UM MUNDO DE SOMBRAS :: Por José Lima Santana
José Lima Santana* - jlsantana@bol.com.br
José Lima Santana (Foto: Arquivo Pessoal)
Diz o texto do penúltimo capítulo do livro, intitulado “Um mundo coberto de penas”: “O mulungu do bebedouro cobria-se de arribações. Mau sinal, provavelmente o sertão ia pegar fogo. Vinham em bandos, arranchavam-se nas árvores da beira do rio, descansavam, bebiam e, como em redor não havia comida, seguiam viagem para o sul. O casal agoniado sonhava desgraças. O sol chupava os poços, e aquelas excomungadas levavam o resto da água, queriam matar o gado”.
O sofrimento de Fabiano, de Sinhá Vitória e dos dois meninos parece persistir até hoje. Não apenas no sertão nordestino, mas em todo o país. Outros são os tempos e outros são os personagens. Agora é o povo brasileiro que se põe no lugar daquela família de sofredores destemidos, que se mudava daqui para ali. Uma saga que pareceria interminável.
Interminável não pode ser a saga do povo brasileiro. Melhor será dizer, a saga dos maus políticos que nos governam, que tomam de assalto o poder que, na teoria constitucional, pertence ao povo: “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”. É o que diz o parágrafo único do art. 1º da Carta de 1988.
Que belo texto os nossos constituintes esculpiram no mosaico constitucional! E que bom seria se realmente assim o fosse, na prática!
Não se pode nem deve comparar os maus políticos brasileiros com as avoantes nordestinas. Elas representam um pedaço muito bom do ambiente, da Natureza, que, diga-se de passagem, está em perigo. O seu habitat vem sendo destruído continuamente. E elas ainda são caçadas em profusão. Leis foram feitas para a proteção do meio ambiente, mas as leis “são coisas que o homem muda quando quer”, como bem o disse o personagem principal do livro “Um Dia na Vida de Ivan Denisovich”, do escritor russo Alexandre Solzhenitsin, que foi publicado em novembro de 1962. O livro narra as agruras que o personagem passou na prisão, num gulag, na Sibéria, na época sombria de Josef Stalin. A publicação da obra foi autorizada por Nikita Kruschev, aparentemente para provar as suas acusações contra o dirigente soviético anterior a ele, ou seja, Stalin. Lembrando que o autor russo foi agraciado com o Prêmio Nobel de Literatura, em 1970.
Os maus políticos, detentores de mandatos eletivos, no Executivo e no Legislativo, não bebem a nossa água. Devoram os nossos recursos. Sangram os cofres públicos. Participam das mais nojentas negociatas. Enrolam-se em cuecas, malas e sacolas cheias de dinheiro. Zombam de nós. Escarnecem daqueles que os elegeram. São sórdidos. São sádicos. São monstros. Não deveriam estar no nosso meio. Fedem mais do que titica de gato. Os felinos domésticos cobrem suas titicas. Os maus políticos jogam-nas no ventilador. São sujos. Vivem no lodaçal de um pântano que parece não ter fim. Todavia, há de chegar o dia em que o pântano em que chafurdam tornar-se-á de areias movediças. E nelas eles haverão de submergir para nunca mais voltar à vida pública.
Muitos desses gatunos de colarinho branco (branco, mas podre de sujeira!) ainda vão às tribunas, aos palanques, aos meios de comunicação social para falar, invocando o nome santo de Deus. Lavem suas bocas sujas e fétidas, bando de escroques! Entoquem-se em seus buracos, ratos de esgoto!
Infelizmente, eles têm uma sobrevida, após cada descoberta de suas patifarias. Eles têm bons advogados, que se esmeram em apresentá-los como “injustiçados”. Eles têm os seus comparsas. Eles são farinha do mesmo saco. Farinha vencida, contaminada. Inservível. Apesar de tudo, eles estão aí. Mesmo no seio do povo, alguns deles encontram guarida. Quando será que haveremos de saber votar? Quando será que não mais nos deixaremos seduzir pelo canto velhaco dessas malditas aves de rapina? Quando haveremos de escolher entre homens e mulheres que nos governem com ética? E quando será que teremos também, de ponta a ponta, nem todos os escalões do Poder Judiciário, magistrados e magistradas comprometidos (as) com a JUSTIÇA, assegurando-nos o banimento de toda impunidade e de toda exploração do homem pelo homem? Utopia? Queira Deus que não!
Um mundo coberto de sombras. Não merecemos isso. Nenhum povo merece. A história do Brasil é pródiga em maus momentos e em maus políticos. Ansiamos por viver numa democracia. Desde os primórdios da República nós ansiamos. Ainda não vimos o sol raiar no chão da Pátria de modo que nos assegure a normalidade democrática, de maneira que a coisa pública seja, sim, pública, isto é, verdadeiramente, do povo, e, assim mesmo, seja cuidada. Ansiamos por homens e mulheres dignos (as) do nosso voto para bem nos governar, para bem nos conduzir por um caminho novo, jamais, até agora, por nós trilhado.
Que as nossas aves de arribação continuem migrando no seu interminável vai e vem, a cada estação que lhes é propícia para acasalar, procriar e seguir o ritmo de suas inocentes vidas.
E que as nossas aves de rapina, os políticos que nos envergonham e que enxovalham a Nação, sejam para sempre banidos da vida pública. Que sejam encobertos num mundo de sombras, que é o seu lugar. Longe do povo. Longe do poder.
Que a podridão de seus atos nefastos os arraste para o ostracismo (no calabouço, preferencialmente), onde, quem sabe, arrependidos, eles possam chorar e ranger os dentes.
*PADRE. ADVOGADO. PROFESSOR DA UFS. MEMBRO DA ASL DA ASLJ E DO IHGSE
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