Estudante sergipana participa de estudo sobre sistema de pâncreas artificial
Tecnologia usada no controle do diabetes tipo 1 faz a infusão de insulina em pacientes, a um custo menor e com maior segurança; estudo sobre a eficácia do sistema foi apresentado em recente congresso no Estados Unidos
A estudante de Medicina Maria Eduarda Dantas, da Unit, que apresentou um trabalho no Congresso Americano de Diabetes, em Orlando (EUA) - Foto: Acervo pessoal
Um sistema alternativo de pâncreas artificial pode tornar mais acessível um tratamento considerado eficaz no controle da diabetes. Ele foi objeto de um trabalho científico que foi apresentado no recente Congresso Americano de Diabetes, em Orlando (Estados Unidos), e que contou com a participação da estudante sergipana Maria Eduarda Pereira Dantas, do 9º período de Medicina da Universidade Tiradentes (Unit). O estudo se debruçou sobre a segurança e eficácia do sistema Android APS, que faz a infusão contínua de insulina em pacientes com diabetes tipo 1, no qual o pâncreas produz pouca ou nenhuma insulina.
O chamado “pâncreas artificial” é um sistema que funciona através de uma bomba de insulina que é fixada no corpo do usuário e injeta a substância a partir de um sensor de glicemia, que mede o nível de glicose (açúcar) presente no sangue e vai controlando a quantidade de insulina. “Com esse sistema, se o sensor viu que a glicemia está baixa, ou caindo, a bomba vai suspender ou diminuir a infusão de insulina no corpo. O mesmo vale para quando a glicemia está alta ou subindo. O sensor detecta, a bomba vai lá e aplica a insulina”, explica Eduarda.
Ainda de acordo com ela, o sistema Android APS pode ser usado por qualquer tipo de diabetes, só que é que mais usado por diabéticos do tipo 1, isto é, que precisam repor completamente a insulina que não é produzida. O AAPS, como também é conhecido, não é comercializado e foi desenvolvido por uma comunidade de pessoas que têm diabetes tipo 1 ou são parentes de pacientes, que decidiram criar uma alternativa mais barata e mais acessível.
O estudo, que teve a orientação das professoras-doutoras Tássia Virgínia Oliveira, da Unit, e Melanie Rodacki, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), concluiu que o AAPS tem um custo muito menor do que os sistemas comercializados no mercado. “Ele traz uma menor hemoglobina glicada e mais tempo dentro do alvo, ou seja, mais glicemias estáveis para as pessoas que têm diabetes, só que com um custo muito menor. E no Brasil, o custo é um ponto muito importante, já que várias pessoas não conseguem ter acesso à tecnologia. O ponto principal foi essa questão de levar a tecnologia a um custo menor. É isso que o Android APS faz e a gente conseguiu mostrar que ele é um sistema seguro”, destaca Eduarda.
A estudante sergipana é uma das quase 589 mil pessoas que vivem com diabetes tipo 1 no Brasil, segundo dados da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD). Ela própria mantém um perfil pessoal no Instagram (@pancreasartificial), que conta hoje com mais de 130 mil seguidores e traz conteúdos de informação e esclarecimento sobre a diabetes, mostrando inclusive como ela usa esse sistema. Foi este trabalho que chamou a atenção de Melanie Rodacki, da UFRJ, que faz pesquisas sobre o pâncreas artificial e convidou Eduarda para atuar na equipe que fez o estudo apresentado no Congresso Americano de Diabetes.
Nos EUA
O evento realizado em Orlando, entre os dias 21 e 24 de junho, é promovido anualmente pela Associação Americana de Diabetes (ADA) e considerado o maior congresso do segmento em todo o mundo. Nele, os principais especialistas em diabetes dos Estados Unidos e de outros países, incluindo o Brasil, apresentam pesquisas e estratégias sobre o comportamento da doença, técnicas de tratamento, estratégias de acompanhamento e até mesmo possibilidades de uma futura cura.
“Todas as tecnologias, todas as mudanças de diretrizes, tudo sobre diabetes chega lá primeiro. Eu consegui presenciar um momento que vai ser histórico na linha do tempo do diabetes tipo 1, que é começar a pensar em prevenção e em testar as pessoas antes de desenvolver o diagnóstico”, exemplifica Maria Eduarda, que faz uma comparação bem-humorada sobre a magnitude do evento: “Realmente, eu me senti na ‘Disneylândia do Diabetes’”.
Esta não é a primeira experiência da estudante da Unit com locais de referência em estudos sobre o diabetes. Em abril deste ano, ela participou do programa Clinical Experience Abroad: Clerkship for Medical Students, pelo qual fez um internato de 30 dias no Cambridge Health Alliance (CHA), em Boston. Durante o intercâmbio, ela conheceu e interagiu com as equipes do Joslin Diabetes Center, afiliado da Harvard Medical School (Escola Médica de Harvard) e referência internacional em pesquisa, clínica e educação em diabetes.