O terror de volta a Paris :: Por José Lima Santana
José Lima Santana(*) jlsantana@bol.com.br
Um dia, o Terror foi implantado em França. Isso se deu entre agosto de 1792, quando ocorreu a queda dos girondinos, e 27 de julho de 1794, quando Maximilien de Robespierre, ex-líder dos jacobinos, foi preso. Durante esses dois anos as garantias civis foram suspensas. O governo revolucionário nas mãos dos membros da Montanha, a facção mais exaltada do partido jacobino, perseguiu seus adversários, levando muitos deles à guilhotina. Aproximadamente 17 mil pessoas tiveram os respectivos pescoços entregues à lamina da guilhotina. A face mais dura do terror fez-se notar entre meados de 1793 e meados de 1794. Até dezembro de 1794, outras 5 mil pessoas ainda foram guilhotinadas. De início, os jacobinos exerceram uma perseguição velada aos girondinos e, depois, a perseguição tornou-se sistemática, alcançando todos os que fossem considerados inimigos da Revolução, aí incluídos alguns jacobinos ou apoiadores desde sempre da Revolução, dentre os quais Danton. O terror de volta a Paris :: Por Jos Lima Santana (Foto: Reproduo/Internet)
Um órgão revolucionário, o Comitê de Salvação Pública, conduziu a política do Terror. A figura proeminente dessa fase negra foi Robespierre. Dizia-se, então: “A Revolução engoliu os próprios filhos”.
O mundo fala em fanáticos religiosos. Não, eles não são religiosos. Eles são apenas fanáticos. São simplesmente animais. O sagrado Alcorão dos islamitas não ampara o que foi feito em Paris. Fanatismo, qualquer que seja ele, cega as pessoas. Em nome de um suposto fanatismo religioso, líderes políticos (?) bestiais maldizem o Ocidente, além de se lançarem também contra outros muçulmanos. E o Ocidente tem, sim, a sua parcela de culpa, cuja raiz mais recente encontra-se, dentre outras, em operações bélicas levadas a efeito pelos ocidentais, sob a liderança dos Estados Unidos da América, a exemplo da deposição de Saddam Hussein, no Iraque etc. etc. etc. Criou-se um estado fragilizado, o novo Iraque. Uma porta aberta aos criminosos aproveitadores, que se encastelaram, sobretudo, em parte do território desse país e da Síria, esta há muito vivendo sob uma guerra civil sanguinária. Aliás, toda guerra é sanguinária. Inclusive, a guerra urbana cotidiana que vivemos no Brasil.
Na mesma sexta-feira, 13/11, o Estado Islâmico também atacou em Beirute, capital do Líbano. Já não foi o Ocidente o alvo dos terroristas, mas muçulmanos xiitas. Oriente versus Oriente. A luta por lá é, também, fratricida.
O estado islâmico, uma horda tão brutal que, talvez, deixe os exércitos de Átila, o temível destruidor huno do século V, o “flagelo de Deus”, como foi chamado, sendo vistos, hoje, como uma legião de anjinhos, tem sido, a partir de uma propaganda sedutora, um atrativo para jovens de origem muçulmana, espalhados por alguns países da Europa. Tais jovens se veem sem perspectivas de vida em terras de uma cultura diferente da cultura dos seus pais e avós. Sentem-se discriminados e “sem futuro”. Não somente se sentem, mas, na verdade, o são. Daí a aderir ao estado islâmico, é um pulo. Eles são atraídos por uma “causa”. Oferecem-se para combater por essa “causa”. Para morrer por ela. Para matar por ela. Esses jovens aliciados descendem de famílias que foram levadas para a Europa, a fim de servirem aos ricos europeus naqueles trabalhos que os colonizadores brancos e “civilizados” não se sentiam bem em executá-los. A maioria dos descendentes dessas famílias primitivamente para lá levadas ou por lá admitidas não foi integrada às respectivas sociedades.
Os ocidentais matam orientais com mísseis disparados a partir de drones, ou seja, das aeronaves não tripuladas. Os orientais não usam drones. Eles se usam. Para matar. Para implantar o terror. Os ocidentais têm matado muitos orientais, inclusive civis. O que fazemos, quando isso acontece? Pedimos desculpas. Lamentamos. E só.
O mundo deveria estar cansado de guerras, de morticínios. Todavia, é preciso fabricar armas. O mundo dito civilizado, altamente industrializado, vende suas armas para o ainda chamado “terceiro mundo”. E, então, o mundo dito civilizado acaba, querendo ou não, ajudando a fomentar a barbárie. E recebe as consequências. Ninguém, em sã consciência, quer a guerra, a mortandade, a barbárie, o terrorismo. Porém, tudo isso está na ordem do dia. E tudo acaba tendo um preço. Brutal, às vezes.
A Liga das Nações, criada para assegurar a paz, após a Primeira Grande Guerra (1914-1918) fracassou. Criou-se a Organização das Nações Unidas – ONU – com idêntico objetivo, bem mais burilado, é verdade. Erros? Muitos. Como é que, nos dias atuais, podemos aceitar a composição do Conselho de Segurança da ONU? Somente as maiores potências do mundo, ou seja, as chamadas potências aliadas da Segunda Guerra Mundial, quais sejam, EUA, Reino Unido, França e Rússia, além da China, integram o bloco dos membros permanentes do referido Conselho. Um absurdo! Essas potências são as donas desse pedaço do Universo, chamado Terra?
A ONU diz lutar para acabar com conflitos pelo mundo afora. Contudo, ela não luta para acabar com a fabricação de armas, com o tráfico de armas pesadas, de fuzis modernos a tanques e outros apetrechos bélicos. Por quê? Ora, quais os países que sustentam financeiramente os programas da ONU? Ou, quais os que mais financiam? Eis o problema. Exatamente, os que mais fabricam e vendem armas.
Os fanáticos estão por aí. Eles vêm aumentando em número. Aumentam os grupos radicais sanguinários (Talibãs, Al Qaeda, Boko Haram, Estado Islâmico etc.). Aumentam os seus seguidores. Quem os financia? De onde provém o dinheiro que eles pagam pelas armas que adquirem no “mercado negro”? Aliás, dizem alguns especialistas que o Boko Haram mata mais do que o Estado Islâmico. Bem, nesse caso, matam pobres negros africanos. O que temos a ver com isso? Nada? Que absurdo!
Bem. Muitas são as perguntas. E muitas respostas são esperadas.
Não podemos admitir a barbárie. Venha de onde vier. Do Oriente ou do Ocidente. Os dois lados têm se mostrado selvagens. Desde quando? Desde sempre. Não queremos defender os ocidentais, mas, a bem da verdade, a barbárie promovida pelos terroristas espanta pela frieza, pela crueldade desmedida. É preciso, entretanto, que nos voltemos, nós ocidentais, para o que fizemos e, também, sofremos, no passado e para o que ainda fazemos contra os orientais, hoje. Não somos donos do mundo. Não somos donos da verdade. Não somos donos dos destinos de todos os povos. Somos donos de muitas armas. Das mais mortais. E as vendemos a quem tem dinheiro para comprá-las. As consequências? Nós estamos experimentando. Dolorosamente.
Por outro lado, o ataque ao jornal satírico Charlie Hebdo, em 7 de janeiro passado, parecia ser o clímax da ação terrorista em França? Qual nada! O pior estava por vir. Ou ainda estará? Queira Deus que não! Abaixo o terror! Abaixo a morte!
(*) Advogado, professor da UFS, membro da ASL e do IHGSE
Publicado no Jornal da Cidade, edição de 22 de novembro de 2015. Publicação neste site autorizada pelo autor.
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