Aracaju (SE), 19 de abril de 2025
POR: Assessoria Sombreiro Surf
Fonte: Assessoria Sombreiro Surf
Em: 24/01/2017
Pub.: 25 de janeiro de 2017

Sombreiro Surf de Aracaju: Entrevista com o shaper Marinho da prancha North Shore

Nos últimos meses alguns surfistas mais experientes do Sombreiro Surf  de Aracaju/Sergipe, optaram em testar novas marcas de pranchas. Firmino Neto foi o primeiro a aparecer na beira da praia com nova marca. O surfista tem vasta experiência na prática esportiva, muito surf no pé e passou a quebrar com a prancha North Shore.

Projeto União dos Shapers do Brasil (Imagem: Divulgação)

Projeto União dos Shapers do Brasil (Imagem: Divulgação)

“Estou amarradão. A prancha é muito solta, pra frente. Troco de borda com facilidade e já estou bem adaptado. Outro ponto é a laminação de boa qualidade e ótimo acabamento”, afirma Firmino.

Outro surfista que é Sombreiro Surf e que está com a Nort Shore no pé é Mattheus Fonseca. Com mais de 20 anos de experiência e vários invernos intensos em Thermas (extremo norte do estado) e na Praia das Dunas (litoral sul, cidade de Estância), Damata está com o espírito aloha, muito satisfeito com o torpedo 3D!

“A prancha é muito boa. Senti evolução logo quando remei. Estou mais seguro na linha da onda, e sinto facilidade em virar com pressão. A prancha mostra uma boa projeção nas manobras. Gostei muito, desde o shape até a laminação”, ressalta Damata.

Um fato interessante é que a origem da prancha North Shore é de Sergipe, e muitos surfistas locais desconhecem! O surfista e shaper profissional, Marinho Shaper, morava no conjunto Médice, zona sul de Aracaju. Na década de 80, Marinho pegava as ondas na Praia da Atalaia e admirava o surf competitivo de Claudio Tady, que estava em ascensão meteórica no nordeste.

Diante de fatos importantes no cenário surf aracajuano, o Sombreiro Surf apresenta a entrevista com o sergipano Marinho, fabricante da prancha North Shore, que reside e pratica o esporte em Maceió | Alagoas?. Conheça o trabalho talentoso que forma atletas competitivos cidadãos, projeta novos campeões nacionalmente e unifica e valoriza os shapers brasileiros através de um novo projeto.
 
GSSA - A galera do Sombreiro Surf lembra o seu tempo de moleque esperto nas ruas do Conjunto Médici, zona sul de Aracaju/SE. Também comenta o início da sua prática esportiva surf. Relate para os leitores um pouco da sua história entre os surfistas do Conjunto Médici. Qual foi ou quem foi a sua inspiração para começar a surfar? Quem te incentivou naquela época e qual era o shaper da sua primeira prancha?
MS -
Sou nativo do conj. Médici I, foi lá que nasci e me criei e tive o meu primeiro contato com o surf foi em 1983. Eu e meu irmão Ricardo tínhamos pranchas de isopor, então íamos com meus pais para a Atalaia, em frente ao Restaurante Tropeiro, e lá passávamos o dia surfando deitado nas marolinhas da beira. Minha primeira prancha de fibra eu comprei em 1985 com 14 anos, foi uma prancha usada que comprei na Swell Surf Boards, uma Radical Surfboards?, quadriquilha do shaper Ronaldo Barreto?, nessa época eu e meu amigo Fábio Santos que morava também no Médici, íamos para o Petroclube Petróleo Praia Clube? nos finais de semana e foi lá que peguei minha primeira onda em pé. O Fábio já surfava antes, então foi o cara que me influenciou na época, somos grandes amigos até hoje. No Médici já tinha uma galera que pegava onda, Alexandre, Betinho, Eudes e o Boy.
 
GSSA - Muitos surfistas experientes e a nova geração não sabem que você é sergipano e que iniciou a prática esportiva surf nas ondas locais. Como era o cenário surf naquela época? Quem surfava bem entre os seus amigos? Quais lojistas tinham destaque na cidade? Quais eram os melhores competidores locais?
MS -
Verdade, quando meus pais se aposentaram em 1991, meu pai resolveu que nós iríamos morar em Alagoas, pois ele e minha mãe são alagoanos, então muita gente da geração dos anos 90 não me conhece. Quem arrepiava naquela época era o Marcelino, Di Carrocel, Pranchas Saulo Moraes?, Jairo, Richard Barros?,... Mas o cara que em minha opinião arrebentava mais era o Claudio Tady, que na época era o laminador das pranchas Sequências. O cara era show dentro d’água, eu me lembro de que 90% das finais era entre o Tady e Saulinho, então na hora das finais a galera lotava a beira da praia para assistir, era quase o clássico de futebol: Sergipe x Confiança (risos).  As lojas que existiam naquela época era a Bum Bum do Fred, a Quiver do Beto Costa e Ananias e as lojinhas dos fabricantes de pranchas, Gulfstream, Swell, Ocean Side, etc...
 
GSSA - Quando você começou a shapear o seu primeiro bloco? Quem te inspirou na fabricação? Como era o cenário shape em Sergipe e qual profissional tinha o maior destaque na fabricação de pranchas?
MS -
Comecei a shapear em 1987, na verdade foi por necessidade, naquela época ainda existia muito preconceito com o surf e o surfista, então era muito difícil ter apoio por parte da família. Com 16 anos eu não trabalhava, então comecei fazer concertos nas pranchas dos amigos e assim ia fazendo uma grana para trocar de prancha. Foi assim que comecei a ter contato com shape, pois os blocos novos da Clark Foam eram caros, então fui descascando pranchas velhas e aproveitando os blocos delas para fazer outra prancha (reciclagem). Tudo de maneira bem artesanal, então eu comecei a surfar e competir com meus shapes e fazer para uma galera também. Um dia o Beto Costa e Ananias proprietários da Quiver Surf Shop, que ficava no bairro 13 de Julho (Academia Sport Connection), me chamaram para shapea umas pranchas de blocos usados da loja, foi quando tive a oportunidade de shapea um bloco novo da Clark Foam para o Alexandre Ventura (in memória) que era atleta da loja, e com essa prancha ele ganhou alguns campeonatos. A partir daí foi surgindo mais atletas querendo fazer pranchas comigo, foi assim que resolvi criar a North Shore Surf Boards em 1988. Aracaju, sempre foi um celeiro de bons shapers: Pedro (Swell), Wodson (Sea Fox), Adelino (Banzai), Thiago Cunha (TBC) e o Pedro Jorge (Abrasão Surf Boards) cada uma com seu estilo próprio. Eu admirava as linhas do Fábio Leite da Sequência, mas foi o Alemão da Power Shapers que realmente mais me influenciou em plena década de 80. O cara já mandava umas canaletas, wings e fundos concavos, etc... Tudo que vemos hoje de moderno o Alemão já fazia no século passado.
 
GSSA - Como nasceu a marca de pranchas North Shore no estado de Alagoas?
MS -
A ideia de montar a fábrica surgiu em 2013, quando eu me mudei de Maceió para Marechal Deodoro, morando na Praia Do Frances - Maceio, eu queria apenas montar uma sala de shaper e terceirizar a laminação, porém aqui em Alagoas a mão de obra qualificada ainda é muita escassa. Foi então quando decidi montar toda a estrutura da fabricação em 2014, e fui buscando conhecimento em novas tecnologias em programas de shapers e técnicas modernas de laminação e de matéria prima para a fabricação.
 
GSSA - No seu ponto de vista técnico quais foram as maiores mudanças na arte de shapear desde que você começou a sua carreira? O que você destacaria de mais importante na atualidade na fabricação de prancha pelo mundo a fora?
MS -
As maiores mudanças na arte de shapea foi o surgimento dos programas digitais de shape: o DSD, SHAPE3D. Com estas tecnologias o profissional shaper, além de um artesão também se tornou um projetista. Os shapes ganharam precisão digital em suas curvas e linhas, e o surfista tem a possibilidade de reproduzir uma prancha mágica com mais de 95% de precisão, gerando uma grande satisfação entre os clientes. O que mais se destaca hoje no mundo na fabricação de pranchas, além dos programas digitais de shape, são os materiais de laminação, hoje em nossas pranchas estamos usando o Klevlar, Aramida e o carbono, proporcionando maior durabilidade e menor peso do produto.
 
GSSA - Conversamos algumas vezes referente à valorização da nova geração competitiva de surf via privado Facebook. Quando você montou a primeira equipe North Shore? Quais surfistas obtiveram destaques naquele momento? Quem são os surfistas atuais que fazem parte da sua equipe de competição? Comente os principais títulos da sua equipe ao longo em 2016!
MS -
Hoje temos uma equipe de competição com 13 atletas em 4 estados do Nordeste, dos quais se destacam Wellington Reis (campeão brasileiro invicto em 2015), Amando Tenório (integrante do SuperSurf / Abrasp) e outros como: Anthony Davi, Natan Melo, Artur Guedes, Arthur Marinho, Lucas Ielson Surf, David Euclides, Erick Santos (campeão Alagoano 2016 – Fedeção Alagoana de Surf), Guilherme Carvalho, Carol e Erika em Alagoas. No estado de Pernambuco tem a Victória Andrade. No Rio Grande do Norte Jackson Silva e em Sergipe João Victor, André Nascimento e Kennedy. Em Alagoas fazemos treinamento funcional e surf treinos com 4 etapas ao ano.
 
GSSA - A sua equipe se manteve presente nos campeonatos de surf em Sergipe. Como você analisa o desenvolvimento do surf local nos últimos anos, qual (is) surfista (s) sergipano (s) que faz (em) parte da equipe North Shore?
MS -
Nos últimos dois anos, participamos das competições em Sergipe com frequência, pois além de eventos bem organizados e com boa premiação, tem o fator de ser minha terra natal, e aproveito para rever grandes amigos. Em Sergipe temos os atletas João Victor, Kennedy e André Nascimento. Analiso o surf de Sergipe precisando de mais apoio por parte do Governo de Sergipe, existe empresários que ajudam e que tem boas intenções, mas acredito que uma Federação Sergipana de Surfe mais atuante e participativa ajudaria mais ainda, acho que falta um pouco mais de sintonia entre as partes Federação de Surf/Empresários, em 2016 teve apenas 1 etapa do regional!!
 
GSSA - Comente o relacionamento e o desenvolvimento da prancha North Shore entre cada atleta da sua equipe? Paralelamente existe acompanhamento profissional junto aos atletas?
MS -
Temos um trabalho individualizado para cada atleta da equipe, gosto de ter o feedback dos atletas, assim ajuda a desenvolver a melhor prancha para cada um. Sou do tipo que gosto de estar na beira do mar assistindo os treinos e competições, vendo o que deve ser melhorado, faço um trabalho técnico/shaper.
 
GSSA - Qual o papel dos empresários da área surf shop no fortalecimento do desenvolvimento esportivo? Como você analisa a falta de investimento nos competidores profissionais sergipanos?
MS -
Sou do tempo em que toda surf shop tinha atleta. Acho fundamental você apoiar o esporte em que você tira o seu ganha pão, é uma sinergia... O surf movimenta hoje bilhões de dólares. É esporte Olímpico e temos campeões mundiais brasileiros. O que precisa melhorar no meu ponto de vista é uma maior valorização do atleta local pelos empresários da área surf wear. Outra coisa importante é uma maior valorização das marcas nacionais, durante a década de 90, tínhamos grandes marcas de surf wear aqui mesmo do nordeste que investiam pesado em atletas e competições. Porém com a infiltração das marcas gringas (internacionais) com todos os seus poderes de publicidade e financeiro, enfraqueceram nossas marcas que realmente apoiavam o surf, e estas marcas gringas levam para seus países de origem boa parte dos recursos adquiridos aqui no Brasil e investem em seus atletas na maioria das vezes estrangeiros. Hoje não temos nenhum circuito profissional Nordestino (Associação Nordestina de Surf) por falta de investimento! Em uma região que as marcas estrangeiras estão dominando nossas praias, e por muitas vezes os próprios atletas que reclamam da falta de apoio não valorizam as marcas locais.
 
GSSA - Muitos formadores de opinião no cenário surf mundial afirmam que a essência surf vem se perdendo ao longo dos anos. Atualmente o surf é moda, estilo de vida ou surf alma?
MS -
O surf ainda é um estilo de vida, mas para os verdadeiros surfistas! Claro que o apelo comercial na atualidade é forte. A indústria surf é bilionária e hoje as pranchas são vendidas como tênis na prateleira com todas as suas cores. Porém o surf é ainda e continuará a ser um prazeroso estilo de vida, mas para quem é um verdadeiro surfista.
 
GSSA - No seu ponto de vista quais informações importantes que um jovem surfista tem que obter em relação à compra de uma prancha pronta ou na fabricação? Qual é a diferença entre uma prancha pronta e uma prancha específica fabricada para um surfista?
MS -
Tanto para um jovem surfista ou para um veterano, a melhor forma de obter uma prancha é o contato com o shaper, tanto na loja quanto na encomenda este relacionamento shaper/surfista é fundamental. Se você perguntar para qualquer shaper do mundo ele vai responder que prefere a melhor forma de fazer um bom shape é o contato direto com o cliente, é quando o profissional shaper consegue capturar o desejo e necessidade do surfista.
 
GSSA - Quais são os modelos de shapes mais específicos para prática de surf nas ondas do litoral sergipano?
MS -
Tenho trabalhado muito para desenvolver modelos de pranchas próprias para as ondas sergipanas. São ondulações que proporcionam pouca energia, pois tratasse de um litoral em quase sua totalidade de fundo plano e raso. Tenho feito pranchas com artifícios de absorver mais fácil esta pouca energia e transformar em mais velocidade.  Canaletas, concaves e pouca curva de rocker são itens fundamentais para uma prancha funcionar bem nas ondas de Sergipe.
 
GSSA - Como você analisa a relação cliente x shaper? Quais os diferenciais que a North Shore tem em relação ao relacionamento com seus clientes?
MS -
A relação cliente/shaper faz parte da essência do surf! O shaper tem um cliente como um filho, este é o sentimento real, quando estou na sala de shape fazendo uma nova prancha. Fico a maioria do tempo pensando nas informações que o cliente passou, tentando sintetizar para o shape a necessidade do surfista, sempre peço para receber o "feedback" dos testes das pranchas, tanto com meus atletas ou clientes, verdadeiramente é uma relação pai e filho.
 
GSSA - Como você observa a valorização do profissional shaper no Brasil? O que você diria para um jovem que almeja em ser um shaper profissional?
MS -
O profissional shaper ainda não tem o reconhecimento merecido aqui no Brasil, não somos reconhecidos como profissão, isto torna difícil hoje você incentivar um jovem a ser shaper, é uma coisa que tem que ter muito amor e vocação.
 
GSSA - Explique detalhadamente o seu novo projeto que valoriza os shapers profissionais no Brasil, USBR - União dos Shapers do Brasil? Qual é objetivo e a importância do projeto para os mercados locais?
MS -
A USBR (União dos Shapers do Brasil), tem como objetivo principal a valorização dos shapers brasileiros. O Brasil sempre foi um poderoso celeiro de grandes shapers, temos nomes consagrados em todas as partes do mundo, atletas que já conquistaram circuitos mundiais tanto do WT ou QS (World Surf League / WSL Qualifying Series) com pranchas de shapers brasileiros, o que falta é uma maior união por parte de nós shapers e um maior reconhecimento por parte do surfista, do mercado. Queremos com este movimento trazer o cliente novamente para dentro da sala de shape. Se fizer uma pesquisa eu acredito que mais de 90% dos surfistas nunca entraram em uma sala de shape, ou ao menos conversaram com um shaper. É esta cultura que queremos trazer de volta, assim valorizando o profissional e suas marcas.
 
GSSA - Em relação a sua família, como é a cultura surf entre seus filhos e parentes? Quais são os valores que você perpassa para seus filhos que estão ligados intrinsicamente com a cultura surf?
MS -
Hoje tenho o prazer e satisfação de pegar onda ao lado dos meus filhos, Igor 19 anos e Arthur 18, tem o pequeno Kayan 2 anos também. O Igor me ajuda na oficina e Arthur é atleta da equipe.
 
GSSA - Deixe uma mensagem para os leitores do Sombreiro Surf e para os surfistas locais.
MS -
Manter a calma, acreditar que tudo é possível ao perceber que você está conectado com a natureza através do mar. Saudações galera do Sombreiro Surf!


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