Aracaju (SE), 02 de novembro de 2024
POR: Fátima Almeida airam22_fafa@hotmail.com
Fonte: Fátima Almeida
Pub.: 18 de julho de 2015

Mitos Folclóricos e Assombrações :: Por Fátima Almeida

Fátima Almeida  airam22_fafa@hotmail.com

Imagem Google ? do filme MORTE E VIDA SEVERINA

Imagem Google ? do filme MORTE E VIDA SEVERINA

Quem nunca ouviu falar sobre “coisas estranhas” que acontecem em alguns lugares? São “causos” fantásticos, “lendas urbanas”, contadas por nossos antepassados, que nos deixavam arrepiados.
Em minha Ventura, não era diferente. Muitas vezes perdi o sono ao ouvir cantos de pássaros e gritos de animais que me intrigavam. A viuvinha, que passava as noites lamentando a perda do marido:- “meu amado foi, foi, foi e não voltou.” O pica-pau, batendo na madeira, a coruja rasga-mortalha, que segundo a lenda, quando passava sobre uma casa anunciava a morte de alguém, piados que me diziam ser de cobras perigosas que podiam estar por perto e uma infinidade de sons noturnos me mantinham em alerta, mas nada era comparado ao pavor que eu sentia, quando na madrugada, batiam à nossa porta, para comprar aviamentos para funeral.

Como a nossa era a única casa comercial nas proximidades, na hora que o “suplicante partia” começavam a providenciar a urna funerária, popularmente chamada de “caixão de defunto”. Papai acordava e solícito, os atendia para vender os tais “aviamentos”. Apavorante também era ouvir o serrote e o martelo do marceneiro, anunciando o “passamento”. Enquanto familiares, amigos e curiosos bebiam o defunto, as mulheres rezavam terços, ladainhas e cantos que em outras comunidades eram substituídos pela famosa incelença. E o sino? Deus! Era terrível. Tinha “toques” fúnebres distintos para “anjos” e “pecadores”. Tudo isso, muitas vezes chegava até os meus ouvidos e aí era que o medo dominava.

Mas ainda havia algo pior: acordar na madrugada com vozes e passos apressados de homens que conduziam “mortos” enrolados em redes, ao cemitério local. Vinham de muito longe, me disse papai.  Certa vez, achei de esgueirar- me numa brechinha da janela para vê-los. Pensem na cena: Uma tenebrosa noite de inverno. Em meio à escuridão total surgiam tochas que iluminavam o caminho para um cortejo, no mínimo, bizarro. Homens enlameados correndofalando muito alto, conduzindo um corpo sem vida, enrolado como um charuto, pendurado a uma vara firme onde de dois em dois se revezavam para descansar os ombros.
Curiosidade cara! Fiquei em choque por um bom tempo, mas o que me intrigava mesmo era o horário. Em minha fantasia, aquilo devia ser um ritual de magia negra. Mais tarde pude constatar esse costume lendo Morte e Vida Severina, onde João Cabral de Melo Neto, soberbamente o descreve.
E assim eram as altas horas em Ventura, mas não pensem que acabou, voltarei para contar mais “histórias extraordinárias". Aguardem!

Por Fátima Almeida escrito em 18/07/2011

Fátima Almeida  airam22_fafa@hotmail.com

 

Notas: 

As Incelenças, também denominadas Incelências constituem uma forma de expressão musical típica da Região Nordeste do Brasil.  É uma coletânea de pequenos cânticos executados especialmente em virtude de falecimentos.

Apresentam uma estrutura rítmica bastante simples e compõem-se sempre de doze estrofes - o número dos apóstolos de Cristo, idênticas à primeira exceto pela marcação numeral no início de cada uma. A execução de tais cantigas é feita sem acompanhamento instrumental, sendo, geralmente, iniciada por uma ou mais vozes femininas, que cantam os primeiros versos de cada estrofe e às quais se segue um coro em uníssono, entoando os demais.

Acredita-se que uma vez iniciada a execução das incelenças não podem ser interrompidas, nem mudados seus executantes, sob pena de a alma do falecido não alcançar a salvação.


Canta-se "Uma incelença..." para a primeira, "Duas incelenças..." para a segunda, e assim sucessivamente até se cantarem doze, conforme se pode observar nesta conhecida incelença:

Em se tratando do velório de crianças, as estrofes se repetem apenas nove vezes. 

 

Uma incelença entrou no paraíso

Uma incelença entrou no paraíso

Adeus, irmãos, até o dia do juízo

Adeus, irmãos, até o dia do juízo

          (...)

Doze incelenças entrou no paraíso

Doze incelenças entrou no paraíso

Adeus, irmãos, até o dia do juízo

Adeus, irmãos, até o dia do juízo

 

O objetivo principal do ritual da Sentinela seria o de "convencer" a alma do falecido - que permaneceria entre os convivas até o fim da celebração - a seguir ao destino que lhe é reservado. Este ritual, que, segundo a crença marca a cisão definitiva entre o corpo e a alma do falecido, tem como ápice o canto da Incelença de Despedida ou de saída, onde os familiares despedem-se de seu ente querido desejando-lhe um bom destino.

Fonte: Wikipédia

Tocha - Pedaço de bambu, trabalhado no seu interior para servir de depósito para combustível (querosene) e com pavio de tecido ou algodão, usado para iluminar.


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