Corrida de rua cresce no Brasil e exige cuidados para iniciantes
Com mais de 13 milhões de praticantes, a modalidade traz benefícios físicos e mentais, mas requer exames, orientação profissional e progressão gradual para evitar lesões

A corrida de rua é um dos esportes que vêm ganhando cada vez mais adeptos entre os brasileiros. Uma pesquisa recente, encomendada por duas das principais marcas que atuam no ramo, estima que mais de 13 milhões de pessoas pratiquem a corrida periodicamente no Brasil. O número coloca a corrida como a quarta modalidade esportiva mais praticada no país, perdendo apenas para o futebol, a musculação e a caminhada. E isso pode ser visto no início de cada manhã ou ao final de cada tarde, com muitas pessoas correndo sozinhas ou em grupo pelas praias, orlas, calçadões ou avenidas com calçadas mais largas.
Esse apelo tem levado cada vez mais pessoas a adotar a prática da corrida como “um estilo de vida”, que envolve um maior cuidado e regramento com o corpo, com a mente e com a alimentação. O objetivo é colher os inúmeros benefícios que ela traz para a saúde. Ela reduz o perfil lipídico, diminuindo os níveis de gorduras no sangue (incluindo colesterol e triglicerídeos) e melhora aspectos como a aptidão cardiorrespiratória, a função cardíaca, a atividade hormonal e as ações do sistema nervoso central, como cognição e velocidade de raciocínio.
“A corrida melhora o trabalho mental, a concentração e faz com que a pessoa tenha maior rendimento no trabalho e nos estudos, por exemplo. Além disso, ela ajuda no tratamento da ansiedade, depressão e dor crônica”, acrescenta a professora Thaysa Passos Nery Chagas, que leciona nos cursos da área de Saúde da Universidade Tiradentes (Unit).
Entre os que estão começando, existe uma dúvida comum: é melhor na esteira ou na rua? Estas duas formas tem os seus prós e contras, além de ser adequado de acordo com as metas e objetivos de cada praticante. “Correr na esteira é mais ‘fácil’, lógico que levando em consideração as mesmas velocidades e inclinação. Na esteira, há um menor impacto articular, menor ativação muscular, menor gasto calórico e mais monótono. Na rua (asfalto), além do que já foi citado, tem maior variação climática (vento, calor, chuva…), maior variedade no terreno e se promove maior adaptação funcional”, diz Thaysa, destacando que “jamais se deve só treinar na esteira para realizar uma prova na rua, precisa se expor ao ambiente real de prova”.
Começando com segurança
No entanto, começar este exercício requer uma série de cuidados, regras e métodos que podem prevenir lesões ou outros problemas de saúde causados pelo esforço físico. Eles começam pelos exames e avaliações médicas que irão verificar as condições de saúde. Essa verificação visa detectar possíveis condições pré-existentes e prevenir a ocorrência de lesões musculares, acidentes ou problemas cardiorrespiratórios que podem até provocar mortes, como a que aconteceu em junho deste ano, quando um rapaz de 20 anos que corria na Maratona Internacional de Porto Alegre (RS) não resistiu a um mal súbito.
“Esse risco existe sim, como em qualquer outra modalidade esportiva. Por isso, antes de iniciar a prática, é extremamente importante fazer exames e se certificar da condição atual de saúde. O exercício promove estresse ao corpo e ele precisa estar preparado para receber. Sabemos que a prática regular de exercícios físicos reduz a chance de apresentar fatores de risco cardiovasculares, e a prática sem orientação adequada pode se tornar uma grande inimiga, já que o surgimento de lesão ou dor pode afastar a pessoa da modalidade, o que se torna extremamente problemático”, alerta Thaysa.
Em seguida, o interessado deve buscar a orientação de um profissional habilitado de Educação Física, que ficará incumbido de preparar um programa de treinamento conforme as condições de cada pessoa. Este programa é o que definirá, por exemplo, o tempo e a distância que ela terá condições de correr. “Isso vai de acordo com o nível de condicionamento individual, dependendo do objetivo e do desempenho durante os treinamentos. Existem testes específicos para identificar a velocidade aeróbica máxima do praticante, e a partir daí, o treinamento é proposto em percentuais dessa velocidade. Por isso, é fundamental a prescrição realizada pelo profissional de Educação Física”, reforça a professora.
Ela explica ainda que a corrida se caracteriza como um exercício físico, pois deve ser planejado, individualizado e prescrito conforme o objetivo do corredor. E que existem dois tipos de praticantes de corrida: os atletas, que recebem salário pela prática e se dedicam exclusivamente aos treinamentos, buscando rendimento e pódios; e os praticantes recreacionais, que mantêm uma vida de trabalho e atividades familiares, mas buscam o esporte por lazer e bem-estar físico e mental. “Quem pratica a corrida, pratica o esporte ou a modalidade esportiva. A diferença está em quem está praticando”, resume.
A corrida pode ser praticada por qualquer pessoa, inclusive por pessoas sedentárias ou obesas, desde que respeitem a progressão dos treinamentos. “Qualquer pessoa pode correr, mas tem que tomar cuidado com excesso de treinamento e rápida progressão na modalidade. O praticante deve ser capaz de conseguir suportar o impacto, utilizando muito bem a musculatura e articulações envolvidas. Quem se lesiona na corrida, é porque está pulando etapas. A progressão deve ser feita com cautela e planejada”, disse Thaysa Nery.