Aracaju (SE), 03 de dezembro de 2024
POR: José Lima Santana
Fonte: José Lima Santana
Em: 08/10/2023 às 17:31
Pub.: 08 de outubro de 2023

ZÉ AMÉRICO, UM MARCO NA HISTÓRIA POLÍTICA DORENSE :: Por José Lima Santana

José Lima Santana*

Nascido em Santa Rosa de Lima, berço de sua família materna, mas criado em Nossa Senhora das Dores, de onde provém sua família paterna, José Américo de Almeida Filho começou a fazer política estudantil com o irmão, José Almeida Lima, ainda nos tempos do curso ginasial, no Colégio Cenecista Regional Francisco Porto, no fim da década de 1960. Tempos duros da repressão política, quando um grupo de ginasianos dorenses se politizava, inclusive com a participação do professor Cerivaldo Pereira, que era militante do então proscrito Partido Comunista Brasileiro.

    Da política estudantil, Zé Américo avançou para a política partidária, participando, com o irmão citado, em 1972, da campanha política municipal, na qual se defrontaram, como candidatos a prefeito, Edson Almeida de Azevedo (MDB), parente dos dois irmãos, e Paulo Garcia Vieira (ARENA). Edson tornou-se candidato pelo MDB porque o grupo político contrário ao prefeito Joel Nascimento, patrocinador da candidatura de Paulo Garcia, não conseguiu votos suficientes na composição do diretório municipal da ARENA, para obter uma sublegenda partidária, como era possível naquele tempo. Se tivesse conseguido, seriam dois candidatos da ARENA I e da ARENA II. Elegeu-se Paulo Garcia. Zé Américo e Zé Almeida votavam pela primeira vez. Eu, ainda não.

    Mas, a partir dali Zé Américo tomaria gosto pela política local, elegendo-se vereador em 1976, enquanto o irmão estudava Direito na UFS. Zé Américo, que não lograra êxito no vestibular para Medicina, em 1975, ficaria, na segunda opção, como ocorria naquele tempo, no curso de Química, largando-o logo depois e dedicando-se a lecionar Matemática na sétima e na oitava séries no Colégio acima referido.

    Em 1976, elegeu-se prefeito, pela terceira vez, Joel Nascimento. Zé Américo fazia-lhe oposição, sem o rancor dos adversários vezeiros de “seu” Joel. Danou-se a atender as pessoas carentes do Município. O seu nome cresceu no conceito popular. O mandato, que seria de quatro anos, fora prorrogado por mais dois, estendendo-se, pois, até 1982.

    Na eleição de 1982, já havia um grupo gravitando em torno de Zé Américo. Advogado há dois anos, eu estava nesse grupo, porquanto a amizade com os irmãos Zé Américo/Zé Almeida (o Almeida Lima veio depois) provinha desde os tempos do ginásio. Naquele ano, para onde o grupo de Zé Américo pendesse, a vitória nas urnas para o candidato a prefeito seria certa. Queríamos indicar o candidato a vice-prefeito do lado do candidato a prefeito indicado por “seu” Joel. Porém, o grupo do prefeito nos preteriu.

Zé Américo recebeu o convite para ser, então, o vice-prefeito na chapa encabeçada por Jaime Figueiredo Lima. Relutamos. Como o convite do lado do prefeito não veio, em frente à sede do Dorense Futebol Clube (eu era o presidente), num domingo à noite, Zé Américo me perguntou se eu votaria em Jaime, pois meu pai tinha sido eleitor de Joel, desde que ele se elegera prefeito, pela primeira vez, em 1962, contra o grupo do qual Jaime fazia parte, anteriormente comandado por seu pai, Antônio dos Reis Lima (com quem a minha família votava desde tempos imemoriais, até que meu pai, sozinho, deixou o grupo, em 62, para ficar com Joel). Bem. Se essa era a opção que o grupo tinha, eu votaria. Ganhamos a eleição. Zé Américo, vice-prefeito. Nesse ano, João Alves Filho elegeu-se governador do Estado. Votamos em Manoel Messias Góis para deputado estadual, que era ligadíssimo a João Alves. Com isso, buscávamos ligação com o novo governador. Messias tornou-se, além do nosso candidato, até 1994 (sua última disputa eleitoral), nosso amigo. Até hoje.

Um ano depois (novembro de 1983), o prefeito rompeu com o nosso grupo. Em 1986, veio a eleição estadual e federal. O prefeito ficou com o candidato a governador José Carlos Teixeira, rompendo com o   governador João Alves. O grupo de Zé Américo ficou com o candidato Valadares, indicado por João. Dizia-se, em Aracaju, que, em Dores, o candidato de João Alves perderia com, no mínimo, 3 mil votos de diferença. Tolos. Ganhamos com 911 votos. Pouco antes da eleição, em setembro, Zé Américo foi preso, por motivação política. Era para desmoralizá-lo. Mas, o feitiço virou contra o feiticeiro. Ele cresceu, daí a vitória de Valadares, dentre, claro, outros fatores.

Em 1988, Zé Américo bateu o candidato do prefeito com mais de 1.800 votos de diferença. Uma vitória retumbante. A administração de Zé Américo foi proveitosa, sempre atendendo aos mais pobres. Em 1992, o grupo elegeu como prefeito José Ivan Pereira dos Anjos. Em 1996, Zé Américo candidatou-se de novo a prefeito. Uma eleição dura, o governo do Estado apoiando abertamente o candidato adversário. Eu estava como superintendente da SMTU (hoje, SMTT). A situação não era boa para Zé Américo. Atendendo ao seu apelo, licenciei-me da SMTU, passando a Superintendência ao diretor técnico, e fui para Dores, nas últimas semanas da campanha. Batemos pernas. Zé Américo voltou a ganhar, dessa vez com mais de 700 votos, bem menos do que em 1988. Mas, elegeu-se. Não conseguiu repetir a administração anterior. Problemas pessoais e familiares minaram a sua vida político-administrativa. Foi para a reeleição, em 2000, sem a minha ajuda. Não participei da campanha. Ele perdeu. Porque quis. Uma pena.

A partir da derrota em 2000, ele desmoronou. Política e pessoalmente. A saúde começou a apresentar problemas. Nunca mais, ele foi o mesmo. Veio a falecer no último sábado, 30 de setembro. Nas eleições estaduais, de 1986 e 1990, o grupo de Zé Américo conseguiu a maior votação para o irmão Almeida Lima, como candidato a deputado estadual. Almeida voltou a ter expressiva votação em Dores, quando se candidatou a senador e a deputado federal, em 2002 e 2010. Agora, ainda mantendo atividade econômica no Município, Almeida Lima, que, sem favor, foi um dos melhores prefeitos de Aracaju (1994-1996), vem de lançar-se pré-candidato a prefeito de Dores. Vejamos no que vai dar. Zé Américo nos deixou aos 71 anos. Uma multidão compareceu ao seu sepultamento. Foi o último adeus de muitos que ele favoreceu e de tantos que o admiravam. Descanse em paz, meu amigo.

*Padre (Paróquia Santa Dulce dos Pobres – Aruana - Aracaju), advogado, professor da UFS, membro da ASL, da ASLJ, da ASE, da ADL e do IHGSE.

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