Inteligência artificial já provoca mudanças em funções e profissões
Adoção de ferramentas de IA em atividades pode afetar até 300 milhões de empregos em todo o mundo, conforme pesquisas; especialista em carreiras avalia que novas profissões devem ser criadas.

O avanço das tecnologias de inteligência artificial tem feito que muitas carreiras e profissões sejam repensadas - Foto: Tara Winstead | Pexels
O futuro do mercado de trabalho já começou a ser desenhado com a chegada da inteligência artificial. O dia-a-dia de diversas profissões vem sendo modificado desde a introdução de ferramentas como o ChatGPT, o Jasper, o Ocoya, o Resume.io e o Lovo AI, entre outras, que são capazes de executar funções e cruzar dados com velocidade e precisão cada vez mais aperfeiçoada. Muitas carreiras e profissões estão sendo repensadas, mesmo que, neste primeiro momento, isso signifique a supressão de postos e funções de trabalho.
Um relatório divulgado em julho pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) estima que a IA, como também é conhecida, pode acabar com até 27% dos empregos somente nos 38 países componentes do bloco, como Estados Unidos, México, Chile, Japão, Turquia e União Européia. Esses empregos são principalmente os ligados a funções de alta repetição ou que exigem maior risco ou habilidade. Outro estudo divulgado em março pela multinacional americana Goldman Sachs estima que 18% da força de trabalho deverá ser automatizada em todo o mundo, o que afetaria cerca de 300 milhões de empregos em todo o mundo.
“Acredito que todas as profissões serão muito impactadas pelas IAs. Tem algumas que já estão sendo impactadas hoje, mas acredito que todas, seja na parte de TI [Tecnologia da Informação], de análise de dados, de construção de códigos… acredito que a inteligência artificial vai trazer isso muito mais rápido”, diz Janaína Machado Tavares, gerente do Unit Carreiras, núcleo de empregabilidade da Universidade Tiradentes (Unit).
Entre os principais setores nos quais a inteligência artificial já provoca mudanças, está o do sistema financeiro, que passou a utilizá-la para atividades de coleta e análise de dados e de riscos. “A gente pensa em uma mudança total de tomada de decisões em relação a investimentos, por exemplo, porque temos uma inteligência artificial muito mais rápida e precisa do que o ser humano. Isso traz um outro cenário financeiro, e muda completamente a atividade do analista financeiro. Ele passa a muito mais a entender o perfil de cada cliente, porque os dados ele já tem”, explica Janaína.
As áreas ligadas à administração de negócios e serviços, como gestão, planejamento e marketing, também tendem a ser alteradas, ganhando rapidez e novos focos na tomada de decisões. “É muito mais preciso agradar seu cliente e entender o seu público através da inteligência artificial, e isso dá uma guinada, mais velocidade nos negócios”, pontua ela, citando ainda mudanças significativas na indústria, com a automatização total das linhas de montagem; na área jurídica, auxiliando advogados na pesquisa de leis e produção de peças processuais; na logística, com o transporte autônomo; e até mesmo na área de saúde, auxiliando médicos e enfermeiros com diagnósticos e exames mais precisos.
Novas oportunidades
Um dos medos mais presentes na população é justamente a crença de que a inteligência artificial acabará com empregos e profissões no futuro. Janaína Tavares tem uma visão diferente: a de que as IAs trazem muitas oportunidades, principalmente em funções que administram as interações entre homem e máquina, como as de design de interação. “Eu acredito que a IA vai trazer muitas profissões novas, como já está trazendo na verdade. Quando a gente fala em design de interação homem-máquina, em revolução do 4.0, em tecnologia, já são novos empregos trazidos pela IA. É uma forma de trabalhar que vai sendo mudada. Pode até programar e controlar inteligências artificiais, o que acaba sendo um serviço muito mais estratégico”, revela.
A criação de novas profissões passa ainda pela demanda de regular e impor limites para a atuação da inteligência artificial, de modo a evitar que ela cause danos à humanidade ou seja usada de forma ilegal ou antiética. E isso exige dos profissionais um maior uso das chamadas soft skills, que são as habilidades e competências socioemocionais.
“Porque existem questões éticas que precisam ser definidas e ainda não estão bem definidas. O que é ético, o que não é ético… A gente vê que temos que manter várias discussões em várias profissões. E isso também é oportunidade porque é algo novo. É aí onde estão os limites, a necessidade de impor limites”, define a gerente, acrescentando que não se trata mais de “enfrentar” a IA. “É adquirir as novas habilidades, que são necessárias. É entender mais o ser humano, entender melhor os dados e insumos para tomar uma decisão melhor. É muito melhor a gente se aperfeiçoar. Não é conviver e nem dominar. É aprender, fazer junto, fazer parte. A inteligência artificial faz parte do meu trabalho? Sim. Ela veio pra me ajudar a ser um profissional melhor e a tomar decisões melhores”, conclui ela.