Avanço do Mar e Erosão Ameaçam a Praia do Saco em Sergipe
Conhecida por sua beleza natural e proximidade com o famoso Mangue Seco, na Bahia, a Praia do Saco, no município de Estância, enfrenta um grave problema de erosão costeira que compromete suas paisagens e afeta diretamente a vida de moradores e visitantes. O avanço do mar ameaça residências, áreas de preservação e toda a dinâmica ambiental da região, exacerbado por anos de intervenções humanas inadequadas.
Um estudo recente do Laboratório de Progeologia da Universidade Federal de Sergipe revelou que a situação vem se agravando, com o avanço do mar na região. Em 1992, a faixa entre a ponta do Saco e o pontal de Mangue Seco era de 3.000 metros; hoje, já são 5.500 metros. De acordo com o pesquisador Júlio César Vieira, a ação das marés e as características do estuário, que recebem as águas dos rios Piauí e Real, tornam a área vulnerável, especialmente quando intervenções humanas interferem na barreira natural de proteção costeira.
Beleza e Ameaça
A Praia do Saco é um refúgio natural de tranquilidade e paisagens exuberantes. No entanto, desde que a ocupação imobiliária começou na área há cerca de cinco décadas, a construção de imóveis e as tentativas de conter o mar com barreiras de pedra e espigões aumentaram o impacto das ondas em áreas mais sensíveis. Camilo de Lelis Ramos, presidente da Associação Comunitária de Moradores da Praia do Saco, descreve o drama dos moradores, que vivem em uma “tensão eterna”, à medida que o mar continua a avançar sobre suas propriedades. "Onde o mar chegou, ele não recuou mais. Só avançou", lamenta Ramos, mencionando que, nos últimos anos, pelo menos 14 casas foram desocupadas ou destruídas.
Ação Judicial Limita Intervenções
O processo de erosão é, no entanto, mais difícil de conter devido a uma ação judicial que há mais de uma década impede a realização de obras de proteção ou reformas nas áreas afetadas. Em razão de disputas legais envolvendo o uso da faixa costeira e o impacto ambiental das intervenções, a construção de muros de contenção e outras barreiras tem sido vetada, deixando moradores e autoridades em um impasse. O litígio envolve a Procuradoria-Geral do Estado e a Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semac), que tentam encontrar soluções para reduzir o impacto do avanço do mar sem ferir as normas de preservação ambiental e os limites impostos pela justiça.
Monitoramento e Planos de Ação
Em resposta ao agravamento da situação, a Defesa Civil de Sergipe está monitorando o local e desenvolvendo estratégias de mitigação, com o apoio de especialistas e organizações ambientais. Capitão Fabiano Queiroz, da Defesa Civil do estado, ressalta que parte dos danos se deve a construções em áreas inadequadas, além das forças naturais, e que o órgão está em diálogo com a Defesa Civil Municipal para definir ações conjuntas.
Enquanto as soluções são debatidas nos tribunais, a Praia do Saco segue em uma corrida contra o tempo. A erosão não ameaça apenas a integridade das construções, mas também a biodiversidade e o ecossistema local. Um levantamento batimétrico da foz do Rio Piauí está em andamento para entender se o aprofundamento do canal contribui para o processo de degradação da faixa de areia, visando bases mais sólidas para futuros planos de contenção.
Rumo a Soluções Sustentáveis
A Praia do Saco é um símbolo da beleza do litoral sergipano e uma parte fundamental do patrimônio ambiental e cultural da região. A preservação desse paraíso exige esforço coletivo, diálogo entre moradores, pesquisadores e autoridades, e a busca por soluções que equilibrem desenvolvimento e preservação. Até que uma decisão judicial permita a implementação de medidas mais robustas, resta à comunidade e ao poder público seguir acompanhando e atuando dentro das limitações impostas para proteger a costa e preservar o que ainda resta desse cenário tão singular.