Aracaju (SE), 24 de novembro de 2024
POR: Ilma Santos
Fonte: Assessoria do Evento
Pub.: 30 de agosto de 2016

A Arte Fantástica de Cybele Ramalho em todos os tons

A Arte Fantástica de Cybele Ramalho em todos os tons (Imagem: Divulgação/Assessoria do Evento)

A Arte Fantástica de Cybele Ramalho em todos os tons (Imagem: Divulgação/Assessoria do Evento)

"Humano, demasiado humano" é o tema da exposição Arte Fantástica, da Artista Plástica sergipana Cybele Ramalho, que acontece dia 03 de setembro, às 19h, no Centro de Arte e Cultura J. Inácio, localizado na Avenida Santos Dumont, 3661, Coroa do Meio, em Aracaju/SE e se estende até 30 de setembro do ano em curso. Com 54 obras que passeiam pelo Surrealismo, se apresentando de fato como Arte Fantástica, a artista retrata temas que tratam dos sentimentos humanos e toda uma gama de comportamentos que estes sentimentos exteriorizam. Sendo assim, sua vasta obra é composta de temas psicossociais, temas arquetípicos, mitos, imagens do inconsciente, alquimia, dramas individuais e grupais, captados, projetados e revelados sensivelmente no seu trabalho, onde arte e psicologia andam de mãos dadas. Assim sendo, a principal fonte de inspiração da artista, são as narrativas oníricas, sendo sua obra especialmente permeada pelos conteúdos da sua prática profissional como psicoterapeuta, o que aproxima cada vez mais estas duas linguagens. 
Cybele Ramalho, inaugura o cenário das artes plásticas, com uma linguagem artística que pouco se apresenta em nosso Estado, a Arte Fantástica.  Ao longo deste século, a fantasia tem passado, nas artes plásticas, do externo ao interno. A visão fantástica do externo, do mundo, da natureza, do universo, tem cedido lugar a uma contemplação introspectiva da pessoa, do indivíduo, do próprio corpo. Ao humano, em seu território inconsciente dos sonhos, sentimentos e desejos.
A arte fantástica reflete, com seus desvarios e extravagâncias, as distintas facetas e as distintas percepções da realidade, trazendo para elas um novo colorido. A psicologia do fantástico se vê acompanhada dos conceitos de imaginação, invenção, sonho e delírio. Referem-se à intuição psíquica, uma função especial que permite o acesso a imagens desconhecidas.
Esta forma de arte situa o homem no centro e o apresenta a um tempo desconhecido e misterioso. Centrando-se na psique, a arte fantástica se serve (em geral, mas não exclusivamente) das percepções inconscientes. Joga com as alteridades, surpreende, choca, desconcerta. Ela toma como objetivos as sensações e as emoções camufladas, assim como expressa sonhos e desejos. A fantasia (ou o fantástico) se move fora do âmbito do conhecido e pode ajudar na resolução de problemas, no desenvolvimento da criatividade, da genialidade, na conscientização de sentimentos e comportamentos. 
Cybele, não virou artista de uma hora para outra. Como toda artista verdadeira, já nasceu com sensibilidade e arte nas mãos, vindo a apresenta-la para apreciação de curiosos, simpatizantes e amantes da arte, na década de 70, período em que expôs no Salão Global de Pernambuco, nos festivais de arte de São Cristóvão, em João Pessoa e Campina Grande. Passou longo período trabalhando como psicóloga e professora, sem intensão de mostrar suas obras. Voltando este  ano a expor em Aracaju, no Centro Cultural Djenal Queiróz na ALESE (em junho), na exposição intitulada “LILITH, E O PODER FEMININO” e  agora, no Centro de Arte e Cultura J. Inácio (Coroa do Meio), onde reúne em  grande acervo suas produções de 2012 a 2016 e expõe para o grande público.
Sonhos, mitos e arquétipos femininos sob o domínio gráfico de Cybele Ramalho
No primeiro momento ao se deparar com telas pintadas por Cybele Ramalho, o observador sente a curiosidade de saber o porquê da presença de traços contornando as figuras. Conhecendo a fundo seu trabalho, pode-se constatar a tal decorrência: da exuberância no uso da técnica bico-de-pena.  
Psicóloga clínica, professora universitária, diretora do PROFINT, onde leciona em curso de pós-graduação em psicologia e psicodrama, Cybele traçou e seguiu seu percurso na vida, mas congelou apresentações públicas das suas obras por uma determinação pessoal.  Iniciou seu envolvimento com arte em 1974, mas logo a artista se manteve no anonimato, porém, sua produção ora contínua, ora esparsa. Neste longo período acumulou obras, guardadas reservadamente. Agora as apresenta para o público tomar conhecimento do quanto é vasta e vigorosa esta produção.  Sua verve a conduz para temas principalmente em torno do feminino, da fertilidade, dos mitos, das relações a dois e dos sonhos.  
 Enquanto devaneios do pensamento os sonhos arbitram os cenários instáveis e profundos do inconsciente. Decifrá-los é a grande tarefa inquietante, quando se está no estado consciente. A arte certamente é um veículo por onde podem transitar tais interpretações, ainda mais quando a autora desta é uma auscultadora da alma e se faz exímia na condução da pena pelo papel solícito em receber traçados reveladores e cores instigantes.
A arte tem essa capacidade universal de envolvimento.  Ela nos leva e eleva desde a contemplação sensível e confortável à profunda e inquieta reflexão da alma e trata de qualquer tema. Alma que os gregos antigos denominaram de Psiquê e a enredaram em um mito no qual Eros está inserido. Psiquê e Eros se constituem em um par que, alegoricamente, representa a busca mútua pela felicidade afetiva, a despeito das dificuldades e do esforço a ser empreendido para obtê-la no mundo.  Assim, o feminino e o masculino surgem em representações gráficas e pictóricas na obra de Cybele fazendo valer esta complementariedade dos opostos, importante para ambos.
No vasto universo da imaginação pessoal e da mitologia, invocando arquétipos, Cybele faz emergir nas suas pranchas deuses, semideuses, figuras mutantes, fortes, andrógenas e demoníacas, sem que se prenda ao raso maniqueísmo. Ainda que, nas explanações haja necessidade desta referência, a rica idiossincrasia humana, instintos, sensibilidade, racionalidade, paixões, vivências e ritos de passagem se evidenciam na sua obra. 
Os desenhos ricos em detalhes de Cybele Ramalho exigem-lhe paciência e habilidade. Dentre as figuras fortes que muito bem representam a mulher contemporânea, nas suas lutas por igualdade de gênero, Lilith, que seria a primeira mulher rebelde e corajosa, é representada em diversas situações. No que diz respeito à liberdade e criatividade, além das releituras das figuras mitológicas, a artista cria também personagens, como a Mulher Polvo e a Mulher Selvagem, como a sugerir releituras de Lilith e as expõe em situações particulares.  A pluralidade de planos, a organicidade e a geometrização de formas humanas, em muitos desenhos se integram a outras de animais com traços propositadamente pueris a dar um toque de ludicidade à obra. 
Se nos seus primeiros trabalhos o feminino despontava por interesse do estudo da alma, no momento atual seu tema preferido se mostra ainda mais requisitado sob a ótica psicossocial, em questões prementes.  
Sob o auspício de psicólogos se podem encontrar compreensão e conforto para a alma, os problemas reais, porém, precisam de ações práticas consequentes do próprio indivíduo em conflito. Agora a sociedade discute o assédio moral e sexual, as ações intimidadoras deletérias da alma, que  encontram na força física do agressor, no anonimato e no silêncio da vítima fortes aliados. Todas essas situações vexatórias decorrem das tradições patriarcais de origem tão remota quanto parecem ser infindas. Para se contrapor a esta agressividade aflitiva,  as mulheres se põem em alerta. 
A arte de Cybele, neste contexto, insere “Conflitos familiares” e “Relações amorosas,” obras que dão pistas de que a artista abraça este aspecto da causa. Também, na medida em que exalta a própria figura feminina, luta contra a construção psicossocial e cultural de estigmas e precoceitos contra sexo feminino e as desigualdades sociais - na obra “Retirantes” - e entre os gêneros.  É fato a importância feminina no que diz respeito à fertilidade. Em “A Grande Deusa da Terra’, Cybele exalta a mãe prima, aquela que dá origem a toda a vida na terra. Mas, a artista mostra que, na arte e na vida real  o valor da mulher não se limita à questão biológica. Inúmeras mulheres produziram e produzem em todos os campos de atividade, mas ao longo do tempo não tem sido dada a devida publicidade dos seus feitos.  A presença da sua imagem nos nossos dias tem sido tão forte, ao ponto de, em quaquer assunto informal ou decisão institucional a presença da mulher ter se tornado  uma exigência.
 Assim, a obra de Cybele, fruto da sua habilidade e intelecto, de prescrutadora da alma, leva-nos a reflexões profundas acerca da mulher, este ser importante que, desde os primórdio da humanidade luta para fazer valer suas crenças, valores e assegurar que, sem sua a presença a humanidade não progrediria. Vive-se agora o tempo em que os sonhos se despreendem do divã e invadem o universo real e possível.
*Antônio da Cruz
*Artista visual e cenógrafo.


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