Sua empresa não cresce? O problema pode estar dentro da liderança
Em um primeiro momento, pode parecer que a estagnação do crescimento empresarial é resultado direto do mercado, da economia ou da concorrência.
Mas a verdade é que a falta de visão ampla por parte das lideranças costuma estar no centro deste problema e o conselho consultivo torna-se o principal instrumento para mudar essa realidade.
A visão do conselho consultivo é aquela que ultrapassa os limites do operacional e expande a compreensão do negócio. É o que está por trás das decisões repetitivas, dos erros persistentes e da dificuldade em romper padrões.
Com ampla experiência no ambiente corporativo, atuando como Advisor à frente da MORCONE, auxiliando e orientando empresas, especialmente empresas familiares brasileiras a se estruturarem para chegar aos 100 anos, Carlos Moreira aborda os principais obstáculos ao crescimento empresarial e como a visão do conselho consultivo pode ajudar a superá-los.
Crescimento empresarial em risco – principais obstáculos
O entrave costuma estar dentro da própria empresa: uma liderança que sofre com limitações e está tão envolvida com o cotidiano do negócio que não consegue enxergar o todo, tampouco questionar os próprios vieses cognitivos que distorcem a percepção da realidade.
Os vieses cognitivos são mecanismos automáticos do nosso cérebro que influenciam as tomadas de decisão. Eles são necessários para agilizar raciocínios, mas também podem nos levar a conclusões equivocadas.
Um dos mais conhecidos é o viés da confirmação em que há a tendência a dar mais peso às informações que reforçam nossas crenças e ignorar as que as contradizem.
Estudos apontam que esse viés está presente mesmo em ambientes corporativos e profissionais.
Um estudo da Revista de Contabilidade e Organizações da USP (Universidade de São Paulo), identificou que gestores tendem a manter decisões iniciais, mesmo diante de novas informações.
No geral, o viés de confirmação e outros vieses cognitivos afetam decisões em áreas como gestão, finanças e direito, influenciando negativamente a racionalidade dos líderes.
Quando a liderança de uma empresa está envolvida demais com o dia a dia, acaba presa em uma bolha de percepção limitada e o resultado disso é:
- Repetição de estratégias ineficazes;
- Dificuldade em identificar oportunidades reais de crescimento;
- Resistência à inovação.
Visão externa que revela o que a gestão não está enxergando
É nesse ponto que entra o conselho consultivo. Um bom conselho não está ali para apenas validar o que os gestores pensam. Pelo contrário, ele deve desafiar ideias, trazer provocações e abrir novos horizontes.
Segundo o IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa), o conselho consultivo cumpre um papel fundamental ao proporcionar visões diferentes daquelas predominantes na gestão da empresa.
Esse órgão consultivo, formado por especialistas externos, contribui com conhecimento, experiência e imparcialidade, ajudando a diretoria a superar a “miopia” gerencial (comum no ambiente organizacional).
O conselho consultivo tem se mostrado essencial para melhorar a performance financeira, principalmente em empresas familiares ou de pequeno e médio porte, que geralmente concentram poder de decisão em poucos sócios.
Essa concentração pode gerar vieses como o “viés da autoridade” (não contrariar o que o fundador pensa) ou o “efeito halo” (quando o bom desempenho passado mascara problemas atuais).
Por que sua empresa não cresce? Três fatores merecem destaque:
- Falta de planejamento estratégico: sem metas claras, a empresa age de forma desorganizada, dificultando o crescimento sustentável;
- Dificuldade de execução: planos mal implementados perdem força e geram atraso nos resultados esperados;
- Não mensuração de resultados: sem monitoramento, decisões ficam baseadas em intuição, não em dados concretos.
O conselho consultivo atua diretamente nesses três pontos. Ele ajuda a traçar direções de longo prazo (planejamento), monitora se as ações estão sendo implementadas (execução) e questiona a empresa sobre métricas e indicadores (mensuração).
Visão do conselho consultivo: uma lente mais ampla e ajustada ao futuro
Empresas que contam com um conselho consultivo atuante têm mais chances de se preparar para os desafios da transição de gerações, da digitalização e da sustentabilidade.
Já abordei em outros artigos que o conselho também é vital para o processo de sucessão empresarial, trazendo racionalidade a um momento normalmente carregado de emoções e conflitos.
Isso ocorre porque o conselho não está emocionalmente envolvido com o histórico da empresa. Ele olha para o negócio com o distanciamento crítico necessário para apontar mudanças, prever riscos e propor novos caminhos.
Essa “visão de fora para dentro” tem se mostrado um diferencial competitivo cada vez mais valorizado.
Crescimento empresarial exige desconforto e coragem
Se sua empresa ainda não cresceu tanto quanto você gostaria, talvez esteja na hora de reconhecer que a liderança sozinha não dá conta de tudo. Mais do que isso, talvez seja o momento de abrir espaço para novas perspectivas e considerar contribuições externas.
Vale ressaltar que o ego pode ser um dos principais obstáculos ao crescimento de um negócio.
Quando o líder acredita que precisa ter todas as respostas ou que pedir ajuda é sinal de fraqueza, perde-se a oportunidade de evoluir com o apoio certo, no tempo certo.
Contar com a visão de um conselho consultivo não significa fraqueza. Significa maturidade de gestão. Significa abrir mão do controle absoluto para conquistar resultados mais sustentáveis e aceitar o desconforto do questionamento para crescer com consistência.
Vale lembrar:
- O conselho consultivo amplia a visão do negócio e ajuda a neutralizar vieses cognitivos da liderança;
- Atua como um parceiro estratégico, especialmente em planejamento, execução e análise de resultados;
- Traz distanciamento e imparcialidade para tomadas de decisão mais racionais;
- Prepara a empresa para o futuro, inclusive em momentos de sucessão.
Se você sente que sua empresa está presa em um ciclo de esforço sem resultado, talvez o que esteja faltando seja justamente uma nova forma de ver.
E essa forma não está em mais horas de trabalho, nem em mais planilhas: está na visão do conselho consultivo.
Carlos Moreira - Há mais de 37 anos atuando em diversas empresas nacionais e multinacionais como Manager, CEO (Diretor Presidente), CFO (Diretor Financeiro e Controladoria), CCO (Diretor Comercial e de Marketing). e Conselheiro Administrativo.