Preservação da mata atlântica e vida em plenitude :: Por DOM João José Costa
DOM JOÃ?O JOSÃ? COSTA - ARCEBISPO METROPOLITANO DE ARACAJU (Foto: arquivo pessoal)
Faz-se preciso despertar, educar e renovar as pessoas, despindo-as do comodismo, do “deixa estar para ver como fica” etc. A mata atlântica é o segundo bioma existente em terras sergipanas.
A Igreja Católica conclama a todos para uma espécie de mutirão em prol de salvaguardar os interesses da coletividade, quando está em jogo a salvação da mata atlântica e do planeta Terra. Por fim, a salvação do próprio homem.
Na mata atlântica ainda encontramos várias formas de vida e vários, digamos assim, sub-biomas. Um deles é o conjunto de manguezais que nós os temos de fora a fora, ao longo da nossa costa. Já os matagais interioranos há muito começaram a ser destruídos. O fogo e o machado sempre foram bons aliados do homem, sem distinção. Árvores de madeiras ditas de lei tombaram e tombam. A devastação em quase toda a composição da área da mata atlântica põe em risco a vida de tantas pessoas que enfrentam no dia a dia a luta dura pela sobrevivência. Que o digam os remanescentes dos nossos primeiros habitantes, os índios, os quilombolas, comunidades de pescadores etc.
A mata atlântica é um bioma de floresta tropical que abrange a costa leste, sudeste e sul do Brasil. Seus processos ecológicos evoluíram a partir do Eoceno (período do sistema terciário posicionado acima do Paleoceno e abaixo do Oligoceno, compreendido no intervalo de tempo geológico aproximadamente entre 55 a 35 milhões de anos), quando os continentes já estavam relativamente dispostos como estão. A sua formação vegetal está presente em grande parte da região litorânea brasileira. Ocupa, atualmente, uma extensão de aproximadamente 100 mil quilômetros quadrados. É uma das mais importantes florestas tropicais do mundo, apresentando uma rica biodiversidade.
Infelizmente, a mata atlântica encontra-se em processo de extinção. Isto ocorre desde a chegada dos portugueses ao Brasil (1500), quando se iniciou a extração do pau-brasil, importante árvore da mata atlântica. Atualmente, a especulação imobiliária, o corte ilegal de árvores e a poluição ambiental são os principais fatores responsáveis pela extinção desta mata.
É lamentável que a mata atlântica seja o bioma brasileiro mais ameaçado da atualidade. Um estudo feito pela ONG S.O.S. Mata Atlântica e o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), apontou que o desmatamento foi de 235 km² entre os anos de 2011 e 2012. As florestas foram as mais prejudicadas pelo desmatamento com perda de 219 km² de vegetação. A vegetação de restinga teve perda de 15 km², enquanto os mangues perderam 0,17 km². Licenças para desmatamentos irregulares e a indústria do carvão foram as principais causas deste desmatamento.
Dados mais recentes, divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em junho de 2015, apontavam que somente 14,5% da vegetação original (nativa) da mata atlântica permaneciam preservados. Hoje, não passam de 12,5% a soma de todos os fragmentos de floresta nativa acima de 3 hectares.
O Senhor da Criação, que nos legou um planeta com os mais variados recursos minerais, animais e vegetais, chama-nos para a grande missão de salvar o que Ele nos deu. Caminhamos de forma acelerada para o desmonte daquilo que nos compete revitalizar. Urge, pois, que tomemos consciência do nosso papel enquanto coautores da Vida, como podemos mesmo dizer.
O mundo injusto de que nos falam os antigos profetas parece nos atingir completamente, qual o raio que se abate sobre uma árvore frondosa, que, contudo, cai fumegando. Devemos querer um mundo onde a justiça triunfe. Daí podermos dizer, lembrando-nos da Campanha da Fraternidade do ano passado: “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca” (Am 5,24).
A nossa fé no Cristo Jesus nos anima a fazer com que sejamos justos com a Mãe Natureza, e, em especial, com o que nos resta da mata atlântica. Que sobre todos nós brilhe o fogo do Santo Espírito de Deus, para que, assim iluminados, possamos nos doar em defesa da vida.
Preservar os quinhões restantes da mata atlântica significa lutar pela vida em toda a sua plenitude. Lutemos, pois, seguindo o exemplo do espírito inquieto e revolucionário do Verbo de Deus que veio a nós, para nos salvar. Salvemos o bioma mata atlântica.
DOM JOÃO JOSÉ COSTA - ARCEBISPO METROPOLITANO DE ARACAJU
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