Aracaju (SE), 24 de novembro de 2024
POR: José Lima Santana
Fonte: José Lima Santana
Em: 29/06/2018 às 23:21
Pub.: 02 de julho de 2018

TEMPOS CRUÉIS COM DONALD TRUMP :: Por José Lima Santana

José Lima Santana* - jlsantana@bol.com.br

José Lima Santana (Foto: Click Sergipe)

José Lima Santana (Foto: Click Sergipe)

O grandalhão imbecil eleito pelos imbecis como ele jogou mais pesado do que qualquer outro imbecil poderia ter jogado. São quase 2.500 crianças separadas de seus pais e dispersas por 16 estados, dentre elas cerca de 50 brasileirinhos. Uma atitude grotesca, banal e brutal. Somente em tempos de ditaduras cruéis (aliás, todas elas são cruéis) fatos como este poderiam ser levados a efeito. Entretanto, foi exatamente no país que se arvora de ser a maior democracia do mundo que o fato abjeto se deu: os Estados Unidos da América. O país imbecilizado do imbecil Donald Trump. 

O escritor e documentarista americano Michael Francis Moore, crítico ferrenho de tudo que contraria os direitos humanos, lembra que não é a primeira vez que os ianques agem dessa maneira. Não é, pois, um “privilégio” de Trump. E ele tem razão. O que as autoridades americanas fizerem, entre a segunda metade do século XIX e o início do século XX, com milhares de indiozinhos, separados dos seus pais, a fim de quebrarem a força dos bravos guerreiros, que foram confinados em “reservas”, ou seja, em campos de concentração, nos quais muitos deles definharam? Quem poderá esquecer que os brancos enviavam cobertores contaminados pelo vírus do sarampo ou da gripe, fatais para os povos ameríndios? Quem poderá esquecer que um general deles, o tal de Phlip Henry Sheridan, que lutou na Guerra de Secessão e nas guerras contra os índios, proferiu esta frase absurda: “Os únicos índios bons que já vi estavam mortos”?  E o que era costume fazer, embora não tivesse sido uma prática somente deles, mas, de todos os escravistas, com muitos dos filhos dos escravos? Separavam-nos dos seus pais, vendendo-os para lugares distantes. Moore tem, sim, razão. Trump voltou ao século XIX. 

Ocorre que estamos no século XXI. Claro que não poderemos desculpar os erros do passado por serem do passado. Porém, o mundo mudou. Ou deveria ter mudado. As pessoas não mudam, ou, ao menos, algumas não mudam? O que é isso? 

Esse truculento que os americanos tiveram o mau gosto de eleger (embora eu seja suspeito de assim dizer, uma vez que, desde sempre, torço pelos democratas, e jamais pelos republicanos, quaisquer que sejam os candidatos), fanfarrão, grosseiro, despreparado, ainda não deve ter mostrado todas as unhas, nem as unhas nos seus tamanhos todos. Muita coisa ruim ainda há de vir desse sujeito.

Até a mulher do Trump, Melania, rejeitou a separação de pais e filhos imigrantes sem documentação legal para entrada e permanência naquele país. Foi o que disse à rede televisiva CNN, o seu porta-voz. É óbvio que todos os países têm suas leis sobre imigração. Porém, separar pais e filhos, espalhando os pequeninos por, pelo menos, dezesseis estados diferentes, é absolutamente desumano e inaceitável. Somente uma pessoa com o coração de pedra e lavas de vulcão correndo nas veias pode ter uma atitude desse tipo. Em resumo, um monstro. A decisão de separar pais e filhos foi um ato de terrorismo. E Trump usou o terrorismo para endurecer as leis de acolhida, pressionando os democratas. No Twitter, ele escreveu, cinicamente: “Os democratas podem acabar com a separação de famílias na fronteira se trabalharem com os republicanos em uma nova legislação”. Chantagem das grossas. A Casa Branca criou órfãos por decreto. Uma onda de nacionalismo torpe parece varrer o país de George Washington, John Adams e Thomas Jefferson, os três primeiros presidentes norte-americanos. E também de Alexander Hamilton, John Jay e James Madison, autores da maioria dos escritos da clássica obra “Os Artigos Federalistas”. Esses seis nomes citados, dentre outros, podem ser vistos como verdadeiros pais da Pátria ianque. Coloque-se aqui Abraham Lincoln e, nesse Panteão, jamais haverá lugar para um sujeito como Donald Trump. 

Pressionado dentro e fora do país, Trump deu um passo atrás. Ou, se assim puder ser dito, deu meio passo. Ele suspendeu, no último dia 20, a separação de pais e filhos imigrantes ilegais, mas, sem retroagir a decisão para alcançar os que já foram separados. Como as crianças separadas de seus pais voltarão a encontrá-los, ainda não se sabe ao certo. 

Ao passo que o presidente tresloucado deu um passo, ou meio passo atrás, a primeira-dama, que disse ter se compadecido das crianças separadas, ao visitar um abrigo para essas crianças, no estado do Texas, vestia uma blusa com os seguintes dizeres: “Eu realmente não me importo, você se importa?”. Pegou mal. E muito feio. Do que ela não se importa? A imprensa desceu a lenha na senhora Trump. Com razão. 

Na noite da terça-feira, 26, o juiz federal Dana Sabraw, do Tribunal de San Diego, na Califórnia, ordenou que o governo de Donald Trump reúna, em um prazo de 30 dias, as crianças separadas de seus pais ao serem detidas tentando entrar no país a partir da fronteira com o México. E que as crianças de 5 anos ou menos sejam devolvidas aos seus pais em, no máximo, 14 dias, segundo a ordem judicial. A decisão de Sabraw tem sua origem em uma ação movida pela União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU, na sigla em inglês) em favor de uma menina congolesa de 7 anos e de uma brasileira de 14 anos, ambas separadas de suas mães. Além disso, 16 estados norte-americanos ingressaram com ações judiciais contra a atitude absurda de Trump. Ainda bem. 

Resta-nos esperar os desdobramentos desse caso escabroso. Os norte-americanos bem que podiam ter livrado o país deles e o mundo desse sujeito, não o elegendo para ser o 45º presidente do país do Tio Sam. Agora, é tarde, ao menos até a próxima eleição. Que eles tenham juízo ao marcharem para as urnas, no pleito de novembro de 2020. Para eles, eu deixo esta frase de François Rabelais: “Conheço muitos que não puderam quando deviam, porque não quiseram quando podiam”.

*PADRE. ADVOGADO. PROFESSOR DA UFS. MEMBRO DA ASL DA ASLJ E DO IHGSE

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