Pesquisa identifica parasitas encontrados em peixes do litoral sergipano
Estudo em espécies como atum e vermelha identificou a presença destes microrganismos; possível relação com efeitos do derramamento de óleo nas praias em 2019 é investigada.
Espécies de peixes lutjanídeos, conhecidos como ??vermelha?, passaram por análises necroscópicas e de laboratório - Foto: Asscom Unit
Os peixes também podem ser afetados por microorganismos que podem afetar inclusive os consumidores humanos. Este é o caminho seguido por uma pesquisa realizada na Universidade Tiradentes (Unit), através do Programa de Pós-Graduação em Saúde e Ambiente (PSA) e com participação de alunos da Iniciação Científica. Ele estuda o conjunto de parasitas que vivem em determinadas espécies de hospedeiros, como os peixes atum (scombridae) e vermelha (lutjanidae).
A estudante Victória Garcia Peres, do curso de Biomedicina da Unit, que atuou no projeto de iniciação científica - Foto: Asscom Unit
De acordo com Victória, o projeto está inserido na linha de pesquisa "Estudo de ecossistemas aquáticos e saúde ambiental" e teve o objetivo de caracterizar a infecção por metazoários parasitas nos níveis de infracomunidade e comunidade em peixes da família Lutjanidae, coletados no litoral de Sergipe e regiões vizinhas. “Esse estudo é importante para a sociedade, porque através dele as pessoas vão entender como a fauna parasitária ajuda indicando como está o ambiente marinho”, resume.
Os peixes foram adquiridos através de pescadores artesanais de Aracaju e passaram por uma análise macroscópica e microscópica no Laboratório de Biologia Tropical (LBT), do Instituto de Tecnologia e Pesquisa (ITP), onde foram identificados e analisados os parasitas presentes nestes peixes. Entre eles, estão os anisaquídeos, larvas de helmintos que são parasitas potencialmente zoonóticos. “Eles são encontrados apenas dentro do animal, na musculatura e/ou na cavidade geral do peixe. Normalmente não afetam a saúde do peixe, mas podem eventualmente causar sintomas gastrointestinais no homem, se ingeridos acidentalmente”, explica a estudante.
Ainda de acordo com ela, os parasitas de peixes podem servir de bioindicadores do impacto ambiental, porque eles são sensíveis às alterações do ambiente em que vivem. “Isso ocorre porque a sobrevivência e reprodução dos parasitas dependem da presença de outros organismos, como microcrustáceos e outros peixes hospedeiros, que podem ser afetados por alterações no ecossistema”, diz Victoria.
Manchas de óleo?
Outro aspecto investigado é se existe alguma relação destes parasitas com o derramamento de uma carga de óleo cru no Oceano Atlântico, que poluiu mais de 230 praias de todo o litoral do Nordeste brasileiro, do Espírito Santo e do Rio de Janeiro, entre agosto de 2019 e janeiro de 2020. A estudante ressalta que ainda não há conclusões claras sobre a possível relação entre o crescimento destes parasitas e as manchas de óleo derramado no oceano. Para ela, “precisa-se de mais estudos para determinar a influência do derramamento na variação das populações parasitárias” dos mares sergipanos.
Estima-se que mais de 5 mil quilos de óleo cru foram derramados no mar, causando prejuízos incalculáveis para as populações locais e para o meio ambiente, configurando-se como um dos piores desastres ambientais já ocorridos no Brasil. “Foi muito triste e desesperador ver como plantas aquáticas, peixes, aves e as pessoas sofreram e até hoje sofrem com isso, as praias ficaram poluídas com as manchas tóxicas espalhadas pela areia. Para mim é mais triste ainda não saberem quem são os responsáveis por essa tragédia”, desabafa.
Iniciação científica
Prestes a concluir o curso de graduação neste ano, Victoria Peres participa ainda de uma segunda iniciação científica, no projeto "Ciclo biológico em condições laboratoriais de diferentes espécies de Triatominae (Hemiptera: Reduviidae)”, um inseto conhecido popularmente como barbeiro e que é o principal transmissor da doença de Chagas, um mal que registra cerca de sete milhões de infectados em todo o mundo e 10 mil mortos por ano nas Américas, segundo dados da Organização Panamericana de Saúde (Opas). A pesquisa também tem a orientação da professora Cláudia Moura.
A aluna conta que se interessou pela iniciação científica por gostar de se aprofundar em temas e assuntos diferentes, proporcionados pela ciência, além de ser uma oportunidade para o crescimento profissional, aprendizado e reconhecimento. “A iniciação científica é importante pra mim porque foi através dela que consegui aprender muitas coisas, não só sobre parasitas e peixes, mas de outras áreas também e foi fazendo iniciação científica que consegui sair da minha zona de conforto, escrevendo bastante e apresentando seminário. Acabou sendo uma ótima oportunidade não só para meu currículo mas também para adquirir bastante conhecimento e habilidades na pesquisa”, afirma ela, que pretende seguir com a carreira acadêmica e se prepara para fazer os cursos de mestrado e doutorado.