A força das mulheres extrativistas da mangaba
Em de Sergipe, 90% de toda a fruta comercializada provém das áreas nativas nas quais populações tradicionais praticam o extrativismo há séculos.

A força das mulheres extrativistas da mangaba - Foto: Crea-SE
A primeira associação de Catadoras de Mangaba registrada em Sergipe foi a Associação das Catadoras de Mangaba e Indiaroba (Ascamai), criada em 23 de maio de 2009, com o objetivo de organizar as mulheres extrativistas tradicionais da mangaba para, através da organização coletiva, produzir e conservar a cultura com práticas sustentáveis em respeito ao meio ambiente.
De acordo com o professor e historiador da Universidade Tiradentes, Rony Silva, Sergipe é responsável por 90% da produção brasileira. Destacando-se mundialmente como o segundo maior produtor da fruta, em virtude da prática do extrativismo.
“A crescente valorização da mangaba, fruta nativa do litoral do Nordeste e cerrados do Brasil, no mercado regional contrasta com a avassaladora onda de privatização das áreas remanescentes de mangabeiras, quase extintas em alguns estados do Brasil, mas ainda significativas em outros. Esse é o caso de Sergipe, onde 90% de toda a fruta comercializada provém das áreas nativas nas quais populações tradicionais praticam o extrativismo há séculos”, conta.
Por meiodo Programa Socioambiental, a Ascamai foi apoiada pela Petrobras com contratos de patrocínios para a realização do projeto “Catadoras de Mangaba, gerando renda e tecendo vida em Sergipe - Fase I e II”, entre os anos de 2010 e 2015, com área de atuação em oito municípios e 26 comunidades do estado de Sergipe. Durante a execução desse projeto, 764 mulheres extrativistas foram cadastradas e passaram a compor esse importante lugar da auto-organização das Catadoras de Mangaba.
Nos últimos 20 anos, as catadoras de mangaba passaram a ter visibilidade das suas práticas extrativistas. “Este novo cenário teve contribuições resultantes de instituições de pesquisas envolvendo as catadoras de mangaba e também é resultado da auto-organização deste segmento de comunidade tradicional”, salienta professor Rony.
Atualmente, a Ascamai firmou novo contrato de patrocínio com a Petrobras para desenvolver o projeto “Rede Solidária de Mulheres de Sergipe”. O projeto Rede tem previsão de duração de 27 meses, envolvendo inicialmente 400 mulheres das áreas extrativistas da mangaba e do município de Carmópolis, com objetivo de promover o desenvolvimento de competências socioprofissionais, numa perspectiva de educação para o trabalho, enfatizando a valorização dos usos tradicionais e saberes da sociobiodiversidade em áreas urbanas e da restinga sergipana.
“A realização das ações do projeto garantiu a implantação de quatro Unidades de Processamento de Frutos, da restinga e dos quintais, nos municípios de Indiaroba, Estância, Barra dos Coqueiros e Japaratuba. São pessoas descendentes de quilombolas, caiçaras e sitiantes que se dedicam ao extrativismo da mangaba como meio de subsistência”, comenta.
“As conquistas advindas da organização das mulheres extrativistas da mangaba têm-se destacado no autorreconhecimento como catadora de mangaba e na defesa das áreas territoriais nativas de mangabeiras, fonte de renda e reprodução de conhecimentos singulares fruto da interdependência com o meio ambiente”, pontua.