EU, DIÁCONO :: Por José Lima Santana
José Lima Santana(*) jlsantana@bol.com.br
Jos Lima Santana (Foto: Arquivo pessoal)
Hoje, eu desapontarei os meus leitores habituais, acostumados com os causos ou contos, como queiram, que venho narrando por semanas a fio. Tratarei de outro tema. Um tema demasiadamente intimista. Com as minhas desculpas.
Ao entregar-lhe o convite para a minha ordenação diaconal, que ocorreu na última sexta-feira, dia 10, uma colega de trabalho, assustada, indagou-me: “Você enlouqueceu?”. Ora, a colega de trabalho somente me conhece há uns três anos. Da minha vida, ela muito pouco sabe. Os colegas de trabalho que, embora me conhecendo no mesmo lapso de tempo, mas, já me conhecendo mais amiúde, e, especialmente, alguns que professam a mesma fé que eu professo, louvaram a minha atitude de responder, embora demasiadamente tarde, a um chamado que eu ouvi ainda muito cedo. Exatamente, nos fins da década de 1970. A minha vida na Igreja Católica, eu costumo dizer, começou há quarenta anos, quando, a 28 de janeiro de 1976, eu me tornei cofundador do grupo de jovens da Paróquia de Nossa Senhora das Dores, minha querida terra natal. Depois, ainda em abril daquele ano, eu fui convidado a participar da coordenação do Treinamento de Liderança Cristã – TLC – da Arquidiocese de Aracaju, por lá permanecendo até 1982, quando o TLC foi, lamentavelmente, dissolvido. Na época, chegamos a trabalhar com quarenta e um grupos de jovens, na capital e no interior. Todos muito ativos. E o bispo auxiliar daquele tempo, Dom Edivaldo Gonçalves do Amaral, incentivava-me a ir para o Seminário. Em certos momentos, eu queria ir. Noutros, eu relutava. Ficava naquela: “nem vou, nem fico; nem fico, nem vou”, como dizia um vizinho nosso, nas Dores. Não fui.
Formei-me em Direito, a 26 de dezembro de 1980. Em abril de 1981, eu recebi o Ministério Extraordinário da Eucaristia, e, como dizia o saudoso Padre Raimundo Cruz, também o Ministério da Palavra, na minha Paróquia de origem. Conferido na Matriz da Virgem das Dores pelo então bispo auxiliar, Dom Hildebrando Mendes Costa, que, no próximo dia 17, completará noventa anos de idade, em Arapiraca, de onde ele saiu para ser bispo auxiliar de Aracaju e, depois, bispo de Estância, dali tornando-se emérito.
Trabalhei, por um bom período, nas Paróquias sob o pastoreio do Pe. Raimundo Cruz: Dores (com os curatos de Cumbe e Feira Nova), Siriri, Divina Pastora e Santa Rosa de Lima. Fiz preparações para a Páscoa em colégios cenecistas com ênfase para o Colégio Carvalho Neto, em Simão Dias. Fiz pregações em festas de padroeiros e de padroeiras de várias cidades, bem assim, sermões em procissões do Encontro, na Semana Santa, em algumas cidades, inclusive em Tobias Barreto, em 2005. Foi um tempo de muita atividade.
Porém, é preciso que se diga que a minha vocação para a vida na Igreja foi inicialmente despertada através das músicas do Padre Zezinho, que as irmãs claretianas levaram para Dores, em julho de 1975. Aquelas músicas, que eu desconhecia, foram, por assim dizer, a base da minha catequese, muito embora, eu já fizesse, timidamente, a leitura na Missa do sábado à noite, a pedido do Mons. Afonso de Medeiros Chaves, de saudosa memória. E como aquele sacerdote me enchia de atenções!
Publicando no Facebook o convite para a ordenação, não só minha, mas, também, de outros três seminaristas, com os quais eu comecei estudando Teologia, no Seminário Maior Nossa Senhora da Conceição, em 2012, eu colhi, em dois dias, mais de quatrocentas curtidas, mais de vinte compartilhamentos e mais de 120 comentários plenamente favoráveis. Uma bênção! Os meus familiares e os meus amigos, em excessiva maioria, souberam apoiar-me, pois já sabiam da minha antiga inclinação para os misteres da vida eclesial. Que, aliás, eu espero exercer sem os excessos do clericalismo. Que Deus me ajude!
Jos Lima Santana (Foto: Arquivo pessoal)
Na verdade, quando eu fiz vestibular para o curso de Direito, em janeiro de 1977, algumas pessoas, inclusive da minha família, estranharam, achando que eu iria para o Seminário. Na antiga Faculdade de Direito, na Av. Ivo do Prado, alguns colegas indagavam se eu tinha sido seminarista ou padre. Um deles, Magalhães, dizia que eu tinha jeito de padre, caminhava como padre e até portava o guarda-chuva como padre. Eu não sabia que padre tinha um jeito peculiar de portar o guarda-chuva. Era engraçado. No Tribunal de Contas do Estado, concursado que fui em maio de 1977, e admitido em julho do mesmo ano, algumas colegas costumavam conversar comigo, buscando conselhos. Um dia, eu perguntei a uma delas: “Dôra, porque vocês costumam me pedir conselhos?”. E ela: “É porque você tem um jeito de padre”. Eu ria. Em setembro de 1977, Dom José Bezerra Coutinho solicitou a Dom Edivaldo, com quem em me entrosava muito bem e, ademais, todos que faziam parte da coordenação do TLC, que nós implantássemos o TLC em Estância. E lá fomos nós. Uma das moças participantes do encontro procurou-me no sábado pela manhã, para se aconselhar. Ela tinha um problema muito sério de relacionamento com a madrasta. Após ouvi-la pacientemente, eu a orientei que fosse morar no Rio de Janeiro, onde ela tinha uma irmã. Em janeiro de 1978 eu recebi do Rio um telegrama com os seguintes dizeres: “Parabéns data natalícia pt Faço votos continue sempre crescendo vida sacerdotal”. Era dela. Meu Deus, quantos prenúncios!
Em 1978, eu participei da elaboração do Plano Arquidiocesano de Pastoral (1979-1981). Entre 1981 e 1982, o Pe. Raimundo Cruz passou uma temporada em Roma. O Mons. Eraldo Barbosa, pároco de Capela, celebrava a Santa Missa apenas um domingo por mês, em Dores, cabendo-me fazer a celebração da Palavra, nos outros três domingos, com a distribuição da Eucaristia. O Pe. Raimundo Cruz, num livro que ele me ofertou, fez esta dedicatória: “Ao caro José Lima, meu cooperador desbatinado”. Cooperador sem batina. Eu gostava do que fazia.
Bem. Em setembro de 2011, na festa da Padroeira da minha cidade, Dom José Palmeira Lessa convidou-me a ingressar no preparatório para o Diaconato. Lá fui eu. Depois, ele me encaminhou ao Seminário, para cursar Teologia. Lá fui eu. E lá ainda estou. Sem dúvida, um rebuliço na minha vida. Um vento soprando com força. E o vento do Espírito Santo sopra onde quer. Disto nós o sabemos.
Em breve, Dom Lessa se tornará Arcebispo emérito. Dom João José Costa, então, assumirá os destinos da nossa Arquidiocese. Ao Arcebispo Dom José Palmeira Lessa eu devo o meu “despertar” para repensar a minha vida, para tomar fôlego e, enfim, dar a resposta não dada há muito tempo. Despertou-me para lavrar as vinhas do Senhor. Por outro lado, eu tenho recebido acolhimento e atenção da parte de Dom João. Amanhã, será sob o seu báculo e a sua mitra que eu continuarei empreendendo a minha caminhada. Afinal, ao caminheiro resta-lhe caminhar. Como Jesus Cristo caminhou. Caminhar com Ele e como Ele, tentando ser tão somente o menor de todos. Isto me bastará. Que o Verbo Encarnado esteja sempre comigo. E que eu saiba sepultar o orgulho, a vaidade e a soberba.
(*) Advogado, professor da UFS, membro da ASL e do IHGSE
Publicado no Jornal da Cidade, edição de 12 de junho de 2016. Publicação neste site autorizada pelo autor.
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