Jackson Barreto e a ditadura do(s) deputado(s)
Política, Etc. & Tal :: Por José Lima Santana
José Lima Santana(*) - jlsantana@bol.com.br
José Lima Santana - Foto: ClickSergipe
Depois de bater-se contra a ditadura militar (1964-1985), o governador Jackson Barreto poderá enfrentar, o que um político interiorano, com dezenas de anos na militância, considera ser a ditadura de um deputado ou de um grupo de deputados. Com todo respeito, há certo exagero na compreensão do velho político. Refere-se ele à fala do deputado estadual Robson Viana (PMDB), de acordo com setores da imprensa, que anunciou que ele e outros deputados não aceitam a pré-candidatura a prefeito de Aracaju, do titular da Secretaria de Estado da Saúde, Zezinho Sobral, que vem fazendo um bom trabalho à frente de uma pasta importante e muito difícil de ser tocada. Enfrentar os graves e múltiplos problemas da Saúde é enfrentar um furacão a cada dia e apagar um incêndio a cada hora. Eu sei o que é isso. Zezinho está enfrentando. E muito bem, apesar de tudo.
Jackson Barreto e os nomes a serem considerados
Disse, ainda, o político interiorano que JB está mais do que certo em analisar possíveis nomes para a disputa à Prefeitura Municipal de Aracaju. E tem toda razão. Nomes devem ser postos para avaliação, tanto pela classe política, quanto pelo eleitorado.
Aí estão postos os nomes de Edivaldo Nogueira, Valadares Filho, Ana Lúcia (pelo bloco contrário ao atual comando da PMA). E outros nomes devem ser postos. Garibalde Mendonça, Zezinho Guimarães e o próprio Robson Viana. Ora, por que não também outros nomes mais, como é o caso de Zezinho Sobral?
E por que a insurgência de Robson Viana contra Zezinho Sobral? Será que Zezinho está com “sarna política”? Será que ele tem uma “coceira política” pegajosa? Ora, bolas! Zezinho tem se mostrado um bom executivo. É do PMDB. Ele é ligado a Jackson Barreto, como Robson Viana também o é. Ou era? Não creio que o deputado esteja saltando fora do barco de JB. Isso não! Outros devem ser os seus motivos para essa “rebeldia” contra uma possível pré-candidatura de Zezinho Sobral.
Robson Viana quer apoiar João Alves?
Pode até ser. Todavia, o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Luciano Bispo, macaco velho nos andares políticos e administrativos, considera, e o faz muito bem, a incompatibilidade política entre o bloco liderado pelo governador Jackson Barreto e o prefeito da capital, João Alves Filho. Luciano Bispo considera acertadamente que João Alves deverá ser candidato à reeleição com o apoio do bloco liderado pelos irmãos Amorim e, como se passou a dizer, ultimamente, ao menos por um segmento da imprensa sergipana, pelo deputado federal André Moura. Desse bloco, dizem, deverá sair o pré-candidato a vice-prefeito, ao lado de João, embora haja um ensaio para levar o nome do senador Amorim à pré-candidatura a prefeito. Não creio muito nisso, embora em política aconteçam coisas que até o diabo duvida. Se isso vier a acontecer, pode mudar o ritmo da campanha, mas mudará o ritmo da eleição em si.
Uma ligeira observação
Aliás, permitam-me os leitores fazer uma ligeira observação: antigamente, dizia-se que o líder inconteste do bloco amorinista era o empresário Edivan Amorim. Depois, passou-se a dizer que a liderança do bloco era dos irmãos Edivan e Eduardo, o senador. Contudo, após a derrota de Eduardo Amorim, na eleição governamental do ano passado, quando JB saiu-se vitorioso de forma alargada, setores da imprensa passaram a imputar a liderança do grupo amorinista ao senador Eduardo e ao deputado federal André Moura. É, deveras, uma boa estratégia para tentar “esconder” o empresário Edivan Amorim da condução do grupo político, nos bastidores. Sem demérito a ninguém, Edivan ainda é cultuado como um bom estrategista político. É o que pensam pessoas ligadas ao grupo amorinista.
Junção de Jackson e João?
Voltando ao tema do artigo, não creio que uma longínqua possibilidade da junção de Jackson e João venha a ser concretizada, como parece supor o jovem deputado Robson Viana. À boca graúda, fala-se pela cidade que o temor de Robson seria perder o patrocínio da Prefeitura de Aracaju ao “Bloco Rasgadinho”, o maior fenômeno do “carnaval de Rua” de Aracaju, nos últimos anos, e que tem o deputado Viana e seus irmãos como os seus maiores mentores. Palmas para eles! Falam também por aí em possíveis cargos em comissão que o deputado teria abocanhado na PMA. Não sei se nada disso procede. As pessoas, às vezes, falam demais. De qualquer forma, na vida política, um lado é um lado e outro lado é outro lado. Água e óleo.
A independência de Robson Viana e a fala oficial do PMDB
Deve-se supor que em qualquer agremiação, política ou não, as pessoas tenham o direito de expor suas ideias. Tenham o direito de ser independentes. É o direito que tem o deputado Robson Viana. É inegável. Ele e os outros peemedebistas. Porém, é preciso avaliar que, quando se trata de um grupo que tem objetivos comuns, haja quem possa falar oficialmente em nome do grupo. No caso do PMDB, não deve ser Robson Viana. Ele tem o direito de dizer o que pensa, mas o que ele diz não representa a voz oficial do PMDB, nem do governador Jackson Barreto. Por outro lado, um grupo, se verdadeiramente for um grupo, deve pensar e analisar as situações de forma coletiva, apesar da independência de cada componente.
E os demais deputados peemedebistas?
Quais são os outros deputados peemedebistas que não apoiariam uma possível pré-candidatura de Zezinho Sobral? Eles são mudos? Não teriam a coragem de vir a público, como Robson Viana o fez? Seria Robson o único corajoso do bloco “rebelde”? Seria bom que eles mostrassem a cara. Que dissessem o que pensam. Que não tivessem medo de contrariar o governador Jackson Barreto. Afinal, é bom que se saiba logo com quem se anda, com quem se pode contar. Disso JB precisa saber.
A lucidez de Luciano Bispo
Luciano Bispo não crê que Jackson e João possam se unir, em 2016 ou 2018. Contrários são os interesses dos dois líderes políticos e dos grupos que eles representam. Para o líder itabaianense e presidente do Poder Legislativo estadual, os interesses políticos do prefeito aracajuano marcham no sentido contrário aos interesses políticos do governador e do seu agrupamento político. Ocasionais interesses individuais não devem se antepor aos interesses gerais de cada agrupamento. E que esses interesses possam atender aos interesses maiores do povo sergipano. Não custa lembrar que Luciano é um ouvinte atento de JB. E vice-versa.
Jackson ainda no “estaleiro”
Ainda no “estaleiro”, convalescendo da cirurgia à qual se submetera, e cuja convalescência é, sim, demorada, Jackson Barreto analisa o que dizem e o que fazem. Deve chatear-se com algumas posições e situações. Mas, JB é mais do que vivido na seara política. E só berra quando é preciso. Como se diz no interior, “bom cabrito não berra”. Pelo menos, não berra à toa, nem na hora errada.
Uma coisa é certa: ninguém meta a mão na relação política entre Jackson Barreto e Robson Viana. Ninguém aposte em um rompimento, ou mesmo esfriamento. Eles são amigos. São correligionários.
(*) Adaptado do artigo “Jackson Barreto e a ditadura do(s) deputado(s)”, publicado no Jornal da Cidade, edição de 05 de novembro de 2015. Autorizado pelo autor.
As notas e comentários publicadas nesta coluna são de responsabilidade integral do seu autor e não representam necessariamente a opinião deste site.
(*) Advogado. Mestre em Direito. Professor do Curso de Direito da UFS. Membro da Academia Sergipana de Letras e do IHGSE.
jlsantana@bol.com.br