De qual "Igreja" eles estão falando? :: Por José lima Santana
José Lima Santana*
José Lima Santana - Foto: Arquivo pessoal
Na Igreja Católica, notadamente após o Concílio Vaticano II, setores conservadores e/ou ultraconservadores têm estrilado contra a hierarquia, a partir dos Papas que sucederam a Pio XII (embora alguns mais radicais também se voltam contra este), mas, principalmente, contra Francisco, embora há quem solte farpas contra Paulo VI e João Paulo II e, um pouco menos, contra Bento XVI. O interessante, mesmo não faltando alguns cardeais, bispos e padres, na internet alguns leigos (“fiéis defensores da Igreja tradicionalista”) mandam ver contra o Concílio, contra Francisco, contra a CNBB, contra, talvez, os Céus. Arvoram-se no “direito” de se autoproclamarem autênticos “defensores da fé”. É de lembrar que também Henrique VIII, na Inglaterra, era cognominado “O Defensor da Fé”, mas rompeu com a Igreja Católica e fundou a Anglicana. “Defensores da fé”, há muitos por aí. Só não sei qual a fé que eles defendem.
Recentemente, o padre Zezinho, famoso pelas suas belíssimas canções, desde a década de 1970, publicou alentado artigo, comentando a ação desses “defensores da fé”. Eis o título do escrito do reverendo padre: “AOS LEIGOS, PADRES E SEMINARISTAS QUE SE REBELAM CONTRA OS BISPOS! E PREFEREM SEGUIR OS HIPER-LEIGOS ANTI CNBB”. No texto, ele diz: “Na primeira eucaristia, Jesus pôs o pão na boca ou nas mãos dos discípulos? Na primeira eucaristia foi dada comunhão nas mãos ou na boca? Os discípulos estavam sentados ou reclinados? Ou por acaso os discípulos se ajoelharam para receber a primeira eucaristia? Foi sempre assim desde os anos 30, ou o rito da eucaristia foi mudando gradualmente? Você estudou isto, ou segue algum hiper-leigo influente que acha que sabe mais do que os bispos da CNBB? Como o grande Santo Tomás de Aquino opinou no livro Catena Áurea, volume 4? O que diz o Catecismo sobre o rito da Eucaristia? Tem que usar véu? Tem que se ajoelhar? Tem que ser nas mãos? Tem que ser na boca? Pode ser sob as duas espécies? O bispo tem ou não tem o direito de regulamentar este rito na sua diocese?
Você que prefere seguir os leigos que pontificam na Internet, você acha que eles sabem mais do que milhares de padres e bispos que aceitaram as normas desde 1965? Há um grupo de padres e leigos sempre batendo de frente contra a CNBB e com os bispos da diocese. Será mesmo que fazem isto razões de piedade e por amor à nossa Igreja? Ou será por razões políticas, já que acham que a CNBB é de esquerda, enquanto estes padres e leigos, em geral são conservadores e de direita? Ainda não são católicos PROTESTANTES, mas a rebeldia deles está ficando coisa parecida? É ou não é Rebeldia? Não aceitam mais a autoridade dos bispos.
Estão se tornando cada dia CATÓLICOS CONTESTANTES. Não perdem ocasião de contestar contra os bispos e contra o Papa. E muitos deles usam o véu, recebem a comunhão de joelhos, a comunhão na boca, não por piedade, mas porque rejeitam as mudanças dos últimos 60 anos. É contestação e rebeldia! E isto parte de alguns padres e de alguns leigos com milhares de seguidores! Acontece que a Catequese da Igreja, passa pelo Papa, pelos bispos e pelos quase 100 documentos emitidos desde o Concílio. Como não aceitam o Concílio, sempre acham um jeito de PROTESTAR E CONTESTAR qualquer mudança. Não aceitam mais a autoridade do bispo da diocese! E preferem seguir as orientações de hiper-leigos que regem tudo através da internet. Mas eles não passam de 5% de fiéis. O povo católico segue os bispos e os párocos que, em geral, estão unidos ao bispo”!
O texto do padre Zezinho prossegue no mesmo tom, no tom de quem está de acordo com a Igreja. Por outro lado, o jovem padre Anderson Gomes, eleito como representante do Clero da nossa Arquidiocese, assumindo suas funções junto ao Arcebispado em setembro vindouro, escreveu um texto, publicado no site da Arquidiocese de Aracaju, sob o instigante título “Um ‘deus’ mortal e voraz…”, e no qual, por exemplo, ele diz: “Um ‘deus’ que vive da destruição de seus delirantes seguidores. Ufa! Precisamos propor vias do Espírito! Esses dias ouvimos muitas coisas do Alto. Paramos um pouco. E fizemos a oração dos transeuntes. Dos mendigos. Quem não leva a sério a vida espiritual cairá na ideia do “deus” que consome e tira a vida. Um deus que vende e devora os seus consumidores. Os dias que atravessamos são desafiadores e sem vida interior não suportaremos. Os delírios estão por toda parte. Pessoas que alvoram um ar de ‘santidade’, mas que estão sofrendo de algum distúrbio mental. E com esse tema só os especialistas. Precisamos ajudar essas pessoas, propor vias. Que tal convidar o amigo (a) da área para atender na sua Igreja? É para pensar. E isso tem sido recorrente. O Brasil se tornou um ‘manicômio’ a céu aberto. Sofremos de uma patologia da fé customizada que não forma mas adestra e cria rincões de UFC religioso, o nocaute é para matar quem tem menos fé e não segue a doutrina e os bons costumes. Quem bate mais é o mais santo. Quem gritar, quem desfazer do Papa, quem não entrar nesse ringue está condenado a morte, moral e física”.
Tempos difíceis, nós vivemos. Não a Igreja, em si, mas alguns que se dizem parte da Igreja. Porém, há que se indagar: de qual “igreja” mesmo eles estão falando? Da Igreja de Jesus ou da “igrejinha” que eles estão concebendo?
*Padre (Paróquia Santa Dulce dos Pobres – Aruana - Aracaju), advogado, professor da UFS, membro da ASL, da ASLJ, da ASE, da ADL e do IHGSE.
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