Peixe-leão ameaça a fauna do litoral nordestino
O Peixe-leão não possui predadores naturais e se reproduz rapidamente - Foto: Governo do Ceará
O peixe-leão é a mais nova ameaça à fauna do litoral brasileiro. Espécie invasora, o animal já foi localizado em oito estados brasileiros: Amapá, Pará, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte e Pernambuco. No dia 2 de abril passado, o peixe foi também encontrado em praias da Paraíba. Venenoso, dotado de grande capacidade para se adaptar a diferentes ambientes marinhos, ele compete com espécies nativas por alimento e habitat, revelando-se uma ameaça para a biodiversidade local.
Originário do Indo-Pacífico, ainda não se sabe exatamente como essa introdução se deu: as teorias mais aceitas envolvem a liberação de peixes de aquário no mar. No Brasil, os relatos mais recentes de aparições de peixes-leão aconteceram em 2020. Quatro indivíduos foram encontrados em Fernando de Noronha e na costa do Amapá. Porém, por estarem a profundidades de aproximadamente 100 metros, e em baixa quantidade, sua presença não foi considerada alarmante. O cenário mudou em março de 2022, quando o primeiro indivíduo foi encontrado na costa do Ceará, a uma profundidade aproximada de 4 metros.
O peixe é considerado uma ameaça aos ecossistemas marinhos porque, além de apresentar alta capacidade de adaptação, não possui predadores naturais e se reproduz rapidamente. “Acreditamos que ele terminará por colonizar todo o litoral brasileiro”, diz Haddad Júnior. “É um carnívoro voraz, que pode se alimentar com quantidades equivalentes ao próprio peso em apenas um dia.” Também é uma vantagem importante o fato de que não possui um predador natural nestas águas. “A presença do peixe-leão pode alterar o ecossistema do litoral brasileiro”, avalia.
Veneno causa dor intensa
O contato com o veneno do peixe causa dor intensa, o que leva a náuseas, cefaleia, além de causar eritema e inchaço no local. A recomendação, em caso de acidente, é mergulhar a área afetada em água quente e procurar atendimento médico. Especialistas garantem que o peixe-leão não representa perigo para banhistas, uma vez que ele vive em ambientes recifais/rochosos e que acidentes com banhistas nunca foram relatados. Ademais, não há ainda registros de peixe-leão em locais com mergulho para fins turísticos ou recreativos no litoral do Nordeste.
Um indicativo da capacidade de adaptação é o tamanho dos indivíduos encontrados. Segundo Marcelo Soares, pesquisador do Instituto de Ciências do Mar (Labomar), da Universidade Federal do Ceará (UFC), os primeiros animais registrados tinham por volta de 14 cm e não se reproduziam. Agora, já é possível encontrar peixes com até 35 cm, além de fêmeas ovadas. “Eles estão se reproduzindo rapidamente e crescendo, logo também estão comendo”, diz.
Outra preocupação apontada por Soares é a eventual presença desses peixes em estuários, que são ambientes de transição entre o rio e o mar, que abrigam ecossistemas complexos como os manguezais, conhecidos como berçários para a vida marinha. Até então, o monitoramento da difusão da espécie não havia observado sua presença nesses ambientes. “Ao contrário do Caribe, nós temos muitos estuários. Mas, também acreditamos que sua presença esteja relacionada às marés. No Caribe não há grandes marés. Já nas costas norte e nordeste do Brasil, elas chegam a variar entre 4 e 8 metros. Pela observação das espécies nativas, sabe-se que essas variações terminam por levar os animais para dentro dos estuários”, explica.
Fonte: Jornal da Unesp