DIVISÕES LÁ E CÁ (Trump, Temer e o escambau) :: Por José Lima Santana
José Lima Santana(*) jlsantana@bol.com.br
José Lima Santana (Imagem: Arquivo Pessoal)
Comecemos por aqui. Desde a eleição presidencial de 2014, os brasileiros se dividiram como não se via há décadas. O aperto numérico da vitória de Dilma Rousseff sobre Aécio Neves deixou o Brasil com dois lados distintos e, praticamente, em pé de guerra. Dilma não se sustentou politicamente. A economia do país em frangalhos desencadeou, aparentemente, uma crise política tremenda. Ou a crise política engoliu a crise econômica? A corrupção desabalada mostrou uma face negra, que não nasceu nos últimos anos, mas ganhou corpo, e corpo de mastodonte. O impeachment da presidente reeleita deu-nos duas categorias de partidários: os “coxinhas” da direita e os “mortadelas” da esquerda. Dentre todos eles, destacam-se os “aloprados” de lado a lado. Eles existem, sim. E estão nos dois blocos. São os extremistas mais exacerbados. E deles nós não estamos livres. Nas redes sociais ou nas ruas os “aloprados” dos dois blocos desfilam suas diatribes. Insultam-se. Deliram. Rugem. Latem como cães raivosos.
O governo de Temer, considerado ilegítimo pelos “mortadelas”, e também alcunhado de golpista, diz que está tentando conter uma hemorragia financeira, herdada do governo apeado do poder. Vê-se a necessidade de conter gastos que deixam as receitas públicas abaixo das despesas públicas. Há uma quebradeira quase generalizada nos estados e nos municípios. Os eleitores de Dilma Rousseff têm garganta para atacar Temer, mas não têm gogó para dizer que ela não deixou uma sangria desatada. Na economia, ela errou. E errou feio. Quanto à sua queda por questões meramente políticas há que se analisar melhor. As paixões de lado a lado têm cegado aqueles que, exaltados, defendem o governo que caiu ou o governo que luta para se afirmar, dentro e fora do país. Há, ainda, um longo caminho a ser percorrido. Falando da PEC, louvada por alguns e fustigada por outros, ainda que ela possa ser necessária, os seus nós são demasiadamente rígidos e poderão, sim, causar danos às camadas mais desfavorecidas da nossa população, que dependem de programas sociais, nas áreas da saúde, da educação, da assistência social etc.
Bem mais perto de nós, ou seja, aqui na capital dos sergipanos, a eleição do mês anterior dividiu os políticos e os eleitores. Aqueles exageraram e ainda exageram em suas falas, às vezes grosseiras e mal educadas. É preciso descer do palanque. Cada um no seu próprio caminho: na situação ou na oposição. Aracaju e Sergipe devem ser vistos pelos políticos como sendo muito maiores do que eles todos juntos e misturados. Se pudessem se misturar. Mas, não podem. E não devem!
Nos Estados Unidos, o apocalipse parece ter chegado. Anjos terríveis (como se existissem anjos desse tipo!) parecem ter soprado suas trombetas nos quatro cantos do país do Tio Sam. O bilionário Donald Trump “trampou” os democratas. A mídia. Os institutos de pesquisas. Todo mundo, enfim, exceto os seus eleitores, que viram nele a possibilidade de uma guinada à direita, após oito anos de liberalidades dos democratas. Os conservadores pareciam agir como cobras na tocaia, prontas para dar o golpe. Muitos deles mantiveram-se silenciosos e deixaram para se expressar nas urnas. São conservadores. São nacionalistas, porém adeptos de um nacionalismo que, à sua maneira, querem a América somente para os americanos, numa alusão por certo deturpada da velha doutrina Monroe. Uma América que estimule os negócios. Negócios, provavelmente, nocivos para os outros países. Negócios bons para os americanos. Se essa política econômica internacional ianque vai dar certo, é preciso ver para crer.
Enquanto eu escrevia este artigo, no início da madrugada da quinta-feira, dia 10, a televisão dava conta de que Hillary Clinton vencia as eleições em votos nominais, faltando concluir a contagem de votos em três estados. Todavia, claro, ela perdeu no número de delegados. E isso é o que conta na eleição norte-americana. Hillary ganhou no voto nominal, mas Trump levou a maioria dos delegados. O país, assim, está dividido. A mesma coisa ocorreu na primeira eleição de George Bush, filho, quando o vice-presidente do marido de Hillary Clinton, Al Gore, venceu nominalmente, mas perdeu no número de delegados. Naquela época, teve recontagem de votos, inicialmente, mas, depois, em grau de novos recursos, a recontagem foi suspensa e foi dada a vitória ao filho do velho Bush, que, antes, não conseguiu se reeleger, perdendo, exatamente, para Bill Clinton, o marido de Hillary e amiguinho da estagiária Monica Lewinski, cuja “amizade” quase o derrubou da presidência. Escapou do impeachment a que foi submetido por ter mentido sobre o xodó com a estagiária, envolvendo até mesmo um charuto.
Em algumas cidades norte-americanas houve protestos contra a eleição de Trump, logo nos dias seguintes. Só que lá, diferentemente daqui, logo, logo, eles vão baixar o facho. Eles sabem respeitar as instituições deles. A não ser que, desta vez, o pau quebre de verdade. Não creio muito nisso. Mas... Por aqui, ao contrário, os protestos parecem nunca ter fim. Seja lá por isso ou por aquilo. Ontem ou hoje. Por exemplo: até que a PEC do controle dos gastos seja votada no Senado, alunos secundaristas e universitários ocupam escolas e universidades. Na UFS, ocuparam duas Didáticas (salas de aula) e, agora, ocupam o espaço do gabinete do reitor. E vão ficando, ficando, ficando... Bem. No caso dos jovens, protestar sempre foi uma ação da “hora”.
Trump parece ser um novo anticristo. Um enviado do demo. Ele vai entortar o mundo. Haverá de fazer eclodir a terceira guerra mundial. Quanta besteira! Eu também não creio nisso tudo. É claro que eu torci contra ele. Aliás, eu sempre torço pelos democratas, desde John Kennedy, quando eu era apenas um menino.
Lá ou cá, a divisão é flagrante. Porém, nem por isso o mundo vai se acabar. Vai nada! Vida que segue. Lá e cá.
(*) DIÁCONO. ADVOGADO. PROFESSOR DA UFS. MEMBRO DA ASL DA ASLJ E DO IHGSE.
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