Alimentação hospitalar acelera a recuperação e favorece o tratamento
Planejamento nutricional adequado diminui riscos, encurta a permanência no hospital e fortalece a resposta clínica e cirúrgica

Quando pensamos em cuidados de saúde dentro de um hospital, é comum lembrar de medicamentos, procedimentos cirúrgicos e tecnologias avançadas. Entretanto, um fator de grande importância, mas que costuma ser menos percebido, é a alimentação. Mais do que garantir energia, a nutrição hospitalar se firmou como uma estratégia clínica indispensável, sendo um dos alicerces para o êxito do tratamento e a plena recuperação dos pacientes.
O acompanhamento da dieta vai além da prevenção da perda de peso: ele busca otimizar a resposta do organismo. De acordo com Carla Souza, nutricionista hospitalar e docente da Universidade Tiradentes (Unit), uma intervenção nutricional adequada contribui diretamente para a preservação ou recuperação da massa muscular, fundamental para evitar sarcopenia e declínio funcional.
Ela também ressalta que um cardápio bem estruturado favorece a cicatrização e fortalece o sistema imunológico, reduzindo infecções adquiridas no ambiente hospitalar. “Esse cuidado influencia diretamente no tratamento, já que melhora a resposta a procedimentos médicos e cirúrgicos, como quimioterapia e pós-operatório, reduzindo complicações, tempo de internação e elevando a taxa de recuperação”, explica.
Desnutrição: um desafio dentro dos hospitais
Apesar da relevância do tema, a desnutrição ainda é uma realidade preocupante entre internados. Pesquisas nacionais e internacionais revelam que entre 30% e 50% dos pacientes apresentam algum grau de déficit nutricional. Esse cenário, segundo Carla, está associado a várias complicações. “Entre elas estão o maior risco de infecção, atraso na cicatrização, aumento no tempo de internação, mais reinternações e maior mortalidade. Em muitos casos, há ainda perda funcional, o que compromete a autonomia após a alta e dificulta o processo de reabilitação”, destaca.
Da refeição ao protocolo
A dieta oral, popularmente chamada de “comida de hospital”, não se resume à oferta calórica. Carla Souza enfatiza que ela é parte integrante do tratamento, garantindo macro e micronutrientes essenciais e, em muitos casos, evitando intervenções invasivas, como nutrição enteral ou parenteral. “Refeições saborosas e culturalmente adequadas melhoram a aceitação do paciente, favorecem a recuperação funcional e ajudam a reduzir complicações metabólicas”, pontua.
Para que essa estratégia seja efetiva, a avaliação nutricional precisa ser rápida e padronizada. A especialista reforça que esse processo deve ocorrer nas primeiras 24 a 48 horas de internação, para identificar riscos e direcionar condutas. “O uso de protocolos reconhecidos, como o NRS-2002 ou as recomendações ASPEN/ESPEN, garante uniformidade entre a equipe e permite iniciar a terapia nutricional de forma precoce, reduzindo variações na abordagem e melhorando os resultados clínicos”, acrescenta.
Gastronomia hospitalar e acolhimento ao paciente
Em situações críticas, como em UTIs, o controle nutricional deve ser ainda mais rigoroso. Nessas unidades, são avaliados tanto indicadores clínicos (como evolução do quadro e função intestinal) quanto exames laboratoriais (eletrólitos, glicemia). Reavaliações diárias permitem ajustar a oferta de calorias, proteínas e líquidos conforme a necessidade.
Além da parte técnica, existe também a dimensão afetiva da alimentação. A chamada “gastronomia hospitalar” vem se fortalecendo exatamente pelo impacto na adesão do paciente às refeições. “Pratos visualmente agradáveis reduzem desperdícios, trazem conforto emocional e garantem o consumo adequado de nutrientes. Esse cuidado humaniza a assistência e torna a experiência menos difícil”, afirma Carla.
Quando aplicadas de forma integrada, essas medidas beneficiam tanto os pacientes quanto a instituição de saúde. “Um bom acompanhamento nutricional previne a desnutrição, reduz complicações, melhora a gestão de recursos e favorece a recuperação. Ou seja, representa ganhos para o indivíduo e também para o sistema hospitalar”, finaliza a nutricionista.