Conselho consultivo não substitui governança corporativa; entenda
Conselho consultivo e governança corporativa se complementam e ambos em suas particularidades são essenciais para que empresas, especialmente as familiares possam alcançar a longevidade no mercado, um grande desafio para este segmento.
Pesquisa mostrou que a falta de governança corporativa e equipes despreparadas estão entre os principais obstáculos que dificultam a implementação de inovação nas empresas. Para 43,8% dos participantes da análise, a falta de governança é o principal obstáculo, já para 36,7%, a falta de treinamento adequado nas equipes.
Com ampla experiência no ambiente corporativo, atuando como Advisor à frente da MORCONE, auxiliando e orientando empresas, especialmente empresas familiares brasileiras a se estruturarem para chegar aos 100 anos, Carlos Moreira aborda sobre a complementaridade do conselho consultivo e governança e sua importância, sobretudo, à empresa familiar brasileira.
Principais desafios das empresas familiares brasileiras
As empresas familiares representam 90% do mercado brasileiro, o que significa que, em momentos de crise generalizada no setor, a economia do país sofre impactos significativos.
Recorrentemente, como Advisor, atuando principalmente no segmento de empresas familiares no Brasil, abordo sobre os desafios em empresas desse segmento, principalmente quando se trata de atravessar as gerações de maneira sustentável em um mercado marcado por grandes mudanças em curto espaço de tempo.
Dentre os obstáculos mais comuns às empresas familiares brasileiras, estão:
Separar questões profissionais de questões pessoais
Em uma empresa familiar há a característica do fator emocional entre as partes envolvidas.
O relacionamento próximo entre pais, filhos e demais parentes, quando não gerido da melhor maneira, costuma gerar, ao longo dos anos, conflitos, principalmente de interesse.
É fundamental delimitar a relação pessoal da profissional, sendo o conselho consultivo e governança indispensáveis para a profissionalização dessa modalidade de negócios.
Plano de sucessão
A maioria das empresas familiares (75%) não sobrevive após a sucessão e, em grande parte dos casos, isso decorre da centralização de poder sobre o fundador da empresa e falta de preparo do próximo gestor.
O plano de sucessão deve ser pensado desde o início da empresa e, por um pensamento comum de que se trata de um momento futuro ou de que há muito tempo pela frente, muitas empresas familiares ignoram a importância deste instrumento essencial para a sua longevidade.
Controle financeiro
Este é um problema de toda empresa, mas na empresa familiar há o acréscimo da dificuldade em separar o que é o dinheiro da empresa do que é o patrimônio da família.
A distinção do que é salário ou pró-labore de cada um dos envolvidos é um dos principais problemas enfrentados. Questões ligadas à crença também estão envolvidas, como pensar no ganho imediato sem considerar a importância do reinvestimento para construir um patrimônio cada vez mais sólido no futuro.
Planejar o crescimento
É comum, em uma reunião inicial com sócios e familiares na empresa, ouvir de cada um objetivos de futuro distintos, ou seja, falta alinhamento entre as partes, ou o que já mencionei acima como conflitos de interesses.
A empresa precisa estar alinhada em uma mesma visão e ter objetivos claros de longo prazo, por isso, o conselho consultivo e governança é o caminho mais seguro para o alinhamento da comunicação entre os pares, para a gestão dos relacionamentos familiares e, claro, para planejar o crescimento sustentável ao longo dos anos.
Falta de definição hierárquica
Especificamente nas empresas familiares, é comum que a hierarquia familiar seja confundida com a hierarquia profissional e a ausência de delimitação de papéis claros entre os membros pode resultar em dificuldades na tomada de decisões estratégicas do negócio.
A definição de papéis na empresa familiar deve ser realizada sem vínculo com a família, por isso, a governança corporativa sólida é essencial para evitar este problema comum.
Comunicação alinhada e eficiente
Como já mencionado, conflitos de interesse são frequentes em empresas familiares, sendo assim, a comunicação alinhada se torna uma ferramenta indispensável para mediar os relacionamentos e alinhar os interesses.
Muitas empresas familiares costumam optar pela implantação do Conselho Familiar, com a finalidade de mediar especificamente a comunicação dos membros do negócio. Estabelecer reuniões periódicas, utilizar ferramentas como Trello, Slack, entre outras, é importante para que o objetivo do alinhamento da comunicação não se perca.
Conselho consultivo substitui a governança e vice-versa?
Recentemente me deparei com a postagem Conselheiro sem Governança: Revolução ou Ilusão?, do mestre em Administração, Cícero Rocha e idealizador do Instituto Empresariar. Nela, o especialista levanta questionamentos pertinentes como: O conselheiro pode ser mais importante do que a própria governança?
Recorrentemente falo sobre o conselho consultivo como um meio para a implantação da governança corporativa no negócio e como transição para o conselho de administração, embora ambos possam coexistir na empresa, cada qual em sua função, somando forças para uma empresa sustentável no mercado.
O conselho não é um órgão que substitui a governança corporativa, embora, em muitos casos, seja o primeiro contato do negócio com uma estrutura que compõem a governança.
Sempre trago em meu perfil a reflexão do conselho como um facilitador em casos de empresas que ainda não possuem uma estrutura consolidada de governança corporativa.
Mas mais do que isso, o conselho consultivo e governança quando andam em equilíbrio na empresa favorecem não apenas seu crescimento de longo prazo, a almejada longevidade, mas contribuem diretamente para a melhor “orquestração” de todas as esferas da empresa, de maneira que caminhem juntas e alinhadas para o alcance do objetivo maior.
Em outro momento, Rocha destaca no texto: Pense bem: o que vem primeiro — o conselho ou a governança? Não há respostas fáceis aqui — ele acrescenta.
O conselho consultivo em seu exercício genuíno é capaz de levar a organização ao centro de seu propósito, a refletir sobre sua atuação, posicionamentos, decisões e, claro, sobre quaisquer pontos cegos que não esteja conseguindo visualizar.
Pode ser um facilitador da governança corporativa estruturada ou, em casos em que a empresa já tenha uma governança, pode ajudar na potencialização de suas práticas de maneira que estejam incorporadas desde a cultura até o relacionamento com os públicos de interesse.
Estamos desenhando o futuro com as nossas decisões atuais, qualquer escolha impactará daqui a dez, vinte anos e por que não investir em mecanismos que darão à organização maior confiança para navegar em quaisquer cenários, por mais desafiadores que sejam?
O conselho não substitui a governança, assume o papel de facilitador para a prática de seus pilares e a governança também não substitui o papel do conselho de apontar os melhores direcionamentos e de ser, muitas vezes, o “dedo na ferida” necessário para que a empresa não estagne, mas continue crescendo, não apenas em lucro, mas em valor no mercado.
Sua empresa ainda não tem uma governança sólida? Implemente um conselho consultivo para o pontapé inicial nesse processo. Sua empresa já tem governança? Tenha um conselho consultivo para torná-la ainda mais fortalecida e dinâmica apontando os melhores caminhos.
Carlos Moreira - Há mais de 37 anos atuando em diversas empresas nacionais e multinacionais como Manager, CEO (Diretor Presidente), CFO (Diretor Financeiro e Controladoria), CCO (Diretor Comercial e de Marketing). e Conselheiro Administrativo.