Artistas levam cultura sergipana à 14ª Bienal Brasileira de Design
Roda de conversa e oficina com referências de Sergipe atraíram participantes de vários estados
Os artistas sergipanos dominaram a tarde desse sábado, 7, na 14ª Bienal Brasileira de Design, evento que conta com o apoio do Governo do Estado. No início da tarde, a oficina ‘O fazer’, do Mestre Nivaldo, reuniu pessoas de diferentes estados interessadas em entender e aprender sobre a xilogravura. Na oportunidade, o mestre apresentou a técnica, que utiliza uma matriz de madeira para criar os desenhos.
Xilogravador e artista plástico, Nivaldo Oliveira trabalha com essa forma de arte há 40 anos. O mestre vive em Sergipe há 20 anos, na cidade de São Cristóvão, onde tem um ateliê. “É uma satisfação muito grande mostrar esse trabalho para esse número de pessoas dentro da bienal de design. Consegui mostrar meu trabalho de xilogravura e fazer oficinas para tantas pessoas, nas quais todas ficaram muito satisfeitas com o resultado das impressões. A oficina, na verdade, acaba agregando muito valor, com o conteúdo do design, as pessoas vêm aqui e desenvolvem esse trabalho, que requer um conhecimento e traz um enriquecimento”, detalhou.
Um dos monitores da oficina é Nicolas Barbosa, filho de Nivaldo e estudante de cinema e audiovisual. “Meu pai está ensinando às pessoas a técnica da xilogravura, que é uma técnica muito importante, que aprimora a cultura, faz as pessoas desenvolverem muito mais a questão física, saber manusear a ferramenta”, explicou o estudante.
Nicolas ainda falou sobre a oportunidade de levar essa arte a outras pessoas. “É muito importante isso aqui, culturalmente, porque tem uma galera que não sabe do trabalho do meu pai, não sabe do trabalho do Véio, de todos esses designs que temos, tudo que a cultura pode proporcionar para eles. Então, eles vindo aqui, vão aprender um pouco mais sobre a xilogravura, as esculturas, os designs e vão fixar mais ainda o que é a cultura. Sergipe é o menor estado do Brasil e o menor estado poder proporcionar isso é gigante”, finalizou.
A designer Elisa Deusdete é de Recife (PE) e participou da oficina de xilogravura. “Eu não conhecia Nivaldo, a gente tem o conhecimento da xilogravura, porque é uma cultura muito forte na arte visual daqui da região, mas o trabalho dele em específico eu não conhecia e foi maravilhoso poder conhecer de uma forma tão prática, de estar ali do lado dele, fazendo essa obra, ele sendo tão didático e tão atencioso com as pessoas. Foi uma experiência única que complementou mais ainda a bienal como um todo”, contou.
Em uma roda de conversa sobre Economia Criativa, os participantes puderam conhecer um pouco das vivências de Véio, referência no estado de Sergipe. O artista visual reforçou a importância de um evento desse tamanho acontecer no estado. “Eu acho de alto interesse, não só do artista, mas de todos, é essa participação de virem pessoas de outro estado para que se integrem à nossa forma de trabalho, à nossa cultura, à nossa história, então isso é importante”, explicou.
Sobre a produção sergipana, Véio reforçou a potência do estado. “Eu tive convites para ir até para outros países, para outros estados, dar início aos meus trabalhos e, para mim, Sergipe pode ser o menor, mas é um dos maiores, porque a gente tem espaço, a gente tem condições de produzir”, reafirmou o artista.
A estilista sergipana Rafaela Castro esteve ao lado de Véio na roda de conversa. “Esse evento acontecer aqui é extremamente importante, porque permite que a gente tenha espaço para as referências do nosso estado. Temos muitos elementos aqui, há protagonismo para os nossos artistas, espaço para marcas locais, então é extremamente importante, porque a gente tem a oportunidade de falar sobre nós. Aqui temos protagonismo, pois a gente vai falar da maneira que, de fato, nós somos, sem ter aquele olhar estereotipado, sem o olhar do lamento, da dor, já que algumas pessoas reduzem o Nordeste a isso”, reforçou.
Movido pela diversidade de possibilidades que o evento propõe, o ator e professor de arte Audevan Caiçara participou da roda de conversa com Véio e Rafaela Castro, da Severinas. “Vim pela pluralidade do evento, de visualidades, mas, principalmente, motivado pelo Véio, que é esse artista sergipano, que nos dá muito orgulho e que tem uma riqueza de pluralidade, de ver a vida, de memórias, de imaginação. Ouvi-lo falar é sempre muito legal, a gente se alimenta artisticamente falando. Eu acho que é muito rico como ele e a Rafa tentam mostrar um Sergipe que é um Sergipe, às vezes escondido, que às vezes é de um sertão que não é tão acessado pelas pessoas ou que é retratado de uma forma pejorativa, de uma forma ridicularizada, quando o sertão, na verdade, é muito mais. Então, eu gosto muito como eles trazem essa potência sertaneja, com muita bravura e com muita beleza”, ressaltou o professor.
Sobre Sergipe receber um evento nacional como esse, ele completa: “Acho simbólico, importante, é pontual no sentido de que a gente é relegado a esse lugar da 'menor federação'. Por conta do tamanho geográfico, algumas pessoas acabam associando também a um tamanho reduzido de cultura, o que é totalmente o contrário. A gente tem uma produção cultural muito rica, inesgotável, e acontecer aqui é poder dar voz para a gente falar que estamos produzindo arte, produzindo cultura, design e estamos produzindo de uma maneira muito rica, muito bonita, com muita alegria”, concluiu o ator.
Letícia França é mineira e estudante de design. Ela contou um pouco da sua experiência no estado até o momento. “Eu achei todo mundo muito orgulhoso, muito feliz de ser daqui. Todo mundo gostava de falar da cidade, de contar histórias. Eu me sentava no Uber e descobria um monte de coisas incríveis. A cidade é linda”, relatou.
A estudante de Minas Gerais participou da roda de conversa e contou que não conhecia os artistas até então. “Essa oportunidade engrandece demais, é lindo de ver, até já segui os dois no Instagram, é maravilhoso ver o orgulho que eles têm, foi incrível, achei que foi um grande acerto da bienal”, afirmou Letícia.