE 1100 x 284
Aracaju (SE), 01 de setembro de 2025
POR: João Victor Fernandes
Fonte: Herieta Schuster
Em: 01/09/2025
Pub.: 01 de setembro de 2025

Crônica de Lelê :: Por João VictorFernandes

João Victor Fernandes*

Lelê Teles - Foto: Cáritas Damasceno

Estou lendo o livro recém-lançado Um Bilhete de Adeus, do Dilson Ramos, habilmente ambientado em uma Aracaju dos anos oitenta. Repousa, sem pressa, na minha cabeceira; amiúde vou degustando. Esses dias me peguei inspirado, só que imaginando uma Aracaju dos tempos atuais, atores das nossas ruas, do centro da cidade, rodas de conversa, da nossa orla, pubs e botecos.

Tanto vi e vivi nas noites de boemia que me vem, quando penso em ambientar uma história na terrinha, um multiverso de lembranças ébrias, um realismo fantástico peculiar, nosso, como quase tudo que prospera ou sobrevive nesse chão. Envolta em um coro de sussurros proféticos, caranguejos esfregando as patas e névoas encantadas, tintila a imaginação numa espécie de restinga mágica, com um caçuá de arquétipos prontos para ilustrar os melhores enredos.

Em uma dessas pesquisas de campo, numa madrugada arejada, fui ao Bar na Kombi, dito “o mais orgânico da cidade”, um bar que opera direto da Kombi do poeta Ivan. Não tem um local certo, mas é sediado na memória afetiva do underground da cidade. Entre rodas de violão e cervejas no precinho, conheci um dos personagens mais interessantes radicados na tribo — o jornalista, escritor e roteirista Lelê Teles.

Lelê é um desses intelectuais que unem a bagagem acadêmica, a longa experiência em veículos de comunicação de relevância ao instinto marginal que o faz respirar os ares do povo, que olha no olho da rua e partilha com a horizontalidade de quem está disposto a ouvir as vozes plurais do mundo.

Naquela noite, tal qual um filósofo do pós-punk, caminhando de lá pra cá em meio metro quadrado, com um all-star de cano alto, ele me falava com eloquência sobre a aversão que sentia em relação aos Alienígenas do Passado. Ironicamente é um programa do History Channel, que dá o mérito da construção das pirâmides aos extraterrestres, em detrimento do povo preto do continente africano e da tecnologia milenar do Egito. 

Aprendi na vida: Dize-me o que te ofende que te direi quem és, tal qual o que arranca o riso fala muito do cabra. Ao fundo, um sósia de Belchior dedilhava aos sopapos um violão surrado e gritava, em plenos pulmões: “Ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro!”.

“Palavra da salvação”. Em algum multiverso, Lelê e Paulo Gustavo, mentes ímpares, bem poderiam estar trocando altas ideias na Kombi, numa dimensão em que a necropolítica não tivesse imperado durante a pandemia. Por incrível que pareça, alguma luz ainda chega: Paulo virou lei de apoio à cultura, talvez as coisas deem um jeito de se encontrar. Contemplado pela lei de fomento, vem aí A Regra de Ouro, série cem por cento sergipana, assinada por Lelê Teles. Por enquanto, sem spoilers. Mas certos de que vem coisa muito boa por aí.

*J. Victor Fernandes, escritor e produtor cultural


O Mundo não para. Confira mais notícias no Canal do Click Sergipe no WhasApp

Conheça os melhores destinos em sergipe - Pontos Turísticos

WhatsApp

Entre e receba as notícias do dia

Matérias em destaque

Click Sergipe - O mundo num só Click

Apresentação