As fantásticas viagens (I) :: Por Fátima Almeida
Fátima Almeida airam22_fafa@hotmail.com
As fantsticas viagens (Foto: divulgao)
Lá pelos idos de 1958, eram raros os automóveis em pequenas cidades e lugarejos. Em minha pequena Ventura então, não tinha um sequer. Quando ouvíamos o ronco de um motor, era uma festa e a curiosidade logo contagiava a todos. Quem será? De vez em quando, víamos passar um JEEP, dos proprietários de uma fazenda próxima. Em outras ocasiões era o viajante, como era conhecido o vendedor que visitava clientes em suas lojas e agendava pedidos de peças de tecidos. Assim era feito o abastecimento do comércio. Dias depois da visita do viajante a mercadoria chegava à Estação Ferroviária mais próxima, acondicionada em fardos e de lá papai a retirava e transportava para casa em burros ou em carros-de-boi, conforme a necessidade. As mercadorias do armazém também chegavam do mesmo modo, salvo, quando a compra era grande e valia a pena pagar um frete de caminhão.
E as viagens então!...
Como era maravilhoso viajar! Eu nem dormia de tanta ansiedade. Quando era em carro-de-boi, antes das quatro da manhã estávamos de pé, às voltas com os preparativos. Um carro -de -boi que se prezava possuía no mínimo, oito bois ou como lá diziam, quatro juntas. Os bois atendiam por nomes engraçados e peculiares como: Delicado, Janjão, Ligeiro, etc. O eixo do carro era apertado e lubrificado com banha de porco ou azeite, para fazer o carro cantar, Essa era uma das coisas que encantava naquele transporte. O carreiro que o conduzia era sempre uma pessoa experiente e tinha uma grande responsabilidade e muita arte. Para incitar os bois a seguir em frente entoava uma cantiga típica e por vezes, melancólica. O guia ou candeeiro (assim chamado em algumas regiões) seguia na frente, mostrando a direção.
Para uma viagem confortável, o carro era então preparado. Eram colocados arcos em madeira fina e maleável para sustentação da cobertura, que por sua vez era uma lona grossa que nos protegeria das intempéries. Lá dentro eram acomodadas as bagagens, e no espaço maior um colchão, travesseiros e cobertores, onde nos enroscávamos e dormíamos até que o dia esquentasse um pouco para desfrutarmos da paisagem maravilhosa. Humm!... Aquele cheirinho de mato!...O cantar das rodas do carro e a toada do carreiro, eram tudo de bom. Papai nos acompanhava montando o cavalo Ruzilho ou o Prevenido e estava sempre atento a qualquer imprevisto. Por volta das dez horas, parávamos para fazer um lanche, caminhar e tomar um pouco de sol (nesse tempo não fazia mal). Ao meio dia, a previsão era parar perto de um riacho de água límpida e transparente onde almoçávamos aquela farofinha deliciosa com frango assado. E a viagem continuava. No percurso, papai ia colhendo para nós uma diversidade de frutas silvestres como marmelo, araticum, araçá, jabuticaba, entre outras.
Lá por volta das seis da tarde, chegávamos a Lagoa Redonda onde embarcaríamos no trem. Tínhamos duas opções: O MOCHILA, lento demais e o RÁPIDO, que fazia jus ao nome.
Mas esse será outro capítulo dessa saudosa lembrança!
Por: Fátima Almeida - Escrito em 09.03.2011
Nota:
Introduzido pelos colonizadores portugueses, o carro de boi difundiu-se por todo o país.
Em alguns municípios, como em algumas regiões do interior brasileiro, ainda há fazendeiros que realizam mutirões de carros de bois para transportar suas produções agrícolas e também outros produtos.
O som estridente característico do carro de bois, chamado de canto, lamento ou gemido, também faz parte da nossa cultura.
Dotado de uma estrutura que não possui o diferencial, suas rodas travam durante as curvas. Quando em movimento, o autêntico carro de bois emite um som estridente característico - o cantador - que anuncia a sua passagem.
Fonte: Wikipedia