Reduflação cria produtos genéricos e você compra sem perceber :: Por Marcio Rocha
Há algumas semanas, descomplicamos a economia explicando o que é reduflação, como funciona e como isso pesa no bolso do consumidor. A repercussão foi grande e recebi por e-mail e pelas redes sociais muitas dúvidas para serem dirimidas acerca do tema. É, caro leitor... de fato estamos pagando mais caro por menos produtos em nossas mesas. A reduflação está cada vez mais presente no mercado de alimentos e tem sido percebida de várias formas, não somente na redução do volume de produto comercializado, pelo mesmo preço que você está acostumado a pagar.
Nesta semana, discutindo com os amigos Adalberto Trindade e Marco Gonçalves, no Senac, chegamos ao tema dessa nova variante reduflacionária que está ficando muito clara no consumo das famílias, devido à alta dos produtos derivados de leite. Fatores como os custos da ração que alimenta as vacas, da energia elétrica que mantém o funcionamento dos currais e do próprio combustível que transporta esse alimento subiram consideravelmente. Além disso, com a entressafra, o leite está mais escasso e custando muito mais caro. Os preços dispararam recentemente e isso tem sido sentido nos nossos bolsos nos últimos dias. Em alguns casos de determinados fabricantes, o leite UHT, Tetra Pak, Longa Vida, como queira chamar, simplesmente dobrou de preço. E aí que mais uma vez, a indústria láctea revelou um novo modelo de aplicação da reduflação. A mudança na fórmula dos produtos, para deixá-los mais baratos.
Agora, o consumidor está comprando por desatenção, pois são poucos os que leem as informações de rótulos ou caixas, produtos derivados do leite que não são especificamente compostos com leite in natura. É o famoso “parece, mas não é”. Diversos alimentos têm sido modificados na sua composição e não possuem mais leite propriamente dito em seu preparo. O leite foi substituído por “soro de leite”. Isso compromete até mesmo a qualidade do produto e a saúde do consumidor que não se liga em ler os rótulos e fórmulas. O leite agora tem um substituto chamado “bebida láctea” ou “composto lácteo”, que é produzido através do que sobra da preparação de queijos e é adicionada com espessantes e substâncias que dão o mesmo tom, cor e provável sabor de leite, mas que não é leite. O soro de leite era usado para fazer produtos diferenciados, a exemplo de achocolatados, mas agora está diretamente como substituto do leite em si.
O queijo cremoso, requeijão, cream cheese, também está com sua alternativa à venda, a “mistura láctea sabor requeijão” ou “mistura láctea de requeijão e amido”. Manteiga agora tem seu genérico, que é “alimento à base de manteiga e creme vegetal”, uma margarina com gosto de manteiga. O bom e velho doce de leite está no mesmo caminho, com o “doce de soro de leite sabor doce de leite”. Leite condensado, a mesma coisa com a “mistura láctea condensada de leite, de soro de leite e amido”. E o consumidor está passando batido ao comprar esses produtos que supostamente têm preço similar ou valor mais baixo que os produtos aos quais estamos acostumados. É errado? Não, não é.
Entretanto, alimentos desse tipo possuem valor nutricional diferenciado. A exemplo do cálcio, gordura saturada e colesterol, por exemplo, que são mais baixos que o leite in natura. Entretanto, carboidratos e lactose, seguindo o exemplo, são mais altos. Mas devemos considerar que, se os produtos derivados do soro de leite fossem nocivos à saúde, eles não poderiam ser vendidos. Foi uma alternativa para os custos altos da produção. Olho no que está comprando, amigo leitor! Não seja passado para trás por inocência. As informações de cada produto que está no mercado estão nos seus rótulos e lá sua composição principal está detalhada.