Aracaju (SE), 21 de novembro de 2024
POR: Gabriel Damásio
Fonte: Asscom Unit
Em: 24/10/2024 às 08:31
Pub.: 24 de outubro de 2024

Canoagem ajuda a recuperar mulheres que enfrentaram o câncer de mama

Equipe formada por mulheres que passaram pelo tratamento representa Sergipe em uma competição nacional; colaboradora da Unit conta como o esporte ajudou superar dificuldades e recuperar sua autoestima

As integrantes da equipe de canoagem da ONG Mulheres de Peito, que participam de uma competição nacional em Brasília - Foto: Divulgação

As integrantes da equipe de canoagem da ONG Mulheres de Peito, que participam de uma competição nacional em Brasília - Foto: Divulgação

Uma equipe de canoagem da ONG Mulheres de Peito está representando o estado de Sergipe no 2º Festival Nacional de Dragon Boat, competição de canoagem que reúne mulheres que fizeram tratamentos contra a doença e praticam o esporte como parte do processo de recuperação corporal. O evento, que acontece em Brasília (DF), começa nesta quinta-feira, 24, e vai até o domingo, 27. O time sergipano composto por 22 mulheres, embarcou para a capital federal na noite da segunda-feira, 21. 

A equipe da ONG surgiu a partir de um projeto apresentado em 2016 por duas alunas do curso de Educação Física da Universidade Tiradentes (Unit). Elas propuseram a inclusão do esporte nas atividades de assistência às mulheres assistidas, com base em um método de reabilitação criado em 1996 pelo médico canadense Donald McKenzie. Ele adota a prática da canoagem e dos exercícios físicos relacionados para recuperar a musculatura e prevenir o surgimento de linfedemas (acúmulo de líquidos) após as cirurgias de mastectomia, que é a retirada parcial ou total das mamas e de linfonodos presentes nas axilas. 

A ideia foi sendo aprimorada e começou a ser posta em prática em 2019, quando as primeiras aulas de canoagem foram ministradas por dois voluntários. Desde então, a equipe se reúne duas vezes por semana para realizar seus treinos, em um atracadouro no Parque dos Cajueiros, às margens do Rio Poxim, em Aracaju. Hoje, a Mulheres de Peito é uma das mais de 240 equipes filiadas à IBCPC (International Breast Cancer Paddlers Comission), entidade internacional que coordena a prática do esporte por mulheres sobreviventes de câncer de mama em 30 países. 

Para além da recuperação física, a atividade contribui para recuperar e fortalecer a auto-estima e o espírito de equipe, já que os percursos são realizados no chamado dragon boat (“barco do dragão”), um tipo de canoa chinesa que agrupa mais de 20 remadoras.

História de superação 

Uma das integrantes da equipe Mulheres de Peito é Gleide Medeiros, 59 anos, atendente da Biblioteca Central Jacinto Uchôa de Mendonça, na Unit. Ela começou a prática do esporte em 2020, um ano após ser diagnosticada com um câncer de mama. Desde então, ela encontra na atividade uma de suas maiores fontes de força e motivação para superar os percalços do tratamento. 

A própria Gleide conta que seguiu a recomendação de uma amiga de infância, que também estava em tratamento. “Dois anos se passaram e eu tive câncer de mama também. Aí ela me disse que estava fazendo esse esporte e me chamou para participar. Fui, fiquei e gostei demais, porque é um esporte de superação. Quando a gente faz a mastectomia, perde um pouco a mobilidade do braço, que incha e incomoda. A prática de canoagem ajuda muito na recuperação”, detalha. 

Para a colaboradora da Unit, fazer parte da equipe também lhe ajudou a recuperar a autoestima e a reagir contra as dificuldades impostas pelo tratamento. Além das várias sessões de quimioterapia e radioterapia, ela passou pela mastectomia e chegou a enfrentar uma recidiva (retorno do tumor) em 2022, mas conseguiu se recuperar e está agora na fase de remissão, que é a diminuição máxima dos sintomas e dos sinais de tumores, até a cura completa.

“Eu mesmo só pensei em coisa ruim [quando recebeu o diagnóstico], mas não no decorrer do tratamento, pois vi que eu tinha que reagir. Eu tenho uma filha e uma família que me apoiou muito. Eu fui me fortalecendo a cada dia e tomei posse disso para mim”, relembra Gleide, citando ainda que contou na caminhada com o apoio fundamental da família, do marido e da filha de 28 anos, bem como dos colegas e dos gestores da Unit, onde trabalha há 29 anos. 

Prestes a completar 60 anos, em 21 de dezembro, ela se emociona a cada vez que se junta às companheiras de equipe para singrar as águas e superar não apenas os percursos, mas também a própria doença. “É uma sensação de liberdade é de dizer: ‘Obrigada, Deus! Eu venci e estou viva!’ Vejo também o brilho no olhar das minhas amigas, essa superação delas, aquela sensação de liberdade e de vitória… É muito bom. Eu não sei nem descrever, mas é emocionante demais”, tenta dizer Gleide, com a voz embargada de emoção, mas com a certeza de vai vencer muitas outras marés pela frente.


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