World Cleanup Day: Projeto Povos das Águas participa de movimento global e promove a defesa e a limpeza do Rio São Francisco
Seguindo uma agenda de defesa da sociobiodiversidade e da diminuição dos impactos ambientais em todo o mundo, o Projeto Povos das Águas: Produzindo Vida e Preservando o Mar, realizado pela Associação dos Pequenos Agricultores do Estado de Sergipe (Apaese), em parceria com a Petrobras, através do Programa Petrobras Socioambiental e com o apoio do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), promove, no próximo dia 20 de setembro, com o apoio do Território Quilombola Brejão dos Negros, uma ação de limpeza da margem do Rio São Francisco, considerado um dos maiores e mais importantes do Brasil e que contribui para a sobrevivência de diversas famílias de comunidades tradicionais.
A ação de limpeza inicia às 8h30min, seguindo o tempo do rio, em momento de maré baixa. O local de encontro e de início do mutirão será no povoado Saramém, seguindo para o Quilombo Resina, uma das comunidades que fazem parte do Território Quilombola de Brejão dos Negros, em Brejo Grande. A proposta é estar com a comunidade em todos os processos da ação, realizando também um diálogo sobre a necessidade da preservação e a visibilidade para os problemas enfrentados pelas famílias de pescadores e pescadoras, agricultores e agricultoras, artesãs e artesãos e de outros ofícios que dependem da vida do Rio São Francisco para existirem.
O curso do rio que atravessa histórias
A comunidade quilombola da Resina tem um histórico de resistência importante, desde a luta pelo território, até a luta pelo direito de viver e usufruir do bem viver através do Rio São Francisco. Foi lá que a comunidade viu desaparecer todo o território do Cabeço com o avanço do rio e foi lá também que as mulheres e homens precisaram buscar outras fontes de renda por conta da salinização do rio, mas é lá também que a comunidade compreendeu a necessidade da organização para continuarem vivos.
“O Rio São Francisco carrega toda uma simbologia dos povos tradicionais e também é uma fonte de sobrevivência. A partir do rio, as pessoas vão buscar o sustento, como a pesca, as produções de arroz e todo o processo cultural em torno dele. A luta do povo quilombola é marcado pela disputa pela terra e pela água, e o rio é para o povo quilombola da Resina esse espaço de organizar a luta, como foi na luta contra a transposição e contra a especulação imobiliária e a instalação de resorts de luxo no território. O rio é tudo para eles, sem o rio não tem produção e não tem vida”, afirmou Elielma Vasconcelos, coordenadora pedagógica do projeto.
Inúmeras famílias ainda sobrevivem do rio em Brejo Grande, como é o caso de Maria Cecília do Nascimento, pescadora e integrante da Associação Remanescente de Quilombola Dom José Brandão de Castro. “Não tem como falar de alimento sem pensar no nosso rio, de onde vem nosso sustento, de onde vem a água que mata nossa sede, onde nos banhamos. Para tudo precisamos do nosso rio, mas a poluição está fazendo com que nossa riqueza seque, os peixes estão entrando em extinção. Eu venho também fazer um apelo para que não deixem o Velho Chico morrer, porque nós vamos morrer junto com ele, porque é de onde nos alimentamos, de onde pegamos água para as atividades do dia-a-dia. Não vamos deixar que o nosso rio morra”, destacou Cecília.
“Pra mim, o Rio São Francisco é o irmão mais velho, que quando os pais partem, ele ajuda a criar. O São Francisco foi e é a grande fonte de renda dessa região, tanto na pesca, quanto na agricultura por suas águas darem vida às plantas, aos bichos, ao povo. A gente precisa tratar ele bem, cuidar para que ele possa continuar dando vida a nós que somos ribeirinhos. Manter as árvores em pé, o solo saudável, as águas tratadas, vai fazer com que a gente o mantenha vivo, corrente e com retorno de qualidade de vida para nós e para as gerações futuras”, afirmou Eneias Rosa, quilombola e pescador artesanal, morador do quilombo Resina, do Território Quilombola Brejão dos Negros.
Sobre o World Cleanup Day
O movimento nasceu em 1986, sendo uma iniciativa do Ocean Conservancy, uma instituição internacional de conservação dos oceanos e da vida marinha. Desde então, instituições governamentais de todo o mundo passaram a apoiar as ações de voluntários que se organizam para a limpeza de rios, praias, canais e outros ambientes com curso das águas. Com a aderência das populações, a Organização das Nações Unidas (ONU) fixou a data em seu calendário oficial para o terceiro sábado de setembro. Em 2025, nos quatro cantos do Brasil, pessoas engajadas com a causa do meio ambiente se juntam para fazer uma pequena gota no oceano de possibilidades para reduzir a degradação das águas no planeta.
A atividade do Projeto Povos das Águas é aberta ao público que deseja contribuir com a ação e com a luta dos pescadores e pescadoras das comunidades ribeirinhas e quilombolas de Brejão dos Negros, em Brejo Grande.