O isolamento social protege realmente as pessoas mais pobres? :: Por Marcio Rocha
Márcio Rocha - Imagem: arquivo pessoal
Isso quer dizer que, a grande maioria dos trabalhadores do estado, considerando que serviços é a atividade que mais emprega em Sergipe, está sem conseguir se sustentar e não tem lastro financeiro, ou como chamamos popularmente, poupança, para sobreviver sem entrada de recursos financeiros, devido à ausência do trabalho. A grande maioria dos profissionais que atuam no setor é autônoma ou é Microempreendedora Individual (MEI) e o auxílio oferecido pelo Governo Federal de R$ 600 é insuficiente para custear as despesas com alimentação, moradia, contas da casa e outras mais. Isso tem colocado muitas famílias em condição de completo desespero, quiçá... Quiçá não, certamente, de fome. Falo isso porque tenho ouvido apelos de pessoas que não estão conseguindo fazer um centavo sequer com o seu trabalho, devido ao isolamento social, que não permite o exercício de várias atividades profissionais e isso está sendo sentido nas despensas e bolsos das famílias. O dinheiro acabou, o estoque de alimentos também e isso afeta severamente as famílias.
Pouco tem sido feito para reverter o quadro do isolamento social com efetividade. Até porque, os governos estadual e municipal estão agindo do modo correto para poder garantir a preservação da vida das pessoas. A doença é um inimigo invisível que não podemos identificar com quem está ou onde se encontra, mas está lá. Isso é perigoso. Entretanto, como a pessoa pode se proteger da doença se sequer pode se alimentar? O apelo que o Sindicato dos Cabeleireiros de Sergipe (Sindicab) fez na mídia nesses últimos dias, me chamou muito a atenção. A agremiação está arrecadando alimentos para ajudar colegas que estão sem ter o que comer em casa. Realmente está certo mantê-los sem poderem trabalhar?
Essa dura realidade não se resume somente aos mais de 22 mil profissionais do segmento de beleza e estética do estado, atinge mais de 6 mil pessoas no setor de turismo, 5 mil pessoas que trabalham no setor de eventos, que se encontram inativos por causa do isolamento social. Somam-se a esse contingente, mais 5 mil trabalhadores do comércio que perderam seu emprego. São 38 mil pessoas, e suas famílias por consequência, que sofrem diretamente com o que está acontecendo. Seriam essas pessoas que defendem o isolamento social, e querem ficar em casa?
A conta da pandemia já começa a chegar nas casas das pessoas e muitas não estão com condições de pagar. Ficar em casa é bom para quem vive em condições confortáveis e consegue se manter distante dos potenciais focos de contágio da doença. Para quem mora numa casa com três cômodos e seis ou sete pessoas, não é nada bom. Para as pessoas mais pobres, a grande maioria da massa trabalhadora, o isolamento social pode matar pela própria doença, até porque a pandemia continuará e se espalhará ainda mais, como de fome, por não ter como se sustentar, nem manter suas famílias. Em um estado que grande parte dos trabalhadores dependem dos seus salários e as micro e pequenas empresas são a maioria absoluta, não há como sustentar uma ociosidade forçada por tanto tempo. Porque as empresas pequenas, nessa realidade, parecem com as famílias. Sem ter recursos para se manter, não conseguirão manter as pessoas a ela pertencentes. O coronavírus realmente é perigoso e tem que ser tratado com cautela, cuidado e precisão. Contudo, o desemprego será uma realidade cruel e dura a ser administrada se não houver o devido balanceamento entre o tratamento da doença e a tentativa de salvação dos empregos das pessoas. O isolamento social, que não deixa de ser necessário, mas mostrar ainda mais às pessoas que elas são responsáveis pelo controle da doença. Está em cada um de nós a responsabilidade de combater o coronavírus e nas mãos de nós todos, salvar os empregos das pessoas.
Quando as atividades voltarem a ser liberadas para funcionamento, lembre de chamar sua diarista, ir ao salão de beleza, fazer suas compras nas lojas em que estavam fechadas, comprar no pequeno negócio, na loja do bairro, no mercadinho da esquina, no restaurante que você gosta. Compre do pequeno negócio, ajude a retomar a força da economia, quando pudermos voltar a ter nossa vida cotidiana normalizada.