Substâncias da casca da mangabeira podem ser usadas em medicamentos
Os compostos encontrados no caule da árvore podem ser usados no tratamento de inflamações e até de tumores; a possibilidade é investigada em uma pesquisa de iniciação científica desenvolvida na Unit

Uma pesquisa de iniciação científica desenvolvida por estudantes de Medicina da Universidade Tiradentes (Unit) investiga a possibilidade de que medicamentos e outros bioprodutos sejam desenvolvidos a partir de substâncias presentes nas cascas do caule da árvore Hancornia speciosa, conhecida como mangabeira, fornecedora da mangaba e bastante presente no litoral do Nordeste brasileiro. A pesquisa, vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Biociências e Saúde (PBS/Unit), acontece desde 2023 e trabalha com a extração e a análise de compostos encontrados na casca do caule da árvore.
Estes compostos, como os terpenos, o lupeol e a lupenona, possuem atividades biológicas que podem ser utilizados no tratamento de inflamações e até mesmo de tumores. “Os bioativos supracitados são frequentemente apontados na literatura associados a diversas atividades biológicas como anti-inflamatória, antioxidante, antitumoral e outras. O avanço da pesquisa pode incentivar a elaboração de bioprodutos com potencial adjuvante para o tratamento de neoplasias malignas (câncer)”, explica a professora-doutora Sônia Oliveira Lima, do PBS/Unit, que é a orientadora da pesquisa.
Segundo ela, a pesquisa surgiu a partir da avaliação do resíduo gerado pelas cascas do caule da mangabeira, que são extraídas tanto para o processo de obtenção do látex quanto por influências ambientais. O objetivo é ampliar a investigação sobre o potencial biológico presente nelas, usando técnicas de extração de compostos bioativos de baixa polaridade. Uma destas técnicas, desenvolvida na pesquisa, envolve o uso de solventes oleosos, como o propano, que geralmente necessitam de extrações mais complexas e processos de purificação. “A partir do processo de extração que desenvolvemos, e das variáveis aplicadas à extração, foi possível obter esses compostos de forma mais concentrada, representando as substâncias de interesse”, detalha a professora Sônia.
Mais pesquisas ainda estão em andamento para atestar o potencial das substâncias da Harconia speciosa. Entre elas, está uma dissertação de mestrado elaborada em parceria com a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que está focada no potencial citotóxico destas substâncias em relação a diferentes linhagens de células tumorais. “Até o momento, os resultados indicam que as cascas da mangabeira podem ser uma fonte promissora para o desenvolvimento de bioprodutos terapêuticos, com potencial para prevenir o estresse oxidativo e atuar como agente anti-inflamatório”, cita Lívia Cardoso Lima, aluna de Medicina da Unit e bolsista de iniciação científica que atuou no projeto.
Outros detalhes do estudo realizado na Unit ainda não podem ser divulgados, pois ela deverá ser submetida ao processo de depósito de patente junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). O trabalho conta com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), do Grupo Interdisciplinar de Pesquisa (GIPESq) e do Núcleo de Estudos em Sistemas Coloidais (Nuesc), ligado ao Instituto de Tecnologia e Pesquisa (ITP). Além da professora Sônia e de Lívia Cardoso, a pesquisa tem a participação do professor Felipe Mendes de Andrade de Carvalho (doutor em saúde e Ambiente pela Unit) e pelos estudantes Guilherme Correa Radmann e Joana Alves Bitencourt (voluntários de iniciação científica).
Outros impactos
Além de apresentar uma nova fonte para a produção de medicamentos e bioprodutos para o tratamento de inflamações e tumores, a pesquisa desenvolvida na Unit pode apontar uma nova possibilidade de exploração para a mangaba. De acordo com a bolsista Lívia, os futuros resultados do estudo vão permitir uma melhor exploração dos recursos da planta, promovendo um uso mais sustentável da espécie, valorizando um recurso natural sub-explorado.
“Sergipe é um dos maiores produtores de mangaba do país. Com isso, os frutos são bastante explorados para o comércio, enquanto as cascas da mangabeira passam a ser descartadas em grande quantidade. Assim, esta é uma ótima oportunidade de estudar os benefícios dessa parte da planta, para que ela possa ser utilizada para fins terapêuticos. Estamos propondo novas possibilidades de uso sustentável da biodiversidade brasileira e reforçando a importância de investimentos em inovação tecnológica para o aproveitamento integral da flora nativa”, aponta a estudante.
“Conforme novas evidências venham surgindo com o avanço das pesquisas, o interesse comercial na obtenção dos bioativos provenientes das cascas do caule da mangabeira, também pode aumentar, gerando novas pesquisas, quiçá, novos empregos. Desta forma, compreendendo o espécime vegetal como potencial fonte de renda e desenvolvimento socioeconômico no estado de Sergipe, buscamos obter os bioativos das cascas da mangabeira a partir de extrações de alta performance para posteriores ensaios biológicos”, completa a professora Sônia Oliveira.