Recanto do Chorinho celebra 29 anos de existência
Em homenagem ao legado de Egnaldo do Bandolim, amigos e clientes festejam no próximo dia 16.
Recanto do Chorinho celebra 29 anos de existência (Imagem: Pritty Reis/Assessoria do Evento)
“Aqui é lugar cativo. Quando conheci o Chorinho, passei a vir todos os domingos. Não me vejo sem essa diversão, sem esse entretenimento. Venho com minha filha e fico com saudades quando não posso vir. Nessa casa eu sinto muito bem, realizada, sem stress. Mesmo sendo da melhor idade, a sensação é de juventude”. É assim que dona Leide Maria define o Recanto do Chorinho. Cliente há mais de duas décadas, ela conta sua satisfação em fazer parte da celebração de 29 anos do restaurante, a realizar-se no próximo dia 16, a partir das 21h, no Parque da Cidade.
Frequentador assíduo, seu Aragão encontrou o seu lugar. “Me divirto há cerca de 10 anos com muita alegria, pois o Chorinho é diversão garantida e sadia. Além disso, o tratamento aqui é vip. As atrações alegram nossos domingos nesse ambiente alegre e tranquilo. Isso aqui é uma maravilha”, disse. A esposa, Nadja Maria, concorda. “Adoramos o Chorinho. É um lazer, uma casa maravilhosa que acolhe a todos com muita música e dança. Aqui é lugar de paz, relaxamento, interação com os amigos. Sentimos aquele aconchego, principalmente com dona Nenê. Eu observo o Chorinho como uma família”.
De acordo com o músico Saul, participante desde o início desse legado e componente da primeira formação do grupo Regional recanto do Chorinho, fazer parte dessa história é satisfação sem tamanho. “Egnaldo se foi, mas está presente entre nós. Nossa relação era bastante fraterna. Sentimos muito, mas ele deixou uma bela família, que, além dos seus parentes de sangue, reúne o nosso grupo, amigos, clientes e simpatizantes dessa cultura”, observa.
Também amiga de Egnaldo, a cantora Lene Hall embala os fins de tardes e noites dos domingos há oito anos, na Domingueira Favorita, maior atração do local. “Esse lugar é uma tradição, uma sementinha plantada por Egnaldo do Bandolim, que mantém vivo esse gênero musical brasileiro. É uma chama precisa se manter acesa. Através desse trabalho conduzido por Dona Nenê e Leidinha, essa história se mantém viva, o que é de grande importância. Eu contribuo com essa mistura de ritmos e hoje, espero que esse projeto se amplie cada vez mais, favorecendo a nossa cultura”, afirma.
Para Sérgio Thadeu, coordenador do projeto “Movimento do Choro Sergipano”, o Recanto do Chorinho é um lugar de incentivo e valorização à cultura. Sua entrada no ambiente do Choro veio através do seu pai, Thadeu Cruz, radialista e idealizador do Programa “Domingo no Clube”, da Rádio Aperipê. “Já faz aproximadamente quatro anos que participo do aniversário do Chorinho. Por conta desse envolvimento me veio a ideia de formar uma ação coletiva. Comecei a conviver com Egnaldo e a produzir eventos para reunir os chorões. Com o seu passamento, sua família sempre me convidou para auxiliar em algumas atividades. Este ano já comemoramos o “Dia Nacional do Choro” e o “Viva a Egnaldo do Bandolim. O Chorinho é referência fora do estado e queremos manter viva essa raiz”, frisa.
Dentre as atrações de aniversário estão o Regional Recanto do Chorinho, composto por Willame (violão), Difan (Bandolim), Saul (Cavaquinho), Souza (pandeiro) e Júlio (Tantã); Grupo Renovação do Choro; Valtinho do Acordeon; Dão Seresteiro; Alfredo; Nancy Alves; Anna Parecida; Vieira 7 Cordas; Odir Caius; Igor Cortes; Ecinho Rodrigues; Dentinho Craveiro; Lene Hall; Núbia Faro; entre outros.
Memórias
Reduto do Choro, a casa é um espaço aberto àqueles que fizeram parte dessa história e relembram, com emoção, o legado deixado por Egnaldo. Ao fazer parte da cena do Chorinho, seu Inácio Pereira, proprietário da casa "Chorinho do Inácio", traduz a singularidade desse gênero no Estado. Amigo do saudoso Egnaldo do Bandolim, ele conta sobre esse legado musical. "Egnaldo deu o pontapé inicial aqui em Sergipe para que, hoje, o Choro tivesse destaque na Música Popular Brasileira".
Foi no tradicional Recanto do Chorinho que o grupo Regional Recanto do Chorinho, consolidou espaço e admiração dos frequentadores. Um espaço cheio de alegria, que celebra a cada final de semana a riqueza musical desse som. "O chorinho é uma sintonia agradável, que todos ouvem. Dessa forma, simpatizei e montei um grupo, mas sempre participei do Regional. O Recanto é um reduto muito importante e, atualmente, existem dezenas de grupos originados desse pioneirismo que começou lá. No que depender de mim, sempre lembrarei desse movimento com muito carinho. É uma satisfação enorme", ressaltou seu Inácio.
Uma das vozes que contribuiu com a história desse segmento em Sergipe, a cantora Nancy Alves destaca a importância do movimento. "Sinto imensa gratidão e carinho em participar dos 29 anos do Chorinho. Desde a sua primeira localização, eu já era encantada com a beleza e natureza dessa cultura. Eu gosto muito de cantar, de ser parte dessa geração, onde vivenciei grandes aprendizados. É com honra e felicidade que recebo esse convite, sobretudo por fazer parte desse legado que Egnaldo deixou com muito carinho".
“A música é minha vida. Vou morrer tocando chorinho”
Nascido no município Sergipano de Malhador, o músico, compositor e bandolinista de choro Egnaldo Rodrigues dos Santos, conhecido como Egnaldo do Bandolim, ingressou na carreira musical ainda na adolescência, tocando cavaquinho. Com o incentivador Sr. Manoel Eleotério e inspiração no mestre Jacob do Bandolim, decidiu o Bandolim como instrumento. Nos anos 70, passou a residir em Aracaju, sempre rodeado pelas rodas de choro e de grandes amigos chorões. Dessa forma, foi intitulado de Pai do Bandolim sergipano.
Querendo deixar a profissão de caminhoneiro, depois de comercializar no Ceasa por 17 anos, a sua vontade falava mais alto em fazer o que apreciava. Sua filha mais nova, Lucileide Rodrigues, relembra o surgimento do bar. “Nas horas vagas meu pai sempre ia tocar no Bar de Tio Carlito, que ficava na esquina das ruas Bahia e Florianópolis. Depois que seu Carlito faleceu, os chorões de Sergipe ficaram sem um lugar para se reunir. Então, decidiram abrir um bar no bairro Siqueira Campos. No dia 13 de dezembro de 1987, o Recanto do Chorinho nasceu. Hoje, com toda certeza, ele alegra a todos, ao som dos acordes suaves. Ele sempre dizia que a música era a sua vida e que ia morrer tocando chorinho”.
No ano de 1998, o restaurante se estabeleceu o Parque da Cidade – zona Norte de Aracaju, onde funciona atualmente. Egnaldo deixou a vida terrena no dia 21 de Setembro de 2015, mas a família abraçou a responsabilidade de continuar. “Ele era nosso orgulho e somos todos apaixonados por ele. Essa missão não é fácil, pois tudo o lembra. No entanto, estamos mais fortalecidos. Realizamos algumas mudanças, mas tentando deixar tudo da maneira que ele gostava”, relata Vaudenlice Vieira, ou dona Neném, viúva de Egnaldo e administradora do restaurante.
Em 2010, Egnaldo lançou o primeiro e único disco, com composições da própria autoria, como “Cascata”, “Cadarço do Sapato”, “Daniella” e “Saudade do Bandolim” e de outros artistas.