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Aracaju (SE), 27 de dezembro de 2024
POR: José Lima Santana - jlsantana@bol.com.br
Fonte: José Lima Santana
Pub.: 29 de junho de 2016

Clérigos pedófilos... Até quando? :: Por José Lima Santana

José Lima Santana(*)  jlsantana@bol.com.br

Jos Lima Santana (Fonte: Arquivo pessoal)

Jos Lima Santana (Fonte: Arquivo pessoal)

Pedófilos são descobertos aos montes, pode-se dizer, todos os dias. A começar dentro de muitos lares. Em escolas. Enfim, em quaisquer lugares. Em Igrejas, também. E não deve ser uma exclusividade de clérigos da Igreja Católica. Todavia, no caso desta, a situação é bombástica quando se descobre mais um caso. Não poderia ser diferente. Sobre o tema, eu já escrevi ao menos três artigos, intitulados “Chega de Pedofilia”, “Direito à Vida, à Dignidade etc.” e “O Papa Francisco contra a Pedofilia”, dois deles publicados no JORNAL DA CIDADE e o terceiro no site noticioso CLICKSERGIPE.
Agora, como Diácono, desde o último dia 10, ou seja, dentro de uma das divisões do clero da Igreja Católica, na qual eu vinha trabalhando, como leigo, em funções diversas há quarenta anos, e a caminho de outra divisão clerical, com a graça de Deus, não poderia calar diante de dois fatos. Um deles, inusitado, extraordinário e que se deve ao papa Francisco, este homem que em tão boa hora foi escolhido para comandar os destinos do catolicismo universal. Eu sei que há vozes soturnas que se levantam contra o Bispo de Roma. Não o compreendem. Não assimilam o seu modo de ser pastor por excelência. Não prezam pela sua vida simples, como o próprio Jesus Cristo o fora. Ainda há, na Igreja Católica, os amantes do fausto, da ostentação. Ainda há cruzes a serem tomadas. A serem vividas.
O primeiro fato refere-se ao documento papal, publicado em forma de “motu proprio”, no último dia 4, sob o título de “Como uma mãe amorosa”. Nele, o sumo pontífice toma a decisão mais do que correta de punir os bispos que negligenciarem nos casos de pedofilia praticados por clérigos sob a sua jurisdição. Há muito, a Igreja vinha dando sinais de combater com vigor esses casos aberrantes. Já Bento XVI teve esse cuidado, mais especificamente nos casos que vieram a público, na Irlanda. Francisco, desde que assumiu a Cadeira de Pedro, vem incansavelmente combatendo as mazelas, não da Igreja, mas, sim, de alguns de seus membros, inclusive membros destacados, sob os mais diversos aspectos. E um desses aspectos mazelentos é, exatamente, a pedofilia. Mais uma vez, o papa que os cardeais foram buscar “no fim do mundo”, como ele o disse, dá uma demonstração cabal de que os pedófilos dentro da Igreja não terão mais acolhimento. Não é para menos.
Os clérigos pedófilos desonram a profissão de fé que fizeram. Fazem cair por terra de forma vergonhosa o voto de castidade. Maculam a Igreja de Jesus Cristo. Desapontam Aquele que veio ao mundo para nos ensinar a viver no amor. Pedófilos não amam. São doentes. Não podem compreender a chama vivaz do AMOR de Jesus. Ardem no inferno de suas próprias consciências doentias. Merecem compaixão? Sim. Merecem punição firme? Sobretudo isso.
Disse Francisco: “Com a presente, quero precisar que entre estas chamadas ‘causas graves’ a negligência dos bispos no exercício de suas funções, em particular no que diz respeito aos casos de abusos sexuais contra menores e adultos vulneráveis”. A partir de agora será assim. Os bispos culpados de “negligência no exercício de suas funções” ante os casos de “abusos sexuais contra menores” poderão ser destituídos, de acordo com esse novo decreto que o papa Francisco divulgou no sábado, dia 4, e que foi incorporado ao direito canônico. O direito canônico já prevê a destituição do ofício eclesiástico por “causas graves”, como destacou o papa.
O papa também anunciou a criação de um colégio de juristas que o auxiliarão antes de pronunciar a destituição de um bispo, como afirma um comunicado divulgado pelo porta-voz do Vaticano, o padre Federico Lombardi.
Na Carta Apostólica, o papa afirma que a Igreja “ama todos os seus filhos, mas cuida e protege com especial afeto dos mais frágeis e sem defesa”. O Papa acrescenta que seus pastores, e, sobretudo, seus bispos, devem “mostrar uma diligência especial na proteção dos mais frágeis”.
Francisco pediu em várias ocasiões a punição severa dos culpados de abusos sexuais contra menores e tolerância zero com esta “tragédia”, que se abateu sobre a Igreja em face da ação nefasta de alguns que denigrem todo o clero. Isso se tornou insuportável. O joio não deve ter mais lugar junto ao trigo. Não deve ter. Ele afirmou diversas vezes que os bispos que protegem pedófilos deveriam renunciar. Criou no Vaticano uma instância judicial para julgar estas pessoas.
Desde 2001 o Vaticano emitiu instruções firmes às igrejas de todo o mundo, como a colaboração automática com a justiça e a suspensão dos padres acusados, mas as associações de vítimas consideram que a conspiração do silêncio continua sendo tolerada em algumas esferas mais elevadas do clero. É isso que o papa quer ver acabado. Com razão.
O segundo fato é mais uma denúncia de caso de pedofilia ocorrido no Brasil, em Minas Gerais, envolvendo um padre e um menor portador de retardo mental moderado de 15 anos. O padre nega a acusação que pesa contra si. O caso está sendo apurado como deve na esfera civil e na esfera eclesiástica. Aguardemos o desfecho. Nada de julgamento antecipado. De condenação fora do tempo e do contexto. Todavia, que tudo seja apurado, nas duas esferas, como tem que ser. Acobertamentos? Aqui ou alhures, que não aconteçam mais.
Na edição da revista VEJA de 22 de junho, página 26, um leitor de São Paulo,  escreveu: “A pedofilia é um crime ignominioso e inaceitável em qualquer circunstância, porém devemos separar a histeria anticatólica da verdade criminal. Para ilustrar este simples raciocínio, um dado interessante: na Alemanha, por exemplo, foi comprovado que houve, desde 1995, 210.000 denúncias de abuso de menores. Dessas 210.000, 300 envolveram de alguma forma padres católicos. Ou seja, menos de 0,2%. Evidentemente, um único caso que seja de pedofilia na Igreja é algo nefasto. O problema é que se está procurando partir de casos isolados para engrossar uma campanha de descrédito e de infâmia contra a Igreja Católica e seus dignitários, tornando mais profundo o difuso anticlericalismo ocidental. A maioria dos casos de pedofilia se dá dentro de casa. E o que falar daqueles que ocorrem em outras religiões ou seitas? Ninguém se pronuncia?”.
Bem. Sabemos que há uma onda de anticlericalismo. Os dados que o leitor apresenta devem ser verdadeiros. Porém, como ele mesmo diz um só caso de pedofilia praticado por um clérigo é uma abominação. Inaceitável. Deve ser combatido com o rigor necessário. O papa Francisco tem razão ao apresentar o documento ora em comento. A luta para limpar a Igreja deve ser diuturna. O trigo deve ver-se livre do joio para todo o sempre. O trigo é amor. O joio é descaramento, é o antiamor, nos casos de ocorrência de pedofilia. Que a Igreja saiba agir nos casos concretos, devidamente comprovados.
Uma leitora da revista citada diz que foi abusada dentro de casa pelo amigo do irmão, quando ela tinha 5 anos. E na página 63 da mesma revista uma senhora de 56 anos, de Belém do Pará, mãe e avó, relata como foi abusada pelo próprio pai desde pequenininha até que, aos 15 anos, os irmãos expulsaram o pai de casa por conta do que ele fazia com a filha. Tudo isso é muito doloroso.
Voltando à Igreja: clérigos pedófilos... Até quando eles agirão de forma criminosa, para nos envergonhar?

 

(*) DIÁCONO. ADVOGADO. PROFESSOR DA UFS. MEMBRO DA ASL, DA ASLJ E DO IHGSE.

Publicado no Jornal da Cidade, edição de 26 de junho de 2016. Publicação neste site autorizada pelo autor.

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