Morar longe da família: como a experiência universitária acelera a independência e a maturidade

Estudar em outra cidade estimula autonomia financeira, organização e inteligência emocional

Arrumar as malas e sair da casa dos pais para estudar em outra cidade, estado ou país é um dos marcos mais importantes na vida adulta. Isso porque, ao fazer essa mudança, um importante rito de passagem acontece, aquele no qual a relação de total independência com os responsáveis precisa ser quebrada, deixando espaço para novas responsabilidades, cuidados e importantes tomadas de decisão sozinho.

Ao fazer a mudança, o jovem se vê obrigado a lidar com questões que antes não precisava, como administração financeira, cuidados com a casa e muitas outras. 

Dinah Saraiva de Miranda, moradora do Piauí e estudante de cursinho pré-vestibular em São Paulo, agora aprovada em medicina no Rio de Janeiro, destacou, em entrevista ao portal G1, que a conquista é menos impactante justamente por já ter vivido a experiência de estudar longe de casa.

"A sensação é de que estou indo agora para outro mundo, outro contexto. Mas eu me sinto mais forte para enfrentar isso agora que eu já passei por essa primeira mudança", comenta.

A fala de Dinah reforça como a experiência de estudar em outra cidade pode ir muito além da formação acadêmica, contribuindo também para o amadurecimento emocional e para a vivência de novas experiências.

Desafios do dia a dia longe da família

Assim que se inicia a vida adulta, optar pela moradia longe do núcleo familiar permite que o jovem lide intensamente com todos os desafios que serão enfrentados pelo resto da vida adulta.

Fazer a gestão financeira da casa, lidar com contas, imprevistos e organizar tudo isso de forma que seja possível conciliar com os estudos é um dos maiores desafios para os recém-adultos.

Além disso, a rotina intensa da faculdade, que muitas vezes ocupa boa parte do dia, pode tornar ainda mais desafiadora a manutenção da organização doméstica e do próprio autocuidado. Estes dois elementos são importantíssimos para o desenvolvimento, já que eles refletem de forma significativa o bem-estar.

Melhora na maturidade emocional

Já a maturidade emocional é desenvolvida de forma ainda mais rápida quando há a obrigação de estar longe de sua rede de apoio. Sem a supervisão direta dos responsáveis, o jovem se vê obrigado a tomar suas próprias decisões e lidar com os problemas da rotina de forma autônoma, aceitando as consequências.

Essa necessidade de resolver conflitos e lidar com as frustrações dá ferramentas para que o jovem adulto construa uma inteligência emocional, além de se tornar uma pessoa mais resiliente.

Construção de rede de apoio fora do núcleo familiar

Outro aspecto significativo que leva o jovem a marcar o rito de passagem é a possibilidade de conhecer novas pessoas de confiança e criar vínculos longe de seu ambiente familiar.

Em entrevista ao jornal Washington Post, o psicólogo Peter Gray, autor de uma pesquisa que aborda diversos temas da infância, disse que a construção da independência pode começar ainda quando os filhos são crianças. Para ele, é preciso que elas convivam com outras crianças, aprendendo com suas experiências através da exploração em conjunto.

Embora este estudo seja com foco em crianças pequenas, ele pode ser utilizado para entender a importância do convívio do jovem recém-adulto com pessoas da mesma idade, vivenciando as mesmas experiências, como a de viver em uma moradia estudantil, dividindo tarefas e responsabilidades, que é apontada por muitos como transformadora.

Por fim, é importante frisar que, apesar de o rito de passagem ser importantíssimo para o desenvolvimento e a construção da independência, ele não deve ser encarado como uma obrigação, mas, sim, como uma etapa natural de crescimento, deixando a experiência mais leve.