SOS Mata Atlântica aponta contaminação da represa que deságua no Velho Chico
Rejeitos da barragem de Brumadinho chegam ao rio São Francisco.
Represa de Três Marias, em Minas Gerais (Foto: Cemaden)
O rio São Francisco já foi contaminado pela lama de rejeitos da barragem da mina Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), que se rompeu em 25 de janeiro, deixando mais de 300 vítimas, entre mortos confirmados e desaparecidos. É o que aponta um estudo divulgado pela Fundação SOS Mata Atlântica nesta sexta-feira (22), Dia Mundial da Água.
A barragem da Vale liberou 13 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério de ferro no rio Paraopeba e, de acordo com o levantamento realizado pela Fundação entre os dias 8 e 14 de março, os contaminantes mais finos estão passando pela barreira da hidrelétrica de Retiro Baixo, em Felixlândia (a 193 km de BH), e seguem descendo até a represa de Três Marias (a 271 km de BH), que deságua no Velho Chico.
Dos 12 pontos analisados pela organização, nove estavam com condição ruim e três regular, o que torna o trecho a partir do Reservatório de Retiro Baixo, entre os municípios de Felixlândia e Pompéu até o Reservatório de Três Marias, no Alto São Francisco, com água imprópria para usos da população. Em sete deles, não foram encontrados peixes.
Nestes pontos, a turbidez estava acima dos limites legais definidos pela Resolução 357 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), para qualidade da água doce superficial. Em alguns locais, esse indicador chegou a ser verificado entre duas e seis vezes mais que o permitido pela resolução.
A Vale instalou cinco barreiras hidráulicas ao longo do rio Paraopeba para conter os sedimentos, mas o estudo da SOS Mata Atlântica mostrou que as concentrações de ferro, manganês, cromo e cobre também estavam acima dos limites máximos permitidos na legislação, o que evidencia o impacto da pluma de rejeitos de minério sobre o Alto São Francisco.
“O reservatório de Retiro baixo está segurando o grosso dos rejeitos, aquela lama que decanta, mas os rejeitos finos que vêm com metais pesados seguem rio abaixo”, afirmou Malu Ribeiro, coordenadora do programa Água da SOS Mata Atlântica, apontando ainda a necessidade de regulação dos órgãos de controle para impedir que haja um conflito entre as bacias hidrográficas, o que potencializaria os impactos ambientais nos recursos hídricos do país.
A mineradora ainda não se manifestou sobre o assunto. Em um comunicado divulgado no começo do mês, a Vale disse que “estabeleceu um plano de monitoramento da qualidade das águas, sedimentos e organismos aquáticos a partir de coletas diárias de amostras em 65 pontos nas bacias dos rios Paraopeba e São Francisco, cujos resultados parciais vêm sendo compartilhados diariamente com os órgãos competentes”.