"Deus abençoe a minha caixa de engraxate" - Raimundo Juliano :: Por Marcio Rocha
Marcio Rocha (Foto: Arquivo Pessoal)
Crescendo em tamanho, idade e responsabilidade, ainda criança aprendeu como trabalhar com o comércio, na cidade de Estância e pensando à frente do seu tempo, mesmo estando atrás do balcão das Lojas Esperança, iniciou a atividade comercial de secos e molhados. Crescendo, subiu no lombo de um burrinho e desbravou terras sergipanas e com muita coragem seguiu também pela Bahia, o jovem Raimundo Juliano era então caixeiro-viajante, levando consigo a atividade de representação comercial, levando produtos para todo o comércio dos dois estados, seguindo por estradas de terra, pavimentou sua vida com muito trabalho.
Enquanto crescia na idade, Raimundo crescia como empreendedor. De um barzinho em Estância, surgiu o estalo para projetar-se de vez no mundo dos negócios, trabalhando com representação e distribuição de bebidas. Conhecedor do comportamento do consumidor, entendendo os períodos de demanda e escassez do produto, surgiu então a DISBERJ – Distribuidora de Bebidas Raimundo Juliano. Foram 45 anos vivendo nessa atividade, o que lhe propeliu a empreender em muitos outros ramos de negócios, levando a uma vida empresarial de 80 anos fazendo amigos, conquistando pessoas, fazendo negócios.
Não há em Sergipe uma pessoa que não tenha tomado uma cerveja, ou um refrigerante, que não tenha passado pelas mãos, de Raimundo. Pois isso levou os negócios mais além, gerando empregos para as famílias de Sergipe, levando um nome, uma história para nosso estado. História essa que ainda brilharia mais, com a sua chegada ao comércio atacadista e distribuidor, com a Fasouto. Primeiramente levando carga para as cidades e depois uma grande diversidade de produtos para o nosso comércio. A caixa de engraxate de um menino sonhador, se tornou a realidade que transformou as vidas de milhares de pessoas que hoje trabalham nas empresas que levam seu nome como fundador. De alguns tostões para um garoto, foram gerados milhões para incontáveis famílias.
Aqui volto no tempo aos idos de 2004, quando fiz minha primeira entrevista com Raimundo Juliano, para o Jornal Povão. A primeira pergunta dele foi “Você é filho de quem?” Lhe respondi dizendo quem era meu pai. “Ah, seu pai era meu amigo! Essas orelhas enormes são iguais as de Cordeiro!” Caímos na risada. Tivemos um ótimo papo lá na Fasouto, conversando bastante sobre a história de sua vida, que realmente se mistura com a história de Sergipe.
Encontramo-nos em várias oportunidades, mas a lembrança mais marcante que tenho é de quando nos encontramos em Terra Caída, no restaurante de Pascásio. Uma garrafa de Antarctica aberta e eu brinquei com ele, dizendo-lhe que naquela idade ele não deveria estar tomando cerveja. “Como não vou beber? Eu tô aqui por causa dela”. Muitas risadas como de costume... Aí me contou novamente um pouco da história da empresa que transformou sua vida, vendendo cerveja. Falou sobre a felicidade de estar com mais de 80 anos, mesmo com algumas limitações e sobre olhar para trás e ver como tudo começou e como sua vida se transformou. “Deus abençoe a minha caixa de engraxate. Tudo que tenho e sou devo a Ele e a ela”.
Seu Raimundo, obrigado e até um dia...