Nota 6 para João Alves Filho
Li, no Facebook, que o deputado federal André Moura teria atribuído nota 6 (seis) à gestão do prefeito de Aracaju, João Alves Filho, em entrevista ao jornalista André Barros (TV Atalaia). Se for verdade, e deve ser, entrando no terceiro ano de mandato, João Alves precisa, se puder e souber, fazer crescer sua imagem junto à opinião pública. E imagem de administrador só cresce administrando. E administrando muito bem. Não é isso, contudo, o que vem ocorrendo com o prefeito da capital. Pelo contrário. João Alves ainda não acertou o passo da administração aracajuana, em alguns setores. A administração alvista, em parte, continua tonta, igual a barata que comeu Baygon ou SBP.
João Alves ganhou a eleição de 2012 por causa do desencanto dos eleitores com a gestão de Edvaldo Nogueira, que, a bem dizer, não foi uma lástima, embora não tenha sido uma “belezura”. Mas o povo queria mudar. Para melhor. Conseguiu? Só Jesus na causa! Quantos desacertos...! Meu Deus! A situação de João Alves é aflitiva. Ele tem somente este ano. Parece ser pouco. Muito pouco, para recuperar o tempo perdido. Do jeito que a máquina administrativa anda, a passo de cágado, João tenderá a amargar uma derrota acachapante. É claro que os fatos de hoje podem não reverberar amanhã. O prefeito poderá dar a volta por cima. Não será fácil, mas também não se pode dizer que será impossível.
A nota 6 (seis) é muito pouco para um governante que pretende alçar-se à reeleição. E quem deu tal nota não foi um adversário. Não. Foi um aliado. Isso prova que a situação dele não é boa. E não é mesmo. A gestão de João é do tipo gangorra. Sobe e desce. Mais desce do que sobe. Está embolada no meio do campo. Não tem ataque. Ou seja, não avançou. Não avança. Avançará neste que, na prática, é o “último” ano de gestão? Sim, porque 2016 é ano eleitoral. Ano de tentativas de arrumações políticas. Administração para valer? Adequação na prestação de serviços? Obras necessárias, que encham os olhos dos eleitores? Quando? Aonde? João tem dinheiro para tocar obras? Tem como melhorar mesmo os serviços públicos, sem ser através de paliativos, a exemplo da saúde? Tem como melhorar a mobilidade urbana? Tem como cumprir o que prometeu? Seria bom. Para o povo e para ele.
Por outro lado, divulgou-se uma pesquisa, que coloca João um pouco atrás do ex-prefeito Edvaldo Nogueira. Quem diria! Edvaldo com 19,7% contra 19,2% de João. Meio ponto percentual do ex-prefeito à frente do atual prefeito. Como diria o saudoso colunista social, João de Barros, o Barrinhos, “sinal dos tempos”. E, ainda por cima, o 3º colocado é Valadares Filho, que perdeu apertado para João, em 2012. Ele aparece com 17,5%. Em 4º lugar, aparece Robson Viana, com 4,5%. E em quinto, Ana Lúcia, com 2,5%. Em suma, afora João, só dá a oposição. Somando os percentuais da oposição, João está na lona. Ora, dirão os alvistas, estamos em 2015. A eleição será dentro de 20 meses. É verdade. Porém, daqui para lá, tanto João poderá subir, quanto poderá cair.
Normalmente, eu escrevo os artigos entre a quarta-feira e a quinta-feira, que é o dia em que devo enviar à redação do Jornal da Cidade. Após escrever este, eis que, na manhã do dia 12, saiu outra pesquisa: João Alves com 20,8%; Edvaldo com 15,3%; Valadares Filho com 13,7%; Eliane Aquino com 12,1%, Robson Viana com 6,9% e Ana Lúcia com 4,3%. Embora João apareça na liderança, a soma dos percentuais dos outros citados, que são todos de oposição a ele, representaria uma goleada, igual à pesquisa anterior. É claro que na eleição a conta não seria bem essa. De qualquer forma, João terá que mostrar serviço. Muito, muito mais.
Já há quem diga que a oposição poderá sair com dois candidatos, com possibilidade de ambos chegarem ao segundo turno, deixando João Alves amargar o atoleiro eleitoral do terceiro lugar, como fruto do atoleiro administrativo. Atoleiro? Ora bolas, nem chovendo está, dirão os alvistas. Estão certos. Porém, ainda vai chover. João Alves que se cuide. Que se proteja, procurando melhor servir ao povo aracajuano. Do contrário, poderá sair encharcado da Prefeitura, enfrentando um ou dois candidatos do bloco liderado pelo governador Jackson Barreto.
Nota 6 (seis). João chegará a 8 (oito)? Ou a 4 (quatro)? O tempo nos dirá. Todo tempo é tempo de lutar. Tempo de correr atrás do trio elétrico, ou melhor, do que ficou para trás e ainda pode ser recuperado. O carnaval está querendo me atrapalhar. Que quero eu estar falando, aqui, em trio elétrico? Entretanto, pegando a deixa, “atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu”, como canta Caetano Veloso. Assim, em busca do tempo perdido (não a obra imortal de Marcel Proust), também só não vai quem já esticou a canela. E João ainda vive. Precisa de musculatura para se movimentar. Ele e a equipe, ou parte dela, que ainda anda ciscando, juntando terra nos próprios pés. O prefeito tem ao seu lado um braço forte, ágil, bom para pensar e para executar, que se chama José Carlos Machado. Mas, Machado parece meio amarrado. Não por culpa dele, provavelmente. O que falta para Machado ajudar muito mais ao prefeito? Sabe-se lá!
De qualquer forma, o jogo para 2016 pode ser antecipado. Há quem torça por essa antecipação. Para que os debates nas emissoras de rádio, por exemplo, comecem já. A mesa está pronta. O baralho também. Baralho novo? Que nada! Baralho velho com cartas marcadas, manchadas pelo uso, pela ação do tempo etc. É preciso um baralho novo. Mesmo que alguns jogadores sejam velhos. O baralho novo das ideias novas. E será possível que algum pré-candidato se apresente ao público com ideias novas, factíveis, e não mirabolantes como são do gosto de muitos homens públicos, nesse momento de crise política, econômica e ética em que vive o país? Sim. Nas crises as pessoas de bom senso se exercitam bem mais em busca de soluções para o que parece ser insolúvel. Alguém já disse, lá atrás, que “crise se vence com trabalho”. Os leitores devem se lembrar. O problema é que, mesmo para quem disse isso, o trabalho nem sempre é bem executado. Aí, então, a jiripoca pia. Deixe piar.
Enfim, vamos brincar em paz neste carnaval. E que todos, governantes e governados, despertem para as mais duras realidades da vida após os embalos de Momo. E como saudou o poeta Manuel Bandeira, no poema “Bacanal”: Evoé, Baco! Porém, que ninguém se dê ao desfrute de quaisquer tipos de bacanais. Que venham boas ideias e bom trabalho. Que o povo não seja esquecido. Na planície e no planalto. Amém.
Publicado no Jornal da Cidade, edição de 15 e 16 de fevereiro de 2015. Publicação neste site autorizada pelo autor.
(*) Advogado, professor da UFS, membro da ASL e do IHGSE
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